Após dois anos, o Cerveja com Dados volta a Recife com discussões quentes no mundo dos dados. O evento aconteceu no dia 05/04 (sexta-feira) no Mal Dita Pub, no Recife Antigo, reunindo cerca de 50 pessoas para pensar nos temas propostos por cada um dos 4 palestrantes convidados. A organização foi da Escola de Dados, em parceria com a comunidade local de tecnologia PyLadies Recife.
Começando as discussões, Karlos Bung, membro da Comissão de Privacidade e Proteção de Dados da OAB-PE e da Comissão de Ética da Controladoria do Estado de PE, falou sobre a origem dos direitos de proteção de dados pessoais. De maneira descontraída e lúdica, ele apontou como uma fotografia pode violar a lei de dados pessoais. A partir de um artigo de 1850, ele também mostrou que a discussão sobre o assunto não é algo recente, essa preocupação já existia, ainda que com outros nomes. Junto ao público, ele desenvolveu os dois pilares que compõem a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD): privacidade e autodeterminação informativa.
Marcos Cesar Pereira, que atua na área de privacidade e vigilância com ênfase em criptografia, no Instituto de Pesquisa em Direito e Tecnologia do Recife (IP.rec), fez uma apresentação intitulada “O estado Hacker e os mercadores da insegurança”. Nela, abordou os softwares do governo que são utilizados para monitorar a sociedade. Um dos casos citados foi o famoso Pegasus, que esteve presente em cerca de 45 países e no Brasil repercutiu quando em 2021 a tentativa de aquisição por parte do governo federal foi denunciada. Marcos também comentou como desenvolveu a pesquisa desses casos utilizando a Lei de Acesso à Informação (LAI) e buscas nos portais de transparência. É possível saber mais sobre o assunto na publicação “Mercadores de Insegurança: conjuntura e riscos do hacking governamental no Brasil“.
Ana Maria França, coordenadora do núcleo Pernambuco do Instituto Fogo Cruzado, falou sobre dados e violência armada, propondo uma discussão sobre os alvos dos tiroteios no Grande Recife. Com base no relatório dos dados coletados na plataforma Fogo Cruzado em 2023, ela apontou o número alarmante de adolescentes mortos no estado, que pode ser comparado com dados gerais de mortos em intervenções policiais nas favelas do Rio de Janeiro. Ana comentou também da importância da coleta dessas informações, que usa a metodologia da geração cidadã de dados. “São dados tão oficiais quanto os do governo, que por sua vez apenas apresenta os dados sumarizados. Na plataforma, é possível coletar mais indicadores que são muito importantes para entender a eficácia de políticas públicas de segurança, por exemplo”, explicou. Saiba mais sobre o assunto no Relatório Anual de 2023 do Fogo Cruzado.
Por fim, André Lucas Fernandes, fundador do IP.rec, iniciou sua fala com uma pergunta: o uso de IA nas eleições está proibido? Depende. Durante a palestra, ele apontou o potencial do uso de IA generativa para propagar desinformação e indicou o quanto isso pode ser danoso no processo eleitoral se não houver uma regulação que consiga inibir estes riscos. “Boa parte da população não sabe lidar ainda com a diferenciação do que é verdadeiro e do que não é”, concluiu, com preocupação. Entenda melhor a discussão lendo o artigo “Deepfakes nas Eleições: o retorno?“.
Após as discussões, os participantes continuaram os debates nas mesas com seus assuntos de interesse, já sinalizando a importância de um próximo encontro. E você, tem interesse em organizar um Cerveja com Dados em sua cidade? Entenda como o evento é produzido e preencha nosso formulário de interesse.