Kit de Ferramentas para Defensores da Terra

SOBRE O WORKSHOP

No segundo dia de Coda Amazônia, o desenvolvedor de sistemas Luandro Vieira apresentou no workshop “Kit de ferramentas para defensores da terra” a iniciativa da organização internacional Digital Democracy, com a criação de mapas digitais em territórios indígenas e comunidades tradicionais. 

Como membro da equipe da Digital Democracy, Luandro explicou que a ideia do projeto “kit de ferramentas” é atuar junto àqueles que estão na linha de frente na proteção das florestas, para ajudá-los no monitoramento dos seus territórios. O projeto, que atende principalmente áreas indígenas, tem o objetivo de se expandir para outros lugares da Amazônia. 

Luandro comentou que o foco do projeto é, sobretudo, a formação com as comunidades, para que elas possam usar as ferramentas tecnológicas para a fim de proteger o meio ambiente. Com um time de aproximadamente 16 pessoas, um dos objetivos principais da organização é a criação de ferramentas digitais que atendam efetivamente às necessidades das comunidades e, por isso, o trabalho passa por um processo de cocriação, em que o primeiro passo é ouvir suas necessidades e desafios.

 

 

 “A gente tenta criar redes e compartilhar experiências junto com as comunidades. Acreditamos que a criação de mapas auxilia no processo de regulamentação fundiária, para os povos indígenas terem o seu direito reconhecido. A gente vai nas comunidades, dá o monitoramento, treinamento e o suporte remoto. Eu faço parte desse time agora que dá suporte, a gente tenta ouvir o máximo da comunidade nesse processo de cocriação, e repassamos o nosso aprendizado para a equipe de desenvolvimento das ferramentas”, explicou Luandro. 

Ao abordar alguns exemplos dos trabalhos já realizados, o desenvolvedor mencionou a experiência com o povo indigena Woarani, no Equador, e que proporcionou a criação do aplicativo Mapeo. O Mapeo tem uma interface intuitiva, que permite que os defensores da terra de comunidades tradicionais documentem e categorizem costumes locais ou evidências de desastres ambientais em seus territórios, com a possibilidade de inclusão de fotos, testemunhos e geolocalizações em seus idiomas tradicionais. 

Ele também explicou que no Equador existem leis avançadas em relação aos direitos dos povos indígenas. No entanto, em uma área extensa, que pertence ao Estado, ondeos indígenas Woarani habitavam, as terras estavam sendo loteadas para venda a grandes empresas petroleiras. Os indígenas, então, começaram um trabalho de mapear as atividades que desenvolviam na terra. No primeiro momento, construíram um mapa no papel, por meio de um processo analógico, e foram mapeando o próprio território deles. 

 Depois desse processo, o Mapeo foi desenvolvido para computador e celular. Foram criados ícones de acordo com as suas necessidades, a partir do mapeamento de milhares de pontos, como trilhas, lugares sagrados, áreas de plantação e reservas ambientais. O aplicativo deu a possibilidade de navegação com a língua nativa dos Woarani, o que foi mais acessível do que o espanhol. “Isso é bem poderoso, sabe, fazer uma ferramenta que é na sua língua. Foi um trabalho lindo de cartografia social”, comentou Luandro.

 Além disso, os Woarani também fizeram manifestações na rua, e com  auxílio da documentação do seu território, por meio do Mapeo, ganharam na justiça o direito à terra, impedindo a  invasão das mineradoras. O mapa desenvolvido por eles está disponível na internet nesta página.

 

 

Na segunda parte da oficina, Luandro explicou a importância de aplicativos desenvolvidos especificamente para as comunidades, que sejam intuitivos e funcionem com códigos abertos. Esse processo nos tira da dependência de utilizar as ferramentas de grandes empresas de comunicação, as big techs, como as ferramentas do Google. Ele exemplificou, de forma prática, como acontece o processo do envio de uma simples mensagem, por meio do WhatsApp, e como os nossos dados ficam expostos de maneira indevida. Os participantes da atividade “atuaram” como roteador, modem e cabos de transmissão para observarem como a mensagem chega ao destinatário. Essa dinâmica também é feita nas comunidades. 

Depois, os participantes também foram convidados a utilizar o Mapeo. Cada um instalou o aplicativo em seu celular ou notebook e aprendeu como mapear pontos a partir de fotografias. As fotografias foram feitas na área externa do ILC (Instituto de Letras e Comunicação), e após essa atividade, Luandro pareou as fotos com todos presentes e compartilhou em sala. Em Belém, a Fundação Escola Bosque (FunBosque), em Outeiro, começou a utilizar o Mapeo com os alunos e alunas, a partir da articulação com o professor Jader Gama. A ideia é que o projeto se articule com novos colaboradores no Brasil.

NÍVEL

Básico

Referências

luandro-200@2x

Luandro Vieira

É especialista em sistema distribuídos e faz parte da equipe de programas do Digital Democracy. Trabalha junto a comunidades tradicionais e indígenas dando capitação no uso de tecnologias de comunicação e informação e na co-criação de ferramentas para autonomia, soberania e defesa territorial e cultural. A jornada para tornar as tecnologias da informação e comunicação acessíveis, úteis e seguras para as comunidades o levou a contribuir com vários projetos de código aberto ao longo dos anos, como: Manyverse, Āhau, Mapeo, Graúna, Kit Para Defensores da Terra, LibreRouter, entre outros.

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