31/10 A 3/11 – ONLINE
5 e 6/11 – ESPM SÃO PAULO

50 ANOS DO JORNALISMO DE PRECISÃO: UMA HOMENAGEM A PHILIP MEYER

Atenção: a atividade acima foi transmitida no canal da Escola de Dados no YouTube com tradução simultânea. Para acompanhar a atividade em inglês, confira o vídeo no canal de YouTube da Open Knowledge Brasil.

DIA:
05/11

HORÁRIO:
18:00h

DURAÇÃO:
1:30h

Nível:
Básico

Sobre o painel

O painel “50 anos de Jornalismo de Precisão: uma homenagem a Philip Meyer” encerrou o primeiro dia da sétima edição da Conferência Brasileira de Jornalismo de Dados e Métodos Digitais, Coda.Br 2022, na noite de sábado (5). A atividade foi conduzida inteiramente em inglês para que Meyer pudesse ver a homenagem de sua casa, nos Estados Unidos.

Fernanda Campagnucci, diretora-executiva da Open Knowledge Brasil, fez as boas-vindas a Marcelo Soares, jornalista pioneiro no uso de dados no país e profundo conhecedor da obra de Philip Meyer. Foi Soares quem organizou a homenagem e também uma pequena exposição sobre a carreira do jornalista, que recebeu o apoio do Lagom Data, do Knight Center for Journalism in the Americas, da Universidade do Texas, e do Labjor/Unicamp, e foi exibida ao longo dos dois dias de conferência.

Abrindo o painel, Soares chamou a filha de Philip, Melissa Meyer, para se juntar a ele no palco, e em seguida compartilhou uma entrevista a Charlie Lewis na qual Philip conta seu processo de apuração sobre os protestos de Detroit nos anos 60. Sua cobertura foi ganhadora de um Prêmio Pulitzer e utilizou o método científico e ciências sociais para narrar o fenômeno social.

Após o vídeo, Marcelo declarou a Melissa que Meyer foi sua maior inspiração no jornalismo, e afirma que sem seu legado não seria possível falar em jornalismo de dados. Mas seu lado jornalista não deixou de inquirir à filha “Quem foi Philip Meyer?”

Crescendo com 3 irmãs, Melissa afirmou ter interesses parecidos com os de seu pai. Ela brincou que sua mão é igualzinha à de Philip, e que apertá-la é mais ou menos a mesma coisa que apertar as mãos de seu pai. Também comentou que Meyer levava suas filhas para o trabalho “antes de ser modinha” e que se considera o amuleto de sorte de seu pai. 

Isto porque ela nasceu em 1966, ano em que Meyer foi aceito para o Nieman Fellowship na Universidade de Harvard, que daria início a seus trabalhos mais reconhecidos. Ela também nota que no ano em que nasceu, o casamento interracial ainda era proibido (Melissa é casada com um homem negro), e Marcelo, então, ressaltou que o trabalho de Meyer sempre deu atenção às questões raciais no país. Durante os anos 80 e 90, o jornalista também buscou dados do censo para mostrar como a segregação racial ainda era presente na sociedade americana.

Melissa também contou como, ainda na infância, o pai a introduziu a leituras que davam a medida dos problemas sociais pelos quais se interessava.

Em depoimento via vídeo, Brad Houston ressaltou que Philip Meyer foi o jornalista que introduziu o jornalismo aos dados de uma maneira sensível, abordando as injustiças sociais, e responsável por levar o jornalismo ao século vinte e um. 

Ele diz que Philip foi seu mentor e guia, e que se aproximou mais dele para os workshops do NICAR (evento anual de jornalismo investigativo), ressaltando que a partir de determinado ponto era necessário ter a assistência de quem estava na vanguarda do trabalho com dados e que Meyer era essa pessoa.

Aron Pilhofer, por sua vez, afirmou que Philip Meyer é um deus. Professor de Inovação em Jornalismo na Temple University, Pilhofer declarou que os bootcamps de estatística de Meyer explicavam conceitos complicados como regressão e probabilidade de maneira simples e divertida, usando M&M’s. 

“Ele é realmente inspirador, além de ser absolutamente brilhante e uma das poucas pessoas que realmente fundaram o que consideramos jornalismo de dados hoje. Ele também é uma pessoa maravilhosa e incrivelmente legal”, acrescentou Aron.

De volta ao palco, Marcelo perguntou à Melissa por que Philip usava suas célebres gravatas borboletas tão frequentemente e ela respondeu que o pai começou a utilizá-las ainda na adolescência “para dar aos meninos da sexta série algo sobre o que falar”, segundo o próprio Meyer.

A filha de Meyer também comentou a influência do pai nas decisões que teve que tomar enquanto arquiteta e professora de arquitetura, ao escolher preservar uma igreja histórica em Miami e combatendo a segregação nos bairros. Ela processou a cidade por não seguir o zoneamento previsto em seu projeto arquitetônico, e herdou dos pais a militância por moradias populares e acessíveis, colocando-se contra a gentrificação.

Sarah Cohen, outra vencedora do Pulitzer, também deixou seu depoimento, contando que quando ouviu pela primeira vez sobre o conceito de Jornalismo de Precisão, decidiu que era com isso que gostaria de trabalhar. 

Ela preside o comitê Philip Meyer Award, criado quando Philip se aposentou. O prêmio foi idealizado por Ted Melnick, que achava que o IRE (Investigative Reporters and Editors – associação sem fins lucrativos voltada ao jornalismo investigativo) deveria honrar o tipo de trabalho que Meyer fazia, que era aliar o método científico às reportagens.

Também se juntou à extensa lista de depoentes Jennifer Lafleur, atual editora do Center for Public Integrity e antiga assistente de Meyer, que ressaltou seu senso de humor ao utilizar uma gravata borboleta feita de partes de computador. Ela participou de seus bootcamps e disse que ele era muito generoso com seu tempo ao compartilhá-lo com seus alunos.

Cheryl Philips, professora de jornalismo na Stanford, também descreveu Philip como gentil e generoso com seu tempo, e afiado em saber o que funciona ou não em termos de jornalismo. “Como profissional, ele revolucionou o seu campo e pensou sobre o jornalismo de uma maneira completamente nova”, completou.

“Ele tornou o jornalismo divertido com suas gravatas e suas histórias engraçadas”, relembrou Shawn McIntosh. Ela aprendeu trabalhar com dados com Meyer, que a ajudou em seu primeiro projeto investigativo, e teve a oportunidade de colaborar com ele várias vezes, inclusive na elaboração de um índice para medir a diversidade étnica do jornal USA Today nos anos 90.

A irmã de Melissa, Kathy Meyer-Lucente, também conseguiu um depoimento de Albert Schuster, que Meyer conheceu no Nieman Fellowship em Harvard. No programa, eles tinham aulas de história da França, Rússia, Estados Unidos e até do Brasil, de crises nas Supremas Cortes, mas ele comenta que mal via Phil, que ficava no porão aprendendo mais sobre o trabalho com o computador.

“Phil, não vai funcionar. Nós não vamos nos interessar por isso, nós usamos máquinas de escrever, estamos acostumados com máquinas de escrever, gostamos dos barulhinhos das teclas nas redações, e o que você está propondo vai eliminar que nós gostamos: terminar uma matéria numa máquina, chamar o copidesque e um jovem estagiário vir, pegar sua história e levar para o editor. É disso que nós gostamos. Acabou que Phil estava certo e eu estava errado”, ri.

“Ele é uma das maiores figuras do jornalismo nos últimos cinquenta anos mas provavelmente coraria se eu dissesse isso em sua cara”, garantiu James Steele. Também destacou que o colega é trabalhador, um homem muito decente e comprometido em obter a história do jeito certo e em ajudar seus colegas sem trazer os holofotes para si.

Stephen Doig, outro pioneiro do jornalismo de dados, também fez coro às homenagens: “Eu com certeza devo minha longa e bem sucedida carreira de jornalista e professor a Phil Meyer”. Ele esteve numa palestra sobre o Jornalismo de Precisão no início dos anos 1970 e desconfiou que a análise de dados poderia ser seu trunfo na redação do Miami Herald. 

Quando um furacão atingiu a Florida, Doig pôde analisar grandes quantidades de dados e descobriu um esquema de corrupção que afetou a vida de milhares de pessoas, inclusive a sua. Ele também comenta que deve sua carreira acadêmica a Meyer, porque decidiu que “queria ser como Philip Meyer quando crescesse”.

Jane Brown, Sue Greer, J. Walker Smith, Sharon Polanski e Ryan Thornburg foram outros dos colegas de Philip Meyer que deixaram seus testemunhos da qualidade de seu trabalho e da grandeza da sua contribuição para o jornalismo. O jornalista Marcelo Soares reuniu ainda mais depoimentos e disponibilizou-os em seu site, para quem quiser conferir com mais detalhes: https://lagomdata.com.br/phil/

marcelosoares

MARCELO SOARES

Dirige o estúdio de inteligência de dados Lagom Data, é membro do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ) e trabalha com análise de dados no jornalismo desde 1998, após ser inspirado pela obra de Meyer. Anteriormente, foi editor de audiência e dados da Folha de S.Paulo, correspondente especial do Los Angeles Times no Brasil e membro fundador da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo, onde também foi o primeiro gerente.

Melissa Meyer

MELISSA MEYER

Filha de Philip Meyer.

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