Não é todo evento que consegue lotar um auditório de cerca de 300 lugares numa fria manhã de sábado. Mas o público da Conferência Brasileira de Jornalismo de Dados e Métodos Digitais, Coda.Br 2019, compareceu em peso para ver um painel de abertura para lá de quente. A quarta edição do encontro aconteceu em São Paulo, nos dias 23 e 24 de novembro.

O painel de abertura se foi sobre jornalismo de dados em nível local e teve mediação de Natália Mazotte, criadora da Conferência e cofundadora da Escola de Dados. Ele contou com Cheryl Phillips (Stanford Computational Journalism Lab) mostrando detalhes sobre o esforço colaborativo do The Big Local News e defendendo mais colaboração na coleta, armazenagem e tratamento de dados.

Já Matt Kiefer (JSK fellow) apresentou a experiência do Chicago Reporter no projeto Settling for Misconduct, e estimulou a cooperação entre redações. E Cecília Olliveira (Fogo Cruzado) contou como surgiu a ideia do aplicativo que monitora confrontos armados no Rio de Janeiro e em Recife, como é feita a checagem das informações coletadas e ressaltou a importância da iniciativa: “Nós, jornalistas, não podemos ficar reféns do governo quando se trata de dados”, afirmou sobre o controle das narrativas de violência no Rio de Janeiro.

A noite do primeiro do dia contou com apresentações sobre inovação no jornalismo de dados. Helena Wittlich, do Tagesspiegel Innovation Lab, mostrou o projeto Radmesser, que utilizou sensores para abordar (e influenciar) políticas públicas de mobilidade em Berlim. Pelo trabalho, o time venceu o último Data Journalism Awards na categoria inovação. E Momi Peralta, do La Nación, divulgou que o jornal está concentrando seus esforços de inovação no tema da crise climática, trazendo suas equipes internas para uma narrativa global, ao lado da iniciativa Covering Climate Now. A equipe de dados do La Nación levou o DJA na categoria de melhor portfólio de equipe.

O público do Coda.Br na tradicional foto de encerramento do evento

Além de inovar, os doze finalistas do Prêmio Cláudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados também apresentaram trabalhos cheios de propósito. Os quatro grande vencedores da noite foram o Monitor da Violência: um ano depois, do G1 (na categoria “Investigação guiada por dados”), a newsletter Don’t LAI to me, do Fiquem Sabendo (em “Dados abertos”), o @fatimabot, do Aos Fatos (em “Inovação”) e a reportagem 30 anos: o quanto a Constituição preserva de seu texto original, do Nexo (em “Visualização de dados”). Você pode conferir mais sobre a premiação neste post.

No segundo dia do evento, Aron Pilhofer provocou os jornalistas presentes no painel da manhã. O criador do DocumentCloud mencionou uma certa “fadiga de inovação”. De acordo com ele, o jornalismo está obcecado com novidades, esquecendo-se de estratégias com propósito e visões de longo prazo. Na mesa moderada por Marco Túlio Pires, da Google News Initiative, Meghan Hoyer, da Associated Press, incentivou a produção de ferramentas que ampliem internamente a capacidade dos repórteres e também se tornem produtos rentáveis a partir do interesse de outras organizações. Além disso, ela anunciou que a Associated Press vai testar meios de distribuição de dados para redações de jornalismo no Brasil.

No painel de encerramento, falas inspiradoras de Alexis Wichowski, da Columbia University, permearam o debate sobre fake news e desinformação. A pesquisadora ressaltou que contexto é importante para combater incerteza, fake science e desinformação. “Quanto mais humanizamos os dados, mais fácil se torna saber o que fazer com eles”.

Jonathan Phillips, pesquisador da Universidade de São Paulo, evidenciou que a maneira que receptores se relacionam com a informação que consomem é fundamental para que jornalistas possam entender a batalha por credibilidade e engajamento positivo com a notícia. E Tai Nalon, do Aos Fatos, mostrou como conteúdos desinformativos sobre saúde ultrapassam as bolhas polarizadas da disputa política e têm grande apelo e engajamento nas redes sociais. Segundo a jornalista, é difícil rastrear a origem de alguns desses boatos, mas o impacto deles pode ser, por vezes, irreversível.

O Coda.Br foi realizado pela Escola de Dados, programa da Open Knowledge Brasil, em parceria com a Google News Initiative. A conferência contou com o apoio da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (ABRAJI), da agência Volt Data, da Python Software Foundation, da Café.art.br e do Consulado Alemão