De 22 e 25 de agosto a comunidade latino-americana de dados abertos se reuniu na Costa Rica em seus principais eventos regionais, Abrelatam e Condatos de 2017. Dos muitos debates que aconteceram entre atores da sociedade civil, governo, academia e entidades privadas que marcaram presença, um se destacou: o avanço na agenda de dados abertos depende da capacidade de gerarmos e medirmos o impacto dos dados na solução de problemas reais.

Dados não são um fim em si mesmo e a comunidade “abredatera” tem entendido e defendido essa visão. Na Abrelatam, a desconferência que começa com a construção de uma agenda colaborativa, foram tantos post-its perguntando “por que estamos aqui?”, “qual o propósito da abertura de dados?”, “a quem estamos servindo?” que os facilitadores abriram uma sessão intitulada “questões existenciais em dados abertos”.

Claro que não se ignora o fato de que dados abertos são um bem público e uma necessidade para Estados Democráticos, ampliando a transparência e a possibilidade de participação e controle social nas instituições que nos governam. Mas, em última instância, desejamos governos mais abertos porque eles possibilitam avaliações de políticas públicas baseadas em evidências e dados, e isso contribui para melhorias nos serviços oferecidos à cidadania, para a resolução de problemas coletivos e a promoção de inovação social.

Portanto, o ponto-chave dos questionamentos é: estariam os dados abertos produzindo o impacto esperado, ou seja, de fato melhorando a vida das pessoas? Uma das falas mais inspiradoras durante a Condatos foi a da Beth Novack, cofundadora do think-tank americano The Gov Lab. E a frase que mais resume sua apresentação é: “Don’t tell me how many datasets you opened, tell me how many lives you improved and problems solved” (não me diga quantas bases de dados você abriu, me diga quantas vidas melhorou e quantos problemas resolveu).

Beth Novack durante o evento. Foto: Natália Mazotte / Open Knowledge Brasil.

Novack trouxe exemplos de projetos de impacto com dados, que têm a colaboração na raiz da abertura, e destaco dois: o Network of Innovators e o Smarter Crowdsourcing for Zika. O primeiro é uma rede de compartilhamento de habilidades que permite que inovadores governamentais e cívicos avaliem as capacidades internas de resolução de problemas públicos. O segundo busca gerar soluções inovadoras no setor público para lidar com epidemias causadas por mosquitos, como Zika e dengue.

Outros projetos de impacto foram apresentados na noite de #DatosyChiliguaros, promovida pelos sempre animados parceiros da Social Tic e Escuela de Datos. Dónde reciclo, do DataUY, é um app cívico que visualiza como e onde reciclar resíduos em Montevidéu. La tierra esclava, do ElDiario.es e ElFaro.net, é uma série de investigações jornalísticas guiadas por dados que mostram o fluxo da comercialização de monoculturas em países como Guatemala, Colômbia e Brasil.

Iniciativas que envolvem inteligência coletiva, uso de dados em aplicativos cívicos ou no jornalismo investigativo. Todos voltados a entender melhor ou resolver problemas complexos das nossas sociedades. E desenvolvidos por públicos muito específicos: pesquisadores, jornalistas, inovadores do setor público e do setor privado. Quem está, no fim das contas, colocando a mão na massa para usar dados abertos.

Entre chiliguaros e bons debates, essas foram algumas das lições tiradas da troca na hospitaleira San José, na edição que celebrou o 5o ano de Abrelatam e Condatos. Não menos importante, vale registrar o bordão que marcou o evento: Abre la data, mae! O próximo destino da comunidade “abredatera” latino-americana será Buenos Aires, junto com outros atores globais que estarão na International Open Data Conference (IODC) no ano que vem.