Este post foi organizado pela Escola de Dados com base nas notas de Letícia da Silva Rosa, Júlia Vieira Reis e Patrícia do Nascimento durante a cobertura colaborativa da IV Conferência de Jornalismo de Dados e Métodos Digitais (Coda.Br 2019) nas sessões ‘Comunidades e tecnologia: o poder do conhecimento compartilhado’, realizada por Emanuele da Silva Bernardo e Ariane Alves, e ‘Times de dados e diveRsidade – cases e reflexões das Rladies’, ministrada por Carolina Moreno, Cecília do Lago e Renata Hirota.


Tecnologias de código-aberto não são apenas aquelas que podem ser livre e gratuitamente utilizadas por qualquer pessoa, mas exigem também a garantia da liberdade coletiva de estudar como ela funciona “por dentro”, através da publicação de seu código ou seu “modo de construção”. Nos softwares livres, como as principais linguagens de programação, o acesso ao código-fonte permite ainda a qualquer pessoa aperfeiçoar a tecnologia ou o programa e depois distribuí-lo para a comunidade. 

Como se vê, para o desenvolvimento de tecnologias abertas, as pessoas e contribuições coletivas são fundamentais. Daí a importância das comunidades de usuários, grupos que se reúnem em torno de uma linguagem, uma tecnologia ou um tema para compartilhar códigos, conhecimento e cooperar mutuamente. 

No entanto, a existência de comunidades de usuários e a liberação do código-fonte não garantem que todas as pessoas tenham facilidade de se envolver, aprender e colaborar neste ecossistema. Isto porque o campo da tecnologia não está desvinculado das diversas assimetrias e desigualdades sociais, fazendo com que certos grupos de pessoas sejam sub-representados nessa área, tanto do ponto de vista do desenvolvimento, quanto do uso destas tecnologias. 

Por isso, há um movimento crescente de formação de comunidades voltadas a grupos específicos, como aquelas com recorte de gênero, por exemplo. Infelizmente, apesar da contribuição decisiva de mulheres para o desenvolvimento da computação, a área tecnológica ao longo do século XX se tornou um campo predominantemente masculino, onde os homens acabam protagonizando o debate e criação destas tecnologias, o que acaba por criar dificuldades na inserção de mulheres.

No trabalho com dados, Python e R são, de longe, as linguagens de programação mais utilizadas. Nesse post, iremos apresentar brevemente duas comunidades que visam ampliar o acesso aos conhecimentos relativos a estas linguagens, com atenção à diversidade de gênero. 

PyLadies e RLadies são ambas redes internacionais, que buscam fomentar comunidades de tecnologia mais plurais. As notas abaixo são resultado das apresentações do capítulo de São Paulo (PyLadies-SP e RLadies-SP) no Coda.Br 2019.

PyLadies-SP

O PyLadiesSP é uma rede internacional sem fins lucrativos, que conta com grupos locais em diversas regiões do mundo. Seu foco é aumentar a atividade e a liderança das mulheres (cis ou trans) dentro da comunidade Python, promovendo, educando e desenvolvendo uma comunidade plural por meio de divulgação, educação, workshops, conferências, eventos e reuniões sociais. O Brasil, atualmente, é o país com o maior número de capítulos regionais no mundo.

O PyLadies São Paulo foi criado em 2015 por mulheres que queriam aprender Python. Sua missão principal é incentivar mulheres a aprenderem a linguagem e posteriormente se tornarem instrutores, fazendo assim com que a rede cresça e se torne mais forte. Isto é feito por meio da realização de encontros dedicados ao aprendizado e ensino de Python e de uma jornada de experiência, onde uma pessoa pode iniciar como aluna para em seguida torna-se monitora e depois instrutora. Também é possível incentivar novos grupos de estudos e a participação de pessoas na comunidade Python, por meio de palestras, produção de materiais, aulas, tutoriais e ajuda na organização da comunidade.

No fishbowl (formato de discussão em grupo que estimula o diálogo e a troca de experiência entre os participantes da sessão e permite que todos possam opinar e expressar seus pontos de vista) realizado após a apresentação no Coda.Br 2019, foi possível observar como a comunidade cresce de forma orgânica, apoiando suas integrantes, fazendo com que elas sintam-se empoderadas e absolutamente capazes de atuar na comunidade e no mercado da tecnologia, independente do ramo de atuação. Também foram levantadas questões como a importância da representatividade de grupos minoritários, da existência de ambientes seguros e espaços que dão voz para gêneros sub-representados.

R-Ladies-SP

O R-Ladies é uma organização mundial que promove a diversidade de gênero na comunidade da linguagem R, por meio de encontros (meetups) e mentorias em ambientes seguros e amigáveis. O objetivo é promover a linguagem computacional R compartilhando conhecimento entre pessoas que se identifiquem com o gênero feminino (mulheres cis, mulheres trans, e também pessoas não-binárias e queer), independente do nível de conhecimento.

Através da promoção da diversidade, o grupo busca alcançar uma representação proporcional de pessoas de gêneros atualmente sub-representados na comunidade R, incentivando, inspirando e capacitando-as. A brasileira Gabriela de Queiroz fundou o R-Ladies no dia 1 de outubro de 2012, com o intuito de retribuir todo o conhecimento que foi compartilhado com ela. O primeiro encontro R-Ladies aconteceu em San Francisco, Califórnia. No seu código de conduta não é tolerado nenhuma forma de assédio. Em São Paulo, o grupo mantém redes de apoio às usuárias da linguagem, bem como também produz tutoriais para iniciantes.

Durante o Coda.Br 2019, duas integrantes da RLadies São Paulo – Cecília do Lago e Renata Hirota – apresentaram alguns trabalhos feitos com a linguagem. Cecília do Lago apresentou uma matéria feita para o Estadão, que trata dos diferentes destinos dados às pessoas flagradas com drogas pela polícia.

Já Renata Hirota falou sobre a API da Câmara (confira a apresentação). Muitos dos dados do parlamento federal já estão disponíveis em CSV. Mesmo assim, algumas buscas e relações só são possíveis ou são mais fáceis de realizar via API. Renata mostrou um estudo sobre as emendas à proposta da reforma da previdência, que visava responder perguntas tais como: quantas emendas foram feitas? Quem teve maior participação nesse processo? Ela descobriu um total de 297 emendas na Câmara e 594 no Senado. O Congresso aprovou 16% das 891 emendas feitas à reforma da Previdência.

Carolina Moreno trouxe alguns alguns dados estatísticos em sua apresentação, que mostram a diferença entre salários de mulheres e homens no Brasil (confira a apresentação). A média de mulheres que se interessam pela área de STEM (Ciência Tecnologia, Engenharia e Matemática), provando que a média de salários oferecidos para vagas de tecnologia é maior para homens, que nem a metade das mulheres que gostam de STEM seguem na área, e que um terço desse grupo desiste da carreira após um ano de graduação.

Como participar

Você quer saber mais sobre a PyLadies e RLadies? Então acesse o site da RLadies e da Pyladies. A página do Facebook do PyLadies SP é essa aqui e a do RLadiesSP está aqui.