A mesa de abertura do Coda Amazônia (primeiro evento regional da Conferência de Jornalismo de Dados e Métodos Digitais), iniciada nesta quarta-feira (27) em Belém (PA), alertou sobre as consequências do colonialismo de dados e os desafios na região panamazônica e no Brasil.
Para as palestrantes Paola Ricaurte, ativista dos direitos digitais, e Edna Castro, cientista social e professora emérita da UFPA, as práticas de coleta e análise de dados em larga escala são hoje marcadas por uma grande assimetria de poder e reproduzem práticas históricas de dominação entre países, corporações e grupos sociais.
Segundo Paola, a lógica extrativista é o processo que busca maximizar o benefício material dos atores corporativos ou governamentais pela captura violenta de bens comuns materiais e simbólicos. Ela citou como exemplo a fusão de duas megaempresas de tecnologia agrícola, que também impacta o controle de informações (os grandes bancos de dados) na agricultura.
Paola Ricaurte afirmou que é possível fazer um paralelo entre o extrativismo de recursos da natureza, prática inaugurada no período colonial brasileiro, e a extração de dados predatória, em grande escala e sem controle, impulsionada pela globalização e o capitalismo. Ela se refere também às relações sociais. “A lógica do extrativismo procura se apropriar das esferas essenciais para sustentar a vida. O extrativismo também está associado ao extermínio de comunidades, à ruptura do tecido social e às formas de organização comunitária.”
Na opinião de Edna Castro, a lógica extrativista está relacionada à história colonial da América Latina. “Não estamos falando apenas da extração de recursos naturais, mas também do que nos foi saqueado ao longo dos anos e que agora é acelerado com alta tecnologia.” Para ela, “o colonialismo não tem fronteiras”, e o debate proposto pelo Coda Amazônia é importante para a luta em defesa da sociedade, do planeta e da autodeterminação dos povos como soberanos. “O Brasil é um país extremamente colonial e coloniza a Amazônia. Temos de falar deste colonialismo na pesquisa, na produção de políticas e dos mecanismos dentro das instituições.”
‘Dados rapinados’ x soberania de dados
O mediador Jader Gama, doutor em Desenvolvimento Sócio-Ambiental, afirmou que vivemos em uma profunda dependência tecnológica e sabemos pouco sobre como nossos dados são coletados e divulgados. “Desconhecemos a realidade de como estamos sendo rapinados a partir dos nossos dados e proponho a desalienação por trás deste processo de extração”, disse.
Como Edna, ele sinalizou a importância de se falar sobre o direito à informação e a uma coleta de dados comunitária. “Precisamos ter soberania sobre nossos dados. Um ecossistema de dados nos permitiria buscar soluções e alternativas para que os processos sejam governados por pessoas que habitam o território”, concluiu.
O Coda Amazônia acontece nesta quarta (27) e quinta-feira (28), na Faculdade de Comunicação da Universidade Federal do Pará (UFPA). A programação é híbrida, com workshops presenciais e transmissão online. É possível acompanhar ao vivo o segundo painel desta quarta, “Comunicando a Mudança Climática com Dados”, que começa às 17h, no canal da Escola de Dados no YouTube.
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