Colonialismo de dados e desafios na Panamazônia
SOBRE O painel
A cidade de Belém do Pará foi palco da primeira edição regional do Coda.Br, o Coda Amazônia, que aconteceu nos dias 27 e 28 de julho, no Instituto de Letras e Comunicação (ILC), da Universidade Federal do Pará. O evento reuniu importantes pesquisadoras e pesquisadores do campo da comunicação e tecnologia, estudantes e representantes de organizações engajadas em debates socioambientais, além de fazer parte da prévia do Fórum Social Pan-Amazônico, que ocorreu nos dias seguintes na mesma instituição.
A abertura do Coda Amazônia aconteceu no auditório do ILC e trouxe como painel inicial a temática “Colonialismo de Dados e Desafios na Panamazonica”, com a participação de Paola Ricaurte, Edna Castro e a mediação de Jader Gama. Colonialismo de dados é um conceito que vem sendo amplamente discutido no campo crítico de pesquisadores, dedicados a pensar as relações de poder que emergem do processo de digitalização na atualidade.
A ativista e professora do Departamento Tecnológico de Mídia e Cultura Digital de Monterrey, na Cidade do México, Paola Ricaurte, começou o debate explicando sobre a exploração subjetiva em processos de mineração de dados em plataformas de redes sociais e suas implicações. Ela esclareceu que o termo “extrativismo de dados” simboliza um processo de extração de valor e de dados cooptado pelo capitalismo. Ela ainda advertiu que “há a necessidade de repensar a importância de debates acerca do desenvolvimento sustentável na Amazônia, por ser uma matriz de funcionamento da sociedade”.
Dando continuidade às reflexões sobre exploração de dados no contexto amazônico, a professora emérita da UFPA e pesquisadora do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA/UFPA), Edna Castro, contextualizou que esse cenário de “saqueamento” das nossas riquezas não é novidade. “Esse cenário de saque de dados abre uma importante discussão sobre a recorrente ameaça que as empresas de tecnologia impõem à nossa privacidade e quais são os nossos limites para os termos de contrato que acabamos aceitando quando entramos na rede”.
Edna Castro mencionou uma matéria publicada no Repórter Brasil sobre a extração ilegal do ouro em terras indígenas. “O ouro é extraído e repassado para megas empresas de dados mundiais com a captura de informações valiosas sobre a Amazônia”, indignou-se a professora.
Resistência
O painel durou aproximadamente duas horas e foi mediado pelo professor e pesquisador na Incubadora de Políticas Públicas da Amazônia (IPPA) e na Fundação Escola Bosque (FunBosque), Jader Gama. Ele ancorou sua fala lembrando que as riquezas brasileiras são saqueadas há mais de quinhentos anos, sendo a Panamazônia um palco de grande apropriação do capitalismo que lucra com esse processo.
“Precisamos propor formas de vida e tecnológicas para reforçar e evitar que novos saques continuem”, refletiu Gama. Ou seja, o colonialismo praticado há mais de cinco séculos, com a exploração de terra e minérios, agora, surge com uma nova face: o novo colonialismo de dados que se apropria das diferentes formas de viver, dos corpos dos seres humanos e do dia-a-dia dos povos da Amazônia.
Após o debate com os pesquisadores, o público pôde fazer perguntas em torno do tema, tais como: a regulação dos algoritmos sobre o tipo de acesso que as pessoas que vivem na Amazônia têm ao consumir conteúdos digitais e sobre formas de combater a captura de dados. As respostas a essas questões foram direcionadas a produção de um pensamento crítico e epistêmico sobre nossas condutas em rede e fora dela. Um olhar interdisciplinar sobre a temática e o “agir coletivo” também são indispensáveis para a construção de uma frente contra o colonialismo de dados, concluíram os palestrantes.
QUANDO?
27/07 (quarta-feira), às 09h
ONDE?
Auditório Setorial do Básico 2
DURAÇÃO
1h30
edna castro
Graduada em Ciências Sociais pela UFPA e doutora em Sociologia pela Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales de Paris. Já foi professora das Universidades de Montreal, no Canadá, Le Havre, na França, e de Brasília (UnB), além da UFPA
Jader gama
Doutor em Desenvolvimento Socioambiental pelo Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Sustentável do Trópico Úmido (PPGDSTU) e Mestre em Planejamento do Desenvolvimento (PPGDSTU) pelo Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA) na Universidade Federal do Pará. Especialista em Tecnologias em Educação pela PUC – RJ. Graduado em Processamento de Dados pela Universidade Federal do Pará.
nina da hora
Cientista da computação, pesquisadora e hacker antirracista.
paola ricaurte
É professora associada do Departamento de Mídia e Cultura Digital no Tecnológico de Monterrey, Cidade do México, e ativista dos direitos digitais.
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