18 e 19/11 – ESPM SÃO PAULO (CAMPUS ÁLVARO ALVIM)
R. DR. ÁLVARO ALVIM, 123 – VILA MARIANA
revelando o invisível: dados e evidências em investigações de direitos humanos
DIA:
18/11
HORÁRIO:
09:30h
DURAÇÃO:
1:30h
Local:
Auditório Philip Kotler
Sobre o painel
Texto por Bárbara Libório
O painel de abertura do Coda 2023 mostrou exemplos de como a análise de dados e os métodos quantitativos podem ser usados como evidência em investigações na busca de justiça e reparação histórica em violações de direitos humanos.
Mediada pela jornalista, cofundadora do Sumaúma e professora Verônica Goyzueta, a conversa começou com a exposição da jornalista Amanda Rossi, do UOL, que apresentou ao público como foram feitas duas reportagens publicadas recentemente pelo Núcleo Investigativo do portal.
A primeira, “Da tortura a loucura”, encontrou casos de presos políticos internados a força em instituições psiquiátricas nas décadas de 1960 e 1970. “Havia em outros países estudos e reportagens sobre isso, que essa tinha sido uma prática de tortura na Argentina, por exemplo, mas no Brasil tudo era visto como caso isolado”, explicou Amanda.
Por isso, a equipe direcionou a apuração para identificar casos em que havia provas robustas e irrefutáveis mostrando que houve materialidade numérica. “Conseguimos gerar evidências para mostrar que não eram casos isolados e colocamos um capítulo a mais mas violações de direitos humanos da ditaduras”, contou.
A segunda reportagem, Mortes Invisíveis, ganhadora do prêmio Vladimir Herzog, dedicou-se a mostrar que as valas clandestinas também não são um caso isolado no país. Esses lugares, onde dois ou mais corpos de vítimas de violência são encontrados sem identificação, não estão nas estatísticas mas existem.
A investigação do UOL encontrou 41 valas clandestinas em São Paulo e no Rio de Janeiro, com 201 vítimas, apenas 60 identificadas, desde 2016. “Mapeamos essas valas e vimos os locais de concentração no mapa, em uma foram encontrados 27 corpos. Essas são informações que a polícia nunca teve”, disse Amanda.
A jornalista contou que o problema deve ser ainda maior do que os números mostram. “Uma das evidências são os números do Disque-Denúncia do Rio de Janeiro: 320 relatos de cemitérios clandestinos. Além disso, existem 26 mil restos mortais sem identificação nos IMLs. Falta investigação”.
O tema das valas clandestinas também foi o que motivou Jorge Reyes e a Anistia Internacional no uso de dados para apoiar na busca de pessoas desaparecidas no México. “Utilizando modelos de aprendizado de máquina, inicialmente focamos em identificar municípios propensos a tais ocorrências. Posteriormente, ampliamos nossa abordagem, solicitando informações públicas, enfrentando obstáculos burocráticos e obtendo dados mais detalhados após intensas interações com as autoridades”, contou Jorge.
A pesquisa utilizou uma combinação de estatísticas espaciais e análise de imagens hiperespectrais, especialmente na região da Baja Califórnia. “Ao analisar as localizações dos pontos, buscamos compreender se estão agrupados em regiões específicas ou distribuídos aleatoriamente, aplicando técnicas de estatística espacial. Além disso, identificamos rotas de acesso mais rápidas às valas clandestinas e avaliamos a visibilidade desses locais. Analisamos ainda a concentração de nitrogênio nessas regiões”, explicou.
O modelo já deu resultados e apoiou a busca de brigadas de famílias e amigos que procuram pessoas desaparecidas. Duas pessoas foram encontradas em valas clandestinas este ano, em locais apontados pelo modelo.
A busca por padrões apareceu ainda também na fala de Daniel Suarez Perez, pesquisador do DRFLab. Mostrando exemplos de investigações sobre as guerras da Ucrânia e mais recentemente sobre o conflito entre Israel e Palestina, ele falou sobre como a estratégia de desinformação nesses eventos seguem um padrão.
“É necessário que nos preparemos como jornalistas e pesquisadores sobre o que podemos deixar monitorado e como rastrear informação. Nos casos de guerras e ditaduras, vemos padrões que se repetem e, como não há reparação completa, isso se repete”, explicou.
Há esforços de fazer isso na América Latina. “Na América Latina, nosso enfoque se concentra nas eleições, documentando como regimes operam. Investigamos como o regime de Maduro utilizou redes para promover uma campanha difamatória contra venezuelanos que retornaram durante a pandemia, retratando-os como armas biológicas e incitando discurso de ódio. No Brasil, também observamos atores e padrões, como no caso do 8 de janeiro, contextualizando nossa análise em diferentes cenários políticos da região.”
AMANDA ROSSI
Repórter do núcleo de jornalismo investigativo do UOL. Amanda venceu o Prêmio Vladimir Herzog de Direitos Humanos em 2022 pela reportagem “Mortes Invisíveis”, que revelou a situação de restos mortais não identificados no Brasil. Também venceu o Prêmio Cláudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados em 2021, recebeu menções honrosas do Herzog em 2020 e 2018, do Patrícia Acioli de Direitos Humanos em 2021 e do CICV de Cobertura Humanitária em 2022. É autora de “Moçambique, o Brasil é aqui”, livro finalista do Prêmio Jabuti.
DANIEL SUÁREZ PÉREZ
Pesquisador associado para a América Latina no Digital Forensic Research Lab (DFRLab) do Atlantic Council, com sede na Colômbia. Jornalista colombiano, Daniel possui experiência em pesquisas sobre conflitos armados e projetos jornalísticos para investigar a violência contra líderes locais e comunidades na América Latina. O foco da pesquisa de Daniel é identificar, expor e explicar a desinformação nos meios de comunicação digital na América Latina.
JORGE RUIZ REYES
Integrante do Evidence Lab da Anistia Internacional. Graduado em Ciência Política e Administração Pública pela Universidade Iberoamericana da Cidade do México, fez parte do Programa de Direitos Humanos da Ibero de 2016 a 2021, onde coordenou a linha de pesquisa sobre graves violações aos direitos humanos. Além disso, integrou a equipe de análise de dados da ONG Data Cívica de 2021 a 2022. Completou seu mestrado em Ciência de Dados com foco social na Universidade de Oxford e é membro honorário do Conselho Cidadão de Busca de Pessoas da Cidade do México.
VERÓNICA GOYZUETA
Coordenadora do Amazon Rainforest Journalism Fund e co-fundadora de SUMAÚMA, Verónica tem uma longa carreira como correspondente no Brasil, onde trabalhou para as agências Dow Jones, Mergermarket e para o jornal espanhol ABC. Foi editora da revista América Economia, no Brasil, e, por quase uma década, presidenta da Associação dos Correspondentes Estrangeiros (ACE). É também professora de jornalismo da ESPM, em São Paulo.
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