Ensinando quem ensina: diferentes formas de aprender a lidar com dados
Um dos olhares mais comuns que percebemos quando estamos iniciando algum curso ou oficina é o de desconforto. Aprender a manejar bases de dados parece tão empolgante quanto um gole de óleo de fígado de bacalhau. Mas não precisa ser assim. Se por um lado podemos transformar os cursos em momentos chatos e entediantes, por outro há grupos que conseguem conduzir essa experiência de forma leve e divertida, sem perder a seriedade. Na semana passada estivemos em Madri, na Conferência Internacional de Dados Abertos (IODC, na sigla em inglês), e participamos de um painel que discutia metodologias para abrir as portas dos mundos dos dados para jornalistas e ativistas.
Juan Manuel Casanueva, da ONG mexicana SocialTIC, mostrou uma abordagem para formar “Heróis dos Dados”. O objetivo é fornecer suporte de treinamento e profissional, contribuindo para que os participantes desenvolvam não apenas habilidades técnicas, mas de relação interpessoal também. “Colocamos à disposição dos participantes um instrutor de apoio o tempo todo, para organizar e conduzir as oficinas”, disse Casanueva. “Com isso, esperamos que o impacto seja o maior possível, contribuindo para o crescimento e fortalecimento da comunidade.”
Já Natália Mazotte, coordenadora da Escola de Dados no Brasil e co-diretora da Gênero e Número, explicou o fluxo de trabalho com dados. Essa metodologia desenvolvida pela School of Data reúne as principais etapas que estão presentes em todos os trabalhos guiados por dados. São eles: definição do problema, encontrar dados, coletar, validar, limpar, analisar e apresentar. Cada etapa requer uma série de habilidades diferentes. “As etapas são dispostas de forma linear, mas é possível que ao analisar uma base você perceba a necessidade de fazer uma nova coleta e o processo começa de novo”, disse Natália. Ela também falou da Expedição de Dados, uma abordagem parecida com uma hackatona, onde o foco é o aprendizado. “Nas expedições de dados reunimos grupos de habilidades complementares para que eles resolvam juntos um problema real, usando o fluxo de trabalho com dados.”
Cédric Lombion, gerente de comunidades e coordenador de fellowship da School of Data falou sobre a matriz de atividades de letramento de dados, uma metodologia também desenvolvida pela organização. O quadro mostra quais são os tipos de atividades mais comuns e qual o tipo de impacto que pode se esperar de cada um deles. “Uma oficina de um ou dois dias, por exemplo, não formará especialistas, mas possui valor ao inspirar participantes e contribuir para a formação de comunidades”, disse Lombion. “O mais importante é entender como cada atividade pode ajudar o seu projeto: seja na formação de especialistas, na criação de comunidades ou na resolução de problemas”, disse.