Encerrando a IV Conferência Brasileira de Jornalismo de Dados e Métodos Digitais, Coda.Br 2019, Alexis Wichoswki (Columbia University), Jonathan Phillips (USP) e Tai Nalon (Aos Fatos), fizeram parte do painel “Incerteza, fake science e desinformação”. O debate aprofundou e buscou soluções para lidar com a desinformação científica nos tempos atuais, com a propagação de notícias falsas.
Assista aqui à playlist completa com os vídeos deste painel, que está disponível no canal da Escola de Dados no Youtube.
Fernanda Campagnucci, da Open Knowledge Brasil, foi a mediadora da mesa de convidados na noite do dia 24 de novembro de 2019, no auditório da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), em São Paulo. Confira os principais assuntos da sessão e os vídeos com as apresentações na íntegra.
Como lidar com dados em tempos de incerteza?
Alexis Wichowski, professora da Universidade de Columbia, pontuou as principais formas de encarar as fake sciences. Analisando a maneira como a sociedade, especialmente nos Estados Unidos, convive com a replicação de tais notícias, ela chegou à conclusão que o medo gerado dentro da população faz com que as informações de grupos diferentes não sejam facilmente acreditáveis, como a do mesmo grupo político.
Além disso, analisar as notícias por si só não parece influenciar muita gente: “mesmo que haja fatos, que haja evidências, há uma sensação de que não dá para confiar no que se vê”, afirmou.
A professora encontra duas soluções para esse momento de instabilidade: combater as notícias falsas – através do bom uso dos dados e com a colaboração de cientistas, jornalistas e políticos – ou “fazer as pazes” com a incerteza, ajudando na propagação de notícias positivas.
O desprestígio da informação em meio à polarização
Jonathan Phillips, cientista político e pesquisador da Universidade de São Paulo (USP), levantou diversas pesquisas de dados em relação a como a população reage a informação, dependendo de sua fonte, exemplificando e explicando porque acadêmicos não podem ter êxito ao traduzir estudos de universidade para um público mais amplo.
Através dos estudos, Jonathan fez um questionamento: no geral, como as pessoas interpretam informação? A conclusão que se chega é que existe uma distância longa entre receber uma informação contrária e mudar de opinião. Como o pesquisador afirmou, “uma informação não muda nada”.
Os dados apresentados pelo cientista político iam desde cenários políticos nos EUA em relação a melhora ou piora da economia após a última eleição, de acordo com a população, até comparativos em relação a etnias iguais ou diferentes como fonte de informação. No gráfico do primeiro tópico, a economia americana piorava, desde 2016, para os eleitores da oposição de Donald Trump, mas para seus apoiadores havia um crescimento econômico gigantesco. No segundo caso, os grupos étnicos próximos tinham mais aprovação como fontes de opiniões positivas e os grupos diferentes eram mais desaprovados, colocando como um fator de confiabilidade de fontes.
“Cada pedaço de informação pode não ter muito efeito, mas agregado e entendendo a credibilidade da fonte, o contexto que foi processado e a história da pessoa, entendemos melhor como cada informação ou desinformação tem um efeito positivo ou negativo”, disse.
Saúde, ciência e as notícias falsas
Tai Nalon, diretora executiva da agência de checagem Aos Fatos, buscou ir além das discussões políticas. Para a jornalista, a polarização permite a criação de bolhas, que impedem que uma desinformação em si atinja e se espalhe tanto quanto uma notícia que englobe o cotidiano e bem-estar do cidadão.
Surgem, daí, dois tipos de fake news muito replicadas nas áreas de saúde e ciência: as curtas, sem informações complexas, de fácil checagem e as que vêm de grandes teorias conspiratórias, muito replicadas e que se tornam incontroláveis.
Essas últimas, para Tai, são um grande problema ao serviço de saúde pública. A diretora do Aos Fatos relatou um desencadeamento de acontecimentos durante a campanha de aplicação da vacina de HPV no Acre: a disseminação de relatos falsos de sintomas em um grupo de Facebook contribuíram com a queda das taxas entre a primeira e segunda dose para imunização da doença no estado, de 78% para 43%.
“A proximidade do diálogo facilita a propagação da desinformação. Precisamos entender como comunidades muito fechadas se informam, entrar nesses grupos fechados antes que a desinformação alcance esses números milionários nas redes sociais”, disse.
Perguntas e Respostas
A sessão foi encerrada com uma rodada de questões respondidas pelos convidados. Confira no vídeo abaixo.