Uma ponte entre um público sedento para compreender melhor a realidade e o universo do conhecimento estatístico e científico, que é muitas vezes de difícil acesso para a maioria das pessoas. Assim, Simon Rogers – editor de dados do Google News Lab – apresentou a função do jornalismo de dados no mundo atual.

Simon Rogers foi um dos participantes da “Masterclass em Jornalismo de Dados”, realizada no dia 30 de março de 2021, pela Embaixada e Consulados dos Estados Unidos, com apoio da Escola de Dados, da Open Knowledge Brasil, da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e da Google News Initiative. Ele esteve ao lado do cofundador da Escola de Dados e coordenador do Google News Lab no Brasil, Marco Túlio Pires. A sessão teve a mediação de Fernanda Campagnucci, diretora-executiva da Open Knowledge Brasil. 

Masterclass on-line em Jornalismo de Dados (30/03/2021) – Canal da Embaixada dos EUA no Brasil no YouTube

Ambos jornalistas, os convidados compartilharam experiências pelas quais passaram ao longo de suas carreiras e deram dicas para quem quer começar a trabalhar com dados. Segundo eles, o interesse das redações por profissionais com este conhecimento deve crescer.

Em sua fala, Marco Túlio apresentou um breve histórico do jornalismo de dados. Ele explicou como o método científico das ciências sociais transformou o modo de fazer jornalismo no século XX. Na medida em que foi sendo adotado pelas redações, com o objetivo de diminuir a dúvida e aumentar a confiança sobre os modelos usados para explicar a realidade, este método científico serviu para dar base ao que se conhece como jornalismo de dados ou data-driven journalism (ddj) atualmente.

Marco Túlio lembrou que o uso de dados e do método científico no jornalismo é antigo. Mas hoje os jornalistas dispõem de uma série de ferramentas digitais para apoiar suas apurações e fontes de dados facilmente acessíveis para explorar. Com isso, o trabalho com bases de dados, editores de planilhas, visualização de dados, aprendizagem de máquina (machine learning), matemática, estatística, pensamento computacional e comunicação ganharam mais importância na profissão. Para ajudar a desenvolver estas habilidades, Marco citou a central de treinamentos da Google News Initiative, que oferece trilhas de capacitações.

Mas os jornalistas precisam então aprender a programar? Esta dúvida recorrente em quem está começando no campo também foi discutida. De acordo com Simon Rogers, ainda que a programação seja uma habilidade desejável e facilitadora, a pauta e o problema são o centro do fazer jornalístico. Segundo ele, a falta de domínio sobre as linguagens de programação não impede realizações na área e a união de perfis profissionais com diferentes habilidades pode ser uma solução.

Os dois participantes também destacaram a importância do compartilhamento de informações com a comunidade. De acordo com Simon, a colaboração e práticas de abertura e transparência no jornalismo ajudam a abrir portas para o surgimento de outras notícias com dados. 

Crescimento no mundo e destaque para o Brasil

Simon chamou atenção para a onda global em que vivemos. Desenvolvido pelo Google News Lab, o estudo “Data Journalism in 2017: the current state and challenges facing the field today” traz uma pesquisa com redações internacionais, na qual 60% dos integrantes de redações digitais declararam ter pelo menos um jornalista de dados na equipe. Além deste, o editor também mencionou os números do Sigma Awards, principal competição internacional de jornalismo de dados, que em seu segundo ano recebeu 51% das inscrições vindas de pequenas redações de diversos continentes. Pequenos coletivos, redações e organizações não só usam bastante os dados em seus trabalhos, como o fazem com excelência.

O Brasil foi citado como um dos destaques internacionais. Somos um dos países que adotou o jornalismo de dados mais rapidamente. As discussões do Fórum jornalismodedados.org, mantido pela Escola de Dados em parceria com a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo – Abraji, e eventos como Conferência Brasileira de Jornalismo de Dados e Métodos Digitais – Coda.Br, e o Prêmio Cláudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados, que celebram trabalhos de excelência na área, foram exemplos de fortalecimento da comunidade brasileira de Jornalismo de Dados citados por Marco.