“Aberto está em: governo aberto, dados abertos, conhecimento aberto. Abertura é liberdade e inovação, e a promessa de nos fortalecer enquanto cidadãos e consumidores. Mas abertura é o suficiente para resolver os problemas urgentes do mundo?” Este foi o mote da Open Development Camp, conferência que reuniu nos dias 9 e 10 de outubro pesquisadores e ativistas interessados em debater como as novas tecnologias podem contribuir para as mudanças desejadas no mundo em desenvolvimento e trocar experiências sobre casos reais.
A Escola de Dados esteve no evento e organizou uma expedição de dados sobre o surto de Ebola, uma das mais graves emergências da atualidade, especialmente na África Ocidental. Eu, Marco Túlio Pires e Zara Rahman (da Escola de Dados do Reino Unido) guiamos dois grupos que levantaram algumas questões e buscaram bases de dados para fundamentar possíveis respostas: Como os governos têm respondido à epidemia? Dá para mapear um padrão de contaminação? Qual o caminho percorrido pelo surto? De que forma os surtos anteriores foram controlados? Como tem sido a cobertura jornalística da epidemia?
O potencial do uso de dados para responder dúvidas como essas precisa ser explorado de forma consciente e responsável, especialmente em países onde a abertura de dados e a transparência no governo não estão bem consolidados. Essa foi a principal reflexão levantada nas diferentes sessões do encontro em Amsterdã. Na dinâmica da expedição, os participantes puderam ver na prática o desafio de coletar, estruturar e visualizar dados dos diferentes países afetados pelo Ebola usando ferramentas abertas. Registramos parte do nosso trabalho e aprendizado aqui.
Além da expedição de dados, apresentamos no Open Development Camp uma oficina de análise de redes sociais usando Gephi, um software de código aberto para explorar e visualizar redes complexas. Depois de explicar os principais conceitos de teoria dos grafos — um grafo nada mais é que uma rede complexa representada por um conjunto de nós (atores) ligados por arestas (relações) —, fizemos um exercício partindo da nossa própria rede de conexões no Facebook, com dados coletados usando o serviço Netvizz.
No fim, cada participante teve um resultado semelhante à imagem ao lado. O grupo conseguiu visualizar as comunidades de amigos, a centralidade de alguns atores, e as relações de proximidade entre seus diferentes círculos de amizades. O exercício foi apenas uma pequena amostra do que é possível fazer com o Gephi, ferramenta útil principalmente para mapear a complexidade de redes que se formam em debates emergentes e os atores influentes dentro delas (indico duas boas análises para os interessados, uma do MediaLab da UFRJ sobre os protestos de junho e outra do Labic da UFES sobre o 12M espanhol, manifestações que levaram milhões de pessoas às ruas em diversas cidades na Espanha, entre 2011 e 2012).
Durante os dois dias de conferência, também conhecemos iniciativas como o programa Send-Ghana, que busca aumentar o controle social e a transparência a partir da capacitação cidadã para o uso e coleta de dados locais, e o WildLeaks, primeira plataforma segura para denunciar anonimamente crimes ambientais.
Do intercâmbio entre as diferentes pessoas que passaram pelo imponente prédio De Balie — um antigo teatro no centro de Amsterdã que agora abriga eventos sobre política, cultura e mídia —, a sensação é de que o caminho para aumentar a transparência e o uso consciente de dados ao redor do mundo, com impacto positivo em demandas urgentes da nossa sociedade, ainda é longo. Mas as mudanças, tão necessárias, não só estão sendo planejadas, como já estão em construção.