Escavando pautas: como utilizar e encontrar dados para cobrir sua comunidade

SOBRE O WORKSHOP

Texto por Anicey Santos
Revisado pela Escola de Dados

 

A jornalista Graziela iniciou a oficina contando um pouco sobre a Agência Tatu de Jornalismo de Dados. A agência fica em Alagoas, foi selecionada em programas de aceleração e já conquistou 15 prêmios locais e regionais de jornalismo.

Continuando a conversa sobre dados, Graziela afirmou que com dados podemos contar histórias, descomplicar fatos e criar soluções. Sendo assim, o jornalismo de dados pode ser entendido como números que contam histórias, e possui algumas etapas:

  • Coleta: envolve a busca e obtenção de dados relevantes para a investigação ou reportagem;
  • Limpeza: quando os dados brutos são preparados para análise;
  • Análise: onde os dados limpos são examinados para extrair ideias e gerar conclusões;
  • Visualização: envolve a criação de representações gráficas para ajudar a interpretar e comunicar os dados de maneira mais eficaz.

 

LAI: para usar e abusar

Dentre as diversas formas de obter dados, uma das mais interessantes – principalmente para quem faz jornalismo local – é através da lei 12.527/2011, conhecida como Lei de Acesso à Informação (LAI). Esta lei regulamenta o Artigo 5o da Constituição Federal – 1988, tendo sido criada para detalhar e operacionalizar os princípios e direitos estabelecidos na Constituição, especificamente os relacionados ao acesso à informação pública.

Por meio da LAI, é possível chegar a dois tipos de transparência: 

                  – Ativa: quando há divulgação espontânea de informações pelos órgãos públicos, sem que haja necessidade de solicitação prévia por parte das pessoas cidadãs.

                  – Passiva: quando as informações são fornecidas em resposta a solicitações feitas por cidadãos e cidadãs.

As informações solicitadas via LAI podem ser feitas de maneira presencial ou online. A palestrante então aconselhou: “Lei de Acesso à Informação: use e abuse!”.

Exemplos para estudar e explorar

Graziela também falou sobre a importante contribuição do médico sueco, acadêmico e estatístico Hans Rosling no campo dos dados. Rosling empenhou esforços para promover uma melhor compreensão global através do uso de dados, chegando a criar a Gapminder Foundation, com o objetivo de aumentar a compreensão pública sobre questões globais através do uso de estatísticas e dados. Ele também é conhecido por seu software Trendalyzer, que transforma estatísticas mundiais em gráficos interativos, facilitando a compreensão das tendências globais.

Como exemplo de reportagens que a Agência Tatu produziu através de informações obtidas pela LAI, a jornalista indicou algumas matérias:

Sem lugar para morrer: Prefeitura de Maceió descumpre lei e esconde dados sobre cemitérios públicos;

6 a cada 10 deputados do Nordeste votaram contra pautas ambientais;

67% dos domicílios brasileiros sem água encanada estão na região Nordeste.

Além dessas reportagens que estão no site da agência, outras produções ganharam a mídia nacional ao serem reverberadas em portais como Poder 360, BBC News Brasil, UOL Notícias e IstoÉ.

 

Dicas valiosas

Em seguida, Graziela apresentou várias dicas de como encontrar e utilizar dados para cobrir a comunidade.

  1. Como escolher a pauta
    A escolha da pauta envolve identificar um tópico relevante e de interesse público que possa ser explorado e investigado. Para isso, você pode:

    1. Explorar temas em alta no país e no mundo de forma local;
    2. Cobrir assuntos e temáticas de impacto local e que são mal cobertos pela mídia tradicional;
    3. Aprofundar-se em operações e acontecimentos locais; e
    4. Explorar dados de assuntos e temáticas diferentes e/ou para fins investigativos.
  2. Onde encontrar dados para minha pauta?
    Em quais fontes e locais é possível buscar informações e dados necessários para investigar e elaborar matérias.

    1. Pesquisa avançada do Google ou Google Trends;
    2. Portais dos poderes executivo e legislativo municipais, estaduais e federais;
    3. IBGE, IPEA, MapBiomas;
    4. LAI;
    5. Base dos Dados; e
    6. Fiquem sabendo.
  3. Quais ferramentas utilizar e como?
    Aqui, dependendo da necessidade do momento ou da etapa do trabalho, pode-se usar:

    1. Planilhas: Google Sheets;
    2. Gráficos: Flourish, DataWrapper;
    3. Mapas: Google My Maps;
    4. Infográfico: Piktochart, Infogram. 
  4. Em quem me inspirar ou com quem aprender?
    São várias as figuras influentes e os recursos valiosos que podem servir de inspiração e aprendizado.

    1. Agência Tatu;
    2. Escola de Dados;
    3. Knight Center Courses;
    4. Abraji;
    5. Gênero e número;
    6. InfoAmazonia;
    7. Nexo Jornal;
    8. Núcleo.

Em prática

Para colocar todas essas dicas em prática, a palestrante sugeriu refazer o passo a passo para a construção da matéria Mais de 285 mil famílias no Nordeste não tem banheiro em suas casas, adaptando-a para o estado do Pará. 

Primeiro, iniciou com a etapa da coleta, que foi feita com os dados do IBGE relacionados a domicílios particulares por tipo de esgotamento sanitário. Coletados os dados, passou para o processo de limpeza, sendo que a palestrante disponibilizou o arquivo com os dados já prontos para serem limpos. 

Depois de limpos, entramos no processo de análise. Para esta etapa, ela propôs quatro perguntas às pessoas participantes: 

                  – O que vocês enxergam nos dados?
                  – O que eles mostram?
                  – Qual o município com menor percentual de banheiro?
                  – Qual o município com maior?

Respondidas estas perguntas, entramos no quarto passo que foi a visualização dos dados. Nesta etapa, a palestrante indicou três maneiras, dentre muitas, para fazer a visualização dos dados: um mapa e um gráfico de barras deitado no datawrapper, e um gráfico de pizza no Flourish.

Com esses passos, Graziela concluiu que é possível ter uma matéria interessante e relevante para o contexto local.

LOCAL

Laboratório 102

NÍVEL

Básico.

REFERÊNCIAS

grazielaa-franca

Graziela França

Jornalista formada pela Universidade Federal de Alagoas e pós-graduada em Jornalismo de Dados, Automação e Data Storytelling pelo Insper. Já recebeu diversos prêmios de jornalismo local e tem experiência com jornalismo dados, assessoria de imprensa e produção de conteúdo.

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