Dados geoespaciais abertos: um mapa sobre a mineração no Pará
SOBRE O WORKSHOP
Texto por Ludemilla Diniz
Revisado pela Escola de Dados
Já é de se notar que a intensidade e a legalidade da atividade mineradora na Amazônia é um tema que atualmente deve ser discutido para garantir que as próximas gerações estejam investindo em um caminho de preservação do seu meio ambiente. Neste workshop, a engenheira agrônoma Tatiana Pará apresentou ferramentas e técnicas de mineração de dados que podem ser utilizadas para a identificação de áreas de garimpo e o monitoramento do desmatamento, além de possibilitarem a avaliação do impacto social da mineração ilegal na Amazônia.
Tatiana Pará é especialista em Geotecnologias e Mestre em Desenvolvimento Rural e Gestão de empreendimento agroalimentares e também é membra da OSGeo (Open Source Geospatial Foundation), conselheira da Open Knowledge Brasil, vice-presidente da UMBRAOSM (União dos Mapeadores Brasileiros do Openstreetmap) e fundadora do grupo “Meninas das geotecnologias”.
A atividade começou partindo da frase de Clive Humby de que o dado é “o novo petróleo do século XXI”, sendo o termo “mineração de dados” usado justamente em referência à extração do recurso mineral. Contudo, a mineração de dados em si se traduz na exploração e processamento de grandes conjuntos de dados – e isto se torna muito necessário dentro da área de jornalismo de dados (automatização da produção de conteúdo através de conceitos de ciência de dados) e de geojornalismo (que se baseia em dados geoespaciais para fundamentar uma narrativa).
O minicurso aplicou todos os conceitos tangentes ao tema através de um exercício prático no qual a palestrante guiou passo-a-passo a manipulação de dados abertos de pistas de pouso na floresta tropical através da Amazon Mining Watch, uma plataforma de dados sobre mineração na Amazônia. O site exibe um mapa baseado em dados de representação de forma poligonal (vetoriais) sobre áreas que possivelmente podem estar sendo afetadas pela mineração, sendo a presença de pistas de pouso um indicativo dessa ocorrência.
Para identificar a real localidade da pista, Tatiana orienta que sejam coletadas as latitudes e longitudes de interesse dentro da plataforma. Essas informações podem ser inseridas no Google Earth, onde é possível visualizar uma área estipulada através da ferramenta de régua, podendo também delimitar formas e áreas (desenhando no próprio Google Earth) e exportá-las. Um detalhe importante é que as coordenadas (x,y) nas ferramentas do Google são invertidas, porém o conjunto de dados de pistas de pouso na floresta tropical desenvolvida pela comunidade estão ordenadas corretamente para serem inseridas no Google Earth.
Meios de investigação
A palestrante seguiu apresentando diversas formas de investigar a presença de atividades mineradoras ilegais, trazendo indícios que podem ser usados para validar qualquer suspeita.
Plataformas como o MapBiomas possibilitam o mapeamento de pistas de pouso na Amazônia através da interpretação visual de imagens de satélite de alta resolução, correspondentes ao ano de 2021, sem dissociação entre pistas autorizadas ou não.
Também foi citada a plataforma RAISG (Rede Amazônica de Informações Socioambientais Georreferenciadas), um consórcio de organizações da sociedade civil dos países amazônicos que visa a sustentabilidade socioambiental da Amazônia com o apoio da cooperação internacional. A RAISG gera e divulga conhecimento, dados estatísticos e informações socioambientais geoespaciais sobre a Amazônia, elaborados com protocolos comuns para todos os países da região. Por fim, a palestrante mencionou a plataforma Global Forest Watch, que exibe dados matriciais (imagens de satélite) da cobertura florestal mundial.
O exercício prático do workshop se desdobrou principalmente com a ferramenta QGis, um aplicativo profissional construído a partir de software livre e de código aberto e que disponibiliza um número de funcionalidades em constante crescimento através das funções nativas e de complementos. É possível visualizar, gerir, editar, analisar dados e criar mapas para impressão. Tatiana indicou que algumas das funções complementares (plugins) podem ser instaladas para apoiar no trabalho dentro do software, como por exemplo o Lat Lon Tools (para processar coordenadas) e o QuickOSM (para fazer o download de dados vetoriais).
Na documentação, é possível encontrar um guia básico pelo Software orientado à exportação das coordenadas advindas do Google Earth, que podem ser feitas com base nos polígonos do Amazon Mining Watch ou também através da plataforma OpenStreetMap – que também comporta coordenadas, porém possibilita a exportação direta já que se trata de um banco de dados colaborativo de código aberto, semelhante a um “mapa mundial editável”.
E no caso de suspeita de atividade ilegal?
A respeito desta questão, a palestrante indicou que é possível utilizar os sites governamentais da ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil) e da ANM (Agência Nacional de Mineração) para comparar o que oficialmente é considerado um garimpo, buscando o respaldo para a validação desses dados de acusação. A ANAC possibilita visualizar todos os aeródromos e pistas de pouso registradas no território brasileiro e a ANM lista as diversas instituições mineradoras autorizadas. Além disso, o site da organização privada IBRAM (Instituto Brasileiro de Mineração), que é responsável por 85% da produção mineral do Brasil, permite rastrear indícios do escoamento da mercadoria para o exterior.
LOCAL
Laboratório 101
NÍVEL
Básico.
REFERÊNCIAS
- Slide da atividade
- Pistas de pouso na floresta tropical – Amazon Mining Watch (Site)
- Pistas de pouso na floresta tropical – Amazon Mining Watch (GitHub)
- Google Earth
- MapBiomas
- Rede Amazônica de Informações Socioambientais Georreferenciadas (RAISG)
- Global Forest Watch
- QGis
- Documentação do QGis
- Lat lon Tools (plugin QGIs)
- QuickOSM (plugin QGIs)
- OpenStreetMap (plugin QGIs)
- Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC)
- Agência Nacional de Mineração (ANM)
- Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM)
Tatiana Pará
Mãe, nascida na Amazônia, agrônoma, especialista em Geotecnologias, atua como professora do IFPA campus Belém. É fundadora do grupo Meninas da Geo, presidente do capítulo da Osgeo Brasil e embaixadora da Open Knowledge Brasil. Atua com mapeamento colaborativo na Amazônia e empoderamento feminino através das Geotecnologias.
Visite o site da edição anterior. Confira o site do Coda.Br 2023.
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