18 e 19/11 – ESPM SÃO PAULO (CAMPUS ÁLVARO ALVIM)
R. DR. ÁLVARO ALVIM, 123 – VILA MARIANA
A viagem dos dados: investigando infraestruturas digitais
Texto por Manuella Caputo
No dia a dia, pode ser que você percorra uma verdadeira jornada para sair de casa até o trabalho e vice-versa. Esse caminho pode incluir um, dois ou até mais meios de transporte. E não é só você que está se movendo: neste workshop, a diretora-executiva da Open Knowledge Brasil, Fernanda Campagnucci, mostrou em detalhes a longa viagem realizada pelos dados dos usuários do Bilhete Único de São Paulo.
A apresentação é resultado da tese defendida por Fernanda no doutorado em Administração Pública e Governo na EAESP-FGV. Lidando com um trajeto que não é visível, a palestrante aproveitou o tema para explicar o fluxo de dados a partir de ilustrações de linhas de metrô. E, para compreender suas motivações contextuais, os caminhos foram observados em quatro camadas: sociopolítica, econômica, normativa e técnico-institucional.
A pesquisa começou com a análise de diversas fontes de dados, como dados abertos e em transparência ativa da SPTrans; termos de uso e privacidade; solicitações de Lei de Acesso à Informação (LAI); entrevistas com pessoas envolvidas; observação de locais e conversas informais; entre outros. As informações foram organizadas por meio de um mapa mental e, depois, o método foi estruturado em formato de pirâmide, sendo o topo composto por histórias individuais; o meio, pela visão geral da infraestrutura; e a base, pelas camadas de contexto.
Na construção dos caminhos dos dados, Fernanda considerou três jornadas típicas do serviço: cadastro, compra e recarga de créditos, e viagem de ônibus. Para três tipos de usuárias: trabalhadora autônoma com bilhete comum, idosa com bilhete especial e criança com bilhete de estudante.
O resultado foi a estruturação de fluxos de dados impressionantes por sua extensão e ramificações. A palestrante deu visibilidade aos vários pontos de parada que cruzam o caminho dos dados dos usuários de ônibus na cidade de São Paulo, incluindo os desvios para o compartilhamento com parceiros de negócios e terceiros e até mesmo os acidentes com vazamento de dados da população.
Ela também comentou, para cada contexto, as principais observações sobre o serviço da SPTrans. E aqui destacam-se: o discurso de controle de fraudes, na camada sociopolítica; a disputa por novas tecnologias de pagamento (camada econômica); e o desenvolvimento de um data lake para centralizar e integrar dados e migração para nuvem (técnico-institucional).
Por fim, Fernanda defendeu que é preciso tornar os fluxos de dados mais justos e transparentes, a fim de que a sociedade também possa influenciar nessas decisões e controlar as infraestruturas de dados do setor público. “É preciso construir uma governança democrática de dados para que os dados gerem valor público”, concluiu.
Referências
Sem pré-requisitos.
FERNANDA CAMPAGNUCCI
Diretora-executiva da Open Knowledge Brasil. De 2013 a 2019, atuou como gestora pública na Prefeitura de São Paulo, tendo sido responsável pela política municipal de transparência, abertura de dados e integridade na Controladoria Geral do Município, além de ter liderado projetos de tecnologia, inovação e governo aberto na Secretaria Municipal de Educação. Graduada em Jornalismo e mestre em Educação pela Universidade de São Paulo, é doutora em Administração Pública e Governo na Fundação Getúlio Vargas (EAESP-FGV). Especialista em Transparência e Accountability pela Universidade do Chile (2014), foi fellow de Governo Aberto da Organização dos Estados Americanos (2015), Líder de Dados Abertos do Open Data Institute (2016) e fellow de governo da Unidade Operacional Governança Digital da Universidade das Nações Unidas, a UNU-EGOV (2018). É professora convidada do Insper nos cursos de Compliance e de Inovação no Setor Público.
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