18  e 19/11 – ESPM SÃO PAULO (CAMPUS ÁLVARO ALVIM)
R. DR. ÁLVARO ALVIM, 123 – VILA MARIANA

Dados pela Justiça Climática

DIA:
18/11

HORÁRIO:
17:30h

DURAÇÃO:
1:30h

Sala:
Auditório Philip Kotler

Sobre o workshop

Texto por Bárbara Libório

 

O último painel do primeiro dia de conferência refletiu sobre o uso de dados na compreensão da vulnerabilidade em situações de emergência climática. Mediado por Marta Salomon, pesquisadora associada ao Centro de Desenvolvimento Sustentável CDS/UnB, a conversa iniciou com uma exposição de Camila Rodrigues, jornalista de dados na Alma Preta, enfatizando os desafios envolvidos na criação de pautas com um recorte racial, destacando a complexidade de acessar dados relacionados às mudanças climáticas. No caso da temática em territórios quilombolas, por exemplo, apesar da crescente organização da Confederação dos Quilombolas e o inédito Censo Quilombola, há escassez de dados para o cruzamento de informações.

Helena Carpio, líder de inovação na Prodavinci e co-âncora do programa “Fuerza Latina”, da Deutsche Welle, também lidou com esse problema na Venezuela. “A opacidade da informação é como uma política de Estado”, contou. Além disso, com a crise política e econômica, o tema ambiental não é priorizado no país. A jornalista destacou a perda de estações meteorológicas e dados sobre áreas protegidas nos últimos anos. 

Helena também compartilhou com o público sua experiência na investigação de incêndios na Venezuela. Sua equipe precisou usar uma abordagem inovadora para superar os obstáculos do vácuo de dados e utilizou dados globais, como os disponíveis no Global Forest Watch, combinados com bases de dados do INPE e da NASA. A análise geográfica desses dados foi realizada através do software QGIS. Esse processo revelou que a Venezuela teve o dobro de incêndios do Brasil em 2020, uma realidade que não estava sendo divulgada no país.

Além disso, a equipe foi além, identificando que o fogo, nesse contexto, era um indicador potencial de atividades de mineração. Em um dos maiores parques nacionais da Venezuela, descobriram 13 minas não registradas. “Esses dados hoje são utilizados por acadêmicos também, porque esse trabalho é o maior registro que temos sobre o tema no país”.

Por fim, Jean Ometto, pesquisador do INPE, trouxe uma perspectiva científica para a conversa, salientando a necessidade de comunicar efetivamente os dados sobre mudanças climáticas. O cientista abordou a relação entre dados e justiça climática, destacando como a desigualdade é central para os impactos ambientais. Ele enfatizou a urgência de mitigar e adaptar-se às mudanças climáticas, considerando quais populações são mais vulneráveis.

Jean também compartilhou sua experiência no IPCC, destacando a importância do dado aberto para análises e como a informação sobre mudanças climáticas chega à população através do jornalismo. Ele alertou sobre os desafios impostos pelas mudanças climáticas, sublinhando que o clima já mudou e que a adaptação é crucial.

Durante as respostas às perguntas do público, os palestrantes destacaram potenciais soluções para o jornalismo e a comunicação da emergência climática, como a importância do jornalismo local e do uso de narrativas explicativas para envolver as comunidades. “O alarmismo pode paralisar as pessoas, mas o uso de explicações emotivas e acessíveis pode promover uma ação mais efetiva”, disse Helena.

REFERÊNCIAS

Helena Carpio – Naturaleza en llamas

Jean Ometto – Dados e justiça climática

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CAMILA RODRIGUES

Jornalista com 18 anos de experiência em veículos de comunicação popular e na grande imprensa, como g1, Folha de S. Paulo e UOL. Doutoranda em Demografia e mestre em Economia, atua na cobertura de direitos humanos desde 2012. Acredita no jornalismo como ferramenta de enfrentamento às desigualdades.

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EDIANE LIMA

Liderança marajoara negra ribeirinha e gestora de projetos do Observatório do Marajó.

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HELENA CARPIO

Líder de inovação na Prodavinci e co-âncora do programa “Fuerza Latina”, da Deutsche Welle. Helena é uma jornalista multimídia venezuelana que explora a relação em constante mudança entre a sociedade e o meio ambiente. Na Prodavinci, ela publicou reportagens investigativas sobre o recuo de geleiras e espécies invasoras, realizou análises de dados de sensoriamento remoto sobre incêndios florestais, produziu podcasts sobre a crise econômica e vídeos em realidade virtual 360 sobre a falta de acesso à água corrente.

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JEAN OMETTO

Pesquisador sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais do Brasil e coordenador do Centro de Ciências do Sistema da Terra (CCST/INPE). Jean é professor do pós-graduação no CCST/INPE e professor colaborador do PPG do NEPAM/Unicamp. Também participa de influentes fóruns internacionais de pesquisa sobre o tema: foi nomeado ao IPCC (Grupo de Trabalho II, e para a Força Tarefa sobre Inventários de Emissões de GEE, aos ciclos AR5 e AR6) e ao IPBES sobre Avaliação de Escopo Regional e Sub-Regional; é representante brasileiro do Conselho Executivo da Inter-American Institute for Global Change Research (IAI); diretor regional do International Nitrogen Iniciative (INI); membro da Coordenação do Programa FAPESP de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais; vice-coordenador da Rede Brasileira de Pesquisas sobre Mudanças Climáticas Globais (Rede CLIMA) e membro do comitê científico do Global Carbon Project.

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MARTA SALOMON

Jornalista especializada em políticas públicas, mestre e doutora em desenvolvimento sustentável. Ela é pesquisadora associada ao Centro de Desenvolvimento Sustentável CDS/UnB e professora de disciplina sobre informação e mudanças climáticas, e também atua como especialista sênior do Instituto Talanoa. 

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