* Texto escrito por Manuella Caputo e editado por Marília Gehrke a partir de anotações de Denise Vitoriano Silva e Ketyanne dos Santos Silva na oficina “Explore – corretamente! – os microdados do IBGE” , ministrada por Gabriel Assunção, Luna Hidalgo e Pedro Renaux no Coda.BR 2019.

Um dos mais importantes levantamentos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) guarda uma manancial de pautas e possíveis investigações sobre o trabalho, renda e situação de moradia dos brasileiros. A PNAD Contínua conta com atualizações mensais, trimestrais e anuais. Neste tutorial, veremos algumas dicas relacionadas aos microdados do IBGE e, mais especificamente, à PNAD Contínua.

A PNAD Contínua tem dados desagregados para as capitais, mas não detalha todos os municípios brasileiros. Para isso, a dica é buscar o Censo, que foi realizado em 2010 e cuja próxima edição está prevista para 2021.

Para extrair os dados e transformar as informações da PNAD Contínua em uma narrativa jornalística, você deverá baixar os microdados da pesquisa. Mostraremos a seguir como fazer isso. Antes, porém, propomos uma questão: quais pautas ou hipóteses você consegue formular tendo em mãos, por exemplo, informações sobre renda e moradia? 

Vejamos um exemplo real de trabalho que fez uso desta base: uma reportagem publicada no portal de notícias G1 em março de 2020, intitulada “Brasil tem 4,3 milhões de idosos vivendo sozinhos; coronavírus muda rotinas e impõe desafios”. No início da pandemia de Covid-19 soube-se, de imediato, que os idosos estão no grupo de risco e, por isso, são mais suscetíveis à contaminação pela doença. Dessa forma, deveriam evitar, inclusive, idas ao supermercado e outras tarefas cotidianas devido ao risco iminente. Nestes casos, como fica a situação dos idosos que moram sozinhos? 

A reportagem do G1 aborda justamente esses pontos, indicando que mais de 4 milhões de idosos vivem sozinhos no Brasil e, durante a pandemia, precisam contar com a ajuda de familiares e vizinhos para realizar compras em farmácias e supermercados. Ainda que São Paulo tenha o maior número absoluto de idosos (cerca de 1 milhão), a reportagem mostra que o Rio de Janeiro e o Rio Grande do Sul possuem, proporcionalmente, as maiores taxas (número de idosos em relação à população total do estado): 3,2% e 3,1% da população, respectivamente. 

Para viabilizar esta reportagem, a equipe do G1 utilizou os microdados da PNAD Contínua. O tema foi abordado no primeiro módulo do curso Jornalismo de Dados para Coberturas Locais. Na aula, o jornalista Pedro Renaux, gerente de Comunicação do IBGE, realiza o passo a passo para a obtenção das informações no site e mostra como realizar análises simples em editores de planilha.

Já quem tem conhecimento sobre linguagens de programação pode trabalhar o pacote PNADcIBGE, criado pela equipe do IBGE para análise estatística em R. 

UTILIZANDO O PACOTE PNADcIBGE noR

Existem algumas vantagens em acessar e obter os microdados da PNAD Contínua utilizando a linguagem de programação R. Isto facilita processos de automação, o trabalho com grandes volumes de dados e a atualização da informação posteriormente, por exemplo. Além disso, a equipe do IBGE criou o pacote PNADcIBGE, disponível no repositório CRAN, desenvolvido por Douglas Braga e atualmente mantido pelos servidores Gabriel Assunção e Luna Hidalgo. Com ele, o acessos aos microdados fica ainda mais fácil.

Para utilizar os dados, o primeiro passo é ler a documentação do pacote para conhecer os parâmetros e as funções disponíveis para obtenção e análise dos dados. Uma das funções interessantes do pacote PNADcIBGE é a pnadc_deflator, que atualiza rendimentos e outros valores registrados em anos anteriores para os dias atuais, de acordo com a inflação do período. O passo a passo para instalação e uso do pacote pode ser conferido neste tutorial que exemplifica a análise de microdados da PNAD Contínua

 

SAIBA COMO INSTALAR O PACOTE E FAZER ANÁLISES

Ficou com alguma dúvida sobre o pacote? Escreva para pacotepnadc@ibge.gov.br

OUTRAS PESQUISAS

Além da PNAD Contínua, outras pesquisas fazem parte do Sistema Integrado de Pesquisas Domiciliares (SIPD). Em todas elas, o nível de desagregação chega até as capitais brasileiras. A seguir, veja quais são as especificidades de cada uma, incluindo a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) e a PNAD COVID19. 

PNAD Contínua: investiga as características econômicas e sociais da população, principalmente aquelas relacionadas à moradia, renda e ao mercado de trabalho.

Pesquisa Nacional de Saúde: busca caracterizar a situação de saúde e os estilos de vida da população (como acesso e uso dos serviços, ações preventivas, continuidade dos cuidados e financiamento da assistência).

Pesquisa de Orçamentos Familiares: obtém informações sobre os padrões de consumo e gastos das famílias, servindo de base para avaliação de insegurança alimentar e qualidade de vida, além de ser base para a composição dos índices de preços divulgados pelo IBGE.

PNAD COVID19: criada este ano, a pesquisa tem o objetivo de estimar o número de pessoas com sintomas referidos associados à síndrome gripal e monitorar os impactos da pandemia da COVID-19 no mercado de trabalho brasileiro. 

Por enquanto, somente a PNAD Contínua apresenta um pacote específico para análise de dados em R. Em breve, a equipe do IBGE irá disponibilizar outros pacotes para cada uma delas.