Texto de Lisa Charlotte Rost (Datawrapper)

Lisa Charlotte Rost (@lisacrost) é responsável pela comunicação no Datawrapper, especialmente o blog. Ela tem escrito e falado sobre visualização de dados já há alguns anos e é entusiasmada por aprender e ensinar.

Tradução: Isabella Maria Do Livramento Gonçalves


O texto original foi publicado em três partes, reunidas neste único artigo em português. Veja os links abaixo.

How your colorblind and colorweak readers see your colors

What to consider when visualizing data for colorblind readers

What’s it like to be colorblind


Quando visualizamos dados, sempre usamos cores. E nós da Datawrapper temos escrito muito sobre cores. Mas se você não conhece nenhum daltônico é fácil esquecer que algumas pessoas não conseguem distinguir as cores dos seus gráficos tão bem quanto você. Você deveria se preocupar com elas?

Essa não é uma questão fácil. O número de leitores daltônicos difere entre regiões, idades, sexos e tipos de deficiência. Por exemplo, nós sabemos que a deficiência vermelho/verde é muito mais comum em homens do que em mulheres e que é mais comum em pessoas com descendência europeia que asiática¹. 8% dos homens europeus e 0,5% das mulheres europeias parecem ter algum tipo de daltonismo total ou daltonismo parcial para vermelho/verde.

Então, se você tem um blog de design ou um website que é lido apenas por mulheres, não se preocupe muito. Para todas as outras pessoas, eu escrevi essa série de três partes sobre daltonismo. Aqui está o que cada parte irá tratar:

1. Como seus leitores daltônicos e com daltonismo parcial enxergam suas cores

O primeiro artigo explica a diferença entre daltonismo parcial e daltonismo total, e quais combinações de cores são difíceis de distinguir para seus leitores daltônicos.

Nesta parte, você aprenderá sobre:

O básico
    1. Daltonismo parcial
    2. Daltonismo total
Combinações de cores para evitar
    1. Vermelho, verde e marrom
    2. Rosa, turquesa e cinza
    3. Roxo e azul

2. O que levar em conta quando exibir dados para leitores daltônicos

A segunda parte deste texto explica combinações de cores que funcionam, paletas seguras para daltônicos e outras considerações. Elas vão fazer com que seja mais provável que um daltônico consiga ler seus gráficos – e que os leitores com uma visão normal possam decifrá-los mais rápido (todo mundo vai sair ganhando!).

3. Como é ser uma pessoa daltônica?

Na terceira parte, você ouvirá os próprios entusiastas da visualização de dados daltônicos, como nosso CEO do Datawrapper, David. Você irá aprender se/ como eles percebem seu daltonismo como um inconveniente no dia a dia e quando leem (ou desenham!) gráficos e mapas.

Tudo começa com experiências de dez daltônicos. Depois, você ouvirá três pessoas em detalhes, dois cartógrafos e nosso CEO do Datawrapper:

Vamos começar com o básico.

O básico

A melhor explicação que encontrei para o porquê nós vemos cores está nesse vídeo divertido, feito por Calder Hansen.

Como o vídeo explica, nós vemos cores porque as células fotorreceptoras (também chamadas de cones) de nossos olhos reagem a certas ondas de luz. Nós temos três tipos dessas células. Elas são especialmente sensíveis às ondas de luz que se traduzem em vermelho, em verde, ou em azul. Se uma dessas células não estiver funcionando corretamente, você tem pelo menos um pouco de dificuldade em distinguir cores. E se não funcionar, você é daltônico.

Então, existem diferentes tipos de daltonismo e três diferentes tipos de daltonismo parcial, cada um associado a um tipo de cone.

(Também existe a acromatopsia, que é literalmente uma cegueira de cores: você não consegue ver nenhuma cor. Nenhum dos seus cones funciona, só resta o seu senso de luminosidade. É extremamente rara, então não será mencionada nesse artigo.)

Daltonismo parcial

Vamos ver como o mundo se parece para seus leitores com daltonismo parcial. Lembre-se de que as fronteiras entre a visão normal e uma deficiência na visão de cores são borradas. Seus leitores com daltonismo parcial podem ver essas cores de forma melhor ou pior.

Visão normal | Protanomalia - deficiência vermelha (1% dos homens e 0.02% das mulheres) | Deuteranomalia - deficiência verde (5% dos homens e 0.4% das mulheres) | Tritanomalia - deficiência azul (0.0001% da população) | Daltonismo parcial (- anomalias)

Parece que tem um filtro retrô do Instagram por cima das cores, mas é ainda possível distingui-las. Vermelho, verde, azul e amarelo são diferentes um do outro. Daltonismo parcial é muito mais comum que daltonismo; por volta de 6 – 7% dos homens ² têm algum tipo desse daltonismo.

Os nomes desses tipos de daltonismo parcial parecem complicados, mas eles são simplesmente palavras gregas para primeiro, segundo, terceiro e a palavra para anomalia. Então, Protanomalia significa “primeira anomalia”, Deuteranomalia significa “segunda anomalia” e Tritanomalia significa “terceira anomalia”. A ordem das cores é a mesma em RGB: vermelho (red), verde (green), azul (blue). Portanto, a primeira anomalia, Protanomalia, é a dificuldade de distinção da cor vermelha.

Daltonismo total

Vamos prosseguir para o daltonismo. Daltônica é a pessoa que tem um tipo de cone que não funciona. Elas são cegas para a cor vermelha, ou verde ou azul. Pessoas com uma boa visão veem 10 milhões de cores. Daltônicos veem menos.

Daltonismos totais são nomeados do mesmo jeito que a daltonismos parciais, exceto pelo final anopia. O “a” significa “não / sem” e opia – significa “visão”, então anopia significa “sem visão”.

Visão normal | Protanopia - deficiência vermelha (1% dos homens e 0.02% das mulheres) | Deuteranopia - deficiência verde (1% dos homens e 0.01% das mulheres) | Tritanopia - deficiência azul (- < 0.03% da população) | Daltonismo parcial (-anopias)

Sim, isso é pior. A má notícia é que pessoas daltônicas não conseguem distinguir de jeito nenhum certas cores: os seus leitores cegos para o vermelho e para o verde não conseguem distinguir entre essas cores; ou o laranja do verde claro. Já para os leitores cegos para a cor azul, azul e verde parecem iguais.

A boa notícia é que o daltonismo total é raro, pelo menos mais incomum que o daltonismo parcial. Algo em torno de 2 e 3% dos homens são totalmente daltônicos.

Combinações de cores para evitar

A cada 12 homens e a cada 200 mulheres de descendência do norte da Europa têm algum tipo de deficiência em enxergar as cores vermelho ou verde. Essas pessoas ou são daltônicas totais ou daltônicas parciais. Se 500 pessoas verem a publicação, 24 delas talvez tenham algum problema para lê-la por causa disso. Então, aqui está o que se deve evitar.

(A deficiência vermelho-verde são tão similares que as expliquei juntas. Eu deixei de fora explicações para a cegueira da cor azul, mais rara.)

Vermelho, verde e marrom

O que pessoas com visão normal veem | O que pessoas com deficiência na cor vermelha veem - 1% dos homens | O que pessoas com deficiência na cor verde veem - 1% dos homens | Pessoas com deficiência nas cores vermelho e verde não conseguem diferenciar vermelho, verde e marrom

Pessoas com deficiência vermelho-verde têm problemas em distinguir entre o vermelho, verde e marrom, se o brilho for o mesmo. Note que a saturação não faz diferença. é muito mais saturado que , mas os dois aparecem como / para pessoas com deficiência para o vermelho e para o verde.

Também note que vermelho não simboliza “perigo, atenção!!” para leitores com deficiência vermelho-verde, como é para pessoas com a visão normal.

Esquerda: o que pessoas com uma visão normal veem. Direita: o que pessoas com deficiência verde veem. Foto de Jos van Ourwerkerk, Pexels.

Você pode ver isso na imagem acima. A luz vermelha do semáforo não se destaca das árvores ao fundo.

Rosa, turquesa e cinza

O que pessoas com visão normal veem | O que pessoas com deficiência na cor vermelha veem - 1% dos homens | O que pessoas com deficiência na cor verde veem - 1% dos homens | Pessoas com deficiência com as cores vermelho e verde, vermelho e verde podem parecer cinza


Você também pode ver na foto acima que a luz verde claro
do semáforo se parece com um rosa claro . Mas o cinza dos deficiente para a cor verde também tem um tom rosado, então , e parecem tons de cinza para as pessoas deficientes para o verde.

O mesmo acontece com cores mais escuras: e se tornam para deficientes de tons de vermelho. Note que elementos com essas cores não chamam atenção de pessoas daltônicas quando eles estiverem na frente de “linhas de grade” (gridlines) cinza.

A intensidade do cinza depende se você é deficiente para a cor vermelha ou verde; então, certifique-se de verificar os dois tipos de daltonismo.

Roxo e azul

O que pessoas com visão normal veem | O que pessoas com deficiência na cor vermelha veem - 1% dos homens | O que pessoas com deficiência na cor verde veem - 1% dos homens | Pessoas com deficiência com as cores vermelho e verde, roxo avermelhado parece azul

Para pessoas deficientes para o vermelho (e verde), um roxo avermelhado parece azul. Por exemplo:

  • Para deficientes para a cor vermelha, e se parecem com
  • Para deficientes para a cor verde, e se parecem com

Isso também se aplica para tons mais claros ou escuros da cor roxa. Seus leitores com deficiência na cor vermelha verão azul, não importa se você apresentar a eles a combinação ou .

O que levar em conta quando exibir dados para leitores daltônicos

Escolher cores para visualização de dados é difícil, escolher cores seguras para daltônicos é mais difícil ainda. Este artigo tenta ajudar nisso. Ele inclui ideias de design para projetar visualizações de dados seguras para daltônicos. Metade das opções tem pouca a ver com cores: nós vamos falar sobre legendas, efeitos de foco (hover effects), símbolos, formas e padrões.

Usar essas ideias nos seus próximos gráficos ou mapas pode fazer todos os seus leitores felizes: elas simplesmente visam tornar mais provável que os leitores possam distinguir elementos de cores diferentes e garantir que isso seja uma boa ideia em geral. A maioria dos conselhos aqui tornarão seus gráficos mais fáceis de ler. Não apenas para pessoas com alguma deficiência de visão de cores, ou mais velhas ou aquelas que leem seus gráficos com pouca luz – para todos.

Tudo o que você pode usar para fazer seus gráficos e mapas decifráveis para leitores daltônicos

Azul (e laranja)

Se você é fã de verde, aqui estão más notícias: em gráficos que você deseja que sejam lidos por pessoas daltônicas, você não pode combinar verde com laranja/vermelho, nem com o azul de mesma luminosidade.

Visão normal | Visão de um daltônico | Protanopia (deficiência para o vermelho) - 1% dos homens | Deuteranopia (deficiência para o verde) - 1% dos homens | Tritanopia (deficiência para o azul) - < 1% de ambos | Não é ideal: combinar verde com laranja / vermelho ou azul

Aqui está outra visão sobre o mesmo dilema, desta vez com os círculos cromáticos que conhecemos da última vez.

Visão normal | Visão de um daltônico | Protanopia (deficiência para o vermelho) - 1% dos homens | Deuteranopia (deficiência para o verde) - 1% dos homens | Tritanopia (deficiência para o azul) - < 1% de ambos | Não é ideal: combinar verde com laranja / vermelho ou azul

Note que a cor que mais parece a mesma para pessoas com a visão normal e leitores com deficiência vermelho-verde (os tipos mais comuns de daltonismo) é azul. “Azul é o tom mais seguro.” Se você deseja que pessoas com deficiência na cor vermelha e verde, percebam as cores como você, então escolha azul.

Se você precisa de mais de uma cor, o mais seguro é misturar azul com laranja ou vermelho :

  • Deficientes para o vermelho percebem essas cores como azul e verde oliva /
  • Deficientes para o verde percebem como azul e laranja /
  • Deficientes para o azul percebem como azul-petróleo e rosa /

Você pode pensar: “Cores complementares como azul e laranja? Isso é necessário?”. Bem, isso ajuda. O desenvolvedor de software de simulação de deficiência vermelho/verde Peter Cardwell-Gardner me disse: “Pode ser tentador escolher cores próximas umas das outras (por exemplo, azul e roxo) já que elas podem dar à sua imagem um aspecto visualmente atraente e coeso. Mas escolher fazer isso irá atrapalhar minha capacidade de interpretar seu gráfico”.

Mas há uma maneira de escolher cores próximas, de todo modo.

Diferentes brilhos

Você pode usar as cores que você quiser, desde que varie a intensidade de brilho. “Acerte no preto e branco,” muitos professores de visualização de dados têm dito a seus alunos ao longo dos anos. A ideia: se você imprimir seus gráficos em preto e branco e eles continuarem legíveis, qualquer daltônico conseguirá ler também.

É por isso que essas três combinações de cores e muitas outras funcionam.

O que pessoas com visão normal veem | Protanopia (deficiência para o vermelho) - 1% dos homens | Deuteranopia (deficiência para o verde) - 1% dos homens | Tritanopia (deficiência para o azul) - < 1% de ambos | Ideal: combinar o verde com o laranja / vermelho ou azul se eles tiverem intensidades de brilho diferentes.

Assim, você pode indicar ruim e bom com e ⬤, e leitores daltônicos poderão distingui-los. Só fique atento que, para eles, vermelho e verde não funcionam como um indicador para algo bom ou ruim, mas como um verde oliva / laranja mais escuro e outro mais claro.

“Acerte no preto e branco” é a razão pela qual trazer amarelo para suas misturas de cores funciona bem para pessoas daltônicas. Compare essas cores e seu brilho : o amarelo é tão claro que contrasta bem com a maioria das cores “primárias”.

É também a razão pela qual esse texto é quase invisível para leitores daltônicos. Para leitores deficientes para o vermelho, ele se parece com esse texto, e não com um vermelho vibrante.

Paletas de cores seguras para daltônicos

Agora que nós sabemos sobre cores seguras, como azul e laranja, bem como sobre variar o brilho, nós podemos criar paletas inteiras.

Masataka Okabe e Kei Ito propõem a seguinte paleta de cores seguras para daltônicos, que encontrei referenciada muitas vezes online.

O que pessoas com visão normal veem | Protanopia (deficiência para o vermelho) - 1% dos homens | Deuteranopia (deficiência para o verde) - 1% dos homens | Tritanopia (deficiência para o azul) - < 1% de ambos | Sugestão da internet de paleta segura para daltônicos

A paleta vem com cores que leitores daltônicos podem não conseguir distinguir, de acordo com Viz Palette, especialmente se forem usadas para linhas finas, como e , ou e . Eu indiquei essas cores com círculos conectados.

Também não recomendo usar verde e rosa se você estiver usando vermelho ou azul – assim que você começa a alternar estas cores, você estará se aproximando perigosamente do que as pessoas com deficiência na cor vermelha/verde percebem como vermelho e azul. 

Aqui está minha tentativa de criar uma paleta segura para daltônicos. Reduzi as combinações para as clássicas cores frias e quentes:

O que pessoas com visão normal veem | Protanopia (deficiência para o vermelho) - 1% dos homens | Deuteranopia (deficiência para o verde) - 1% dos homens | Tritanopia (deficiência para o azul) - < 1% de ambos | Minha sugestão de paleta segura para daltônicos

As cores dessa paleta são otimizadas para…

  • ter contraste o suficiente com as outras cores, em cada tipo de daltonismo (de acordo com Viz Palette)
  • serem agradáveis
  • serem flexíveis a pequenas mudanças: se você não gostar de nenhum dos azuis acima, basta alterá-lo. Desde que o azul permaneça com o mesmo brilho, está tudo bem usá-lo.

Aqui está um exemplo de como aquelas cores vão funcionar em um gráfico:

O que pessoas com visão normal veem | O que pessoas com protanopia (deficiência para o verde) veem - 1% dos homens


Um efeito colateral bom de usar apenas tons vermelhos/laranjas e azuis é que fica fácil prever o que verão pessoas com deficiência nas cores vermelhas/verde. É difícil manter em mente que
se parece com e se parece com para os deficientes para a cor verde. É mais fácil lembrar que se parece com e se parece com .

Mas talvez não seja necessário se preocupar em especificar cinco, seis, sete cores seguras para daltônicos. Talvez você não precise de tantas cores assim.

Poucas cores

Quanto mais cores você usar, mais difícil será diferenciá-las – isso é verdade para todos os tipos de leitores, mas mais provável com os daltônicos. O daltônico deficiente para o verde e analista de dados Lee Durbin me disse: “se eu vejo muitas cores sendo usadas em um gráfico (digo, mais que 3 ou 4), tendo a me distrair se outros indicadores visuais, como anotações, não estão sendo usados.”

Para não deixar Lee e os outros distraídos, escolha um tipo de gráfico que precise de menos cores e, no lugar, coloque a legenda sobre os dados diretamente no gráfico, como em gráficos de barras:

(À esquerda) Não ideal: Índia, Estados Unidos, Espanha, Itália, Peru, Haiti | (À direita) Melhor: Índia, Estados Unidos, Espanha, Itália, Peru, Haiti

Você também pode colorir apenas os dados mais importantes para reduzir cores. Faça a pergunta: o que é mais importante nos meus dados? Quais são uma ou duas percepções (insights) que meus leitores devem entender?

(À esquerda) Não ideal: Índia, Estados Unidos, Espanha, Itália, Peru, Haiti | (À direita) Melhor: Índia, Estados Unidos, Outros

Certifique-se de que esses valores mais importantes se destaquem e sejam distinguidos por todos os seus leitores, incluindo os daltônicos. Em seguida, diminua o tom dos outros ou agrupe-os.

Simuladores de daltonismo

Se você quer escolher suas próprias cores e checar se os leitores daltônicos conseguem distinguir entre elas, teste-as. Existem muitas ferramentas úteis e gratuitas por aí; aqui estão apenas alguns exemplos. Você pode simular todos os três tipos de daltonismo nelas:

  • Coblis é um site onde você pode fazer o upload de imagens/prints da tela para checar.
  • Color Oracle é um aplicativo disponível para Mac, Windows e Linux que mostra com um atalho a sua tela inteira, como se estivesse sendo vista por um daltônico.
  • Sim Daltonism é um aplicativo para Mac que apresenta uma janela redimensionável e móvel que mostra a tela subjacente como se fosse vista por uma pessoa daltônica.
  • Existem extensões para o Firefox como Let’s get color blind, mas você também pode usar o Firefox Accessibility Inspector nas ferramentas de desenvolvedores.
  • Existem extensões para Chrome com Colorblinding ou Spectrum, mas você também pode usar o recurso emular visão de daltônicos na opção de ferramentas do desenvolvedor.

Se você está usando o Datawrapper, você não precisa se preocupar em instalar nada. Nossa ferramenta automaticamente avisa a você quando as cores são difíceis para daltônicos distinguirem, assim:

Você pode aprender mais sobre essa ferramenta no post de anúncio da funcionalidade, em nosso blog.

Mas não confie muito nessas ferramentas. Novamente, as palavras do Peter: “a maioria dessas pré-visualizações que tentam mostrar como  pessoas daltônicas enxergam as coisas não são 100% corretas. Elas podem te dar uma noção, mas apenas isso. Todo mundo é diferente. A única solução ‘a prova de balas’ é codificar seus dados com uma segunda variável: posição, formas e padrões.”

Vamos olhar algumas opções de como fazer isso.

Símbolos

Se você não pode “acertar no preto e branco” – por exemplo, porque você precisa usar as cores da marca da sua empresa – não confie apenas nas cores para comunicar seus dados. Considere usar símbolos em tabelas, formas em gráficos de dispersão, padrões em mapas e linhas pontilhadas em gráficos de linhas.

Vamos focar nos símbolos primeiro. Para mostrar para leitores daltônicos se algo é bom ou ruim, use códigos duplos com símbolos, como ✔️:

À esquerda, o que pessoas com visão normal veem | À direita, o que pessoas deficientes para verde veem - 1% dos homens.

Na tabela acima, eu não apenas adicionei símbolos [na coluna da esquerda, em cada imagem] como também mudei o verde para um mais claro . Como resultado, todas as três cores têm diferenças no brilho. Isso deixa muito mais fácil para deficientes para as cores vermelho/verde olharem essa tabela.

Formas

Se você estiver usando um gráfico como o de dispersão, considere usar diferentes formas no lugar de apenas um círculo. Retângulos, triângulos, cruzes e estrelas são escolhas populares.

À esquerda, não ideal | À direita, melhor.

Infelizmente, usar todas essas formas rapidamente faz as coisas parecerem um carnaval. Limite-se a usar de três a quatro formas para evitar isso.

Posições e formas

Para codificar muitas variáveis com poucas formas, você pode combiná-las com uma posição fixa e criar os chamados “glifos”. São pequenos marcadores constituídos por alguns elementos nos quais tamanho, cor e/ou forma dependem dos dados.

Glifos, codificando 8 variáveis

Glifos são feitos com formas, mas legíveis devido as suas posições sempre idênticas: o glifo acima tem dois círculos , mas um está no meio e outro não. Isto facilita a compreensão de que codificam dados diferentes. E permite utilizar as mesmas formas várias vezes.

Leitores daltônicos conseguem decifrar glifos, mas fazer isso demanda tempo: glifos não são nada para leituras dinâmicas ou um olhar panorâmico sobre o texto. Eles demandam leitura lenta.

Padrões

Combinar bem padrões pode ser difícil, mas pode valer a pena acertar. Aqui está um mapa que é ilegível para deficientes para vermelho:

À direita, o que pessoas com visão normal veem | À esquerda, o que pessoas com deficiência com a cor vermelha veem - 1% dos homens

Adicionando padrões pode-se resolver isso. Manteremos as mesmas cores, mas agora todos os leitores poderão ver a diferença entre a França e a Alemanha:

O que pessoas com visão normal veem

Tome cuidado quando combinar tonalidades com padrões: o padrão mudará o quão claras ou escuras as cores são percebidas. No exemplo acima, as linhas brancas finas tornam o verde mais claro.

Diferentes larguras de linha e traçados

Se você usar cores com brilho e tom parecidos em um gráfico de linhas, use diferentes espessuras de traços para separá-las. Eu fiz isso para esse gráfico do Datawrapper River:

A linha Gold (ouro) e a linha Bitcoin podem ser facilmente confundidas onde estão sobrepostas no mês de março. Para evitar confusão, eu fiz a linha Gold (ouro) pontilhada. Eu também poderia ter feito uma dessas linhas grossas e a outra fina.

Ambos os jeitos aumentam as chances de que leitores (daltônicos) compreendam os dados. Aqui está como o gráfico era visto antes da linha pontilhada.

À esquerda, o que pessoas com visão normal veem | À direita, o que pessoas com deficiência para o verde veem - 1% dos homens

Vamos olhar mais duas opções para fazer sua visualização de dados mais legíveis para daltônicos, legendas e interatividade:

Legendas diretas

Legendas de cores são um problema para pessoas daltônicas decifrá-las- então tente livrar-se delas por completo. Em gráficos do tipo linha, área, ou pizza, legende-os diretamente.

À esquerda, o que pessoas com visão normal veem | À direita, o que pessoas com deficiência para o verde veem - 1% dos homens


Ainda que todas as dicas até aqui permitem que os seus leitores de visão normal leiam suas visualizações mais rapidamente, esta especialmente poupa muito tempo de todos seus leitores. Todo mundo vai sair ganhando!

Destaque POR MEIO dA interação

Se você está projetando os gráficos para a web, efeitos de foco (hover) podem ajudar seus leitores daltônicos a lerem seus dados.

◼ sem sucesso ◼ sucesso | À esquerda, 23% / 77%, Total: 302, Fase 1 | À direita, 47% / 53%, Total: 320, Fase 2 | Obtenha os dados - Criado com o Datawrapper


Aqui, ambas as cores
e se parecem com para uma pessoa daltônica. Porém, a partir do momento em que eles interagem com o gráfico e passem o mouse sobre uma fatia, poderão compreender os dados exibidos em cada uma.

Efeitos de foco ÚTEIS podem:
  • Fazer com que, ao passar o mouse sobre as legendas das cores, sejam realçados os elementos do gráfico coloridos desta forma;
  • Fazer com que, ao passar o mouse sobre um elemento do gráfico com certa cor, sejam destacados outros elementos do gráfico coloridos desta forma e a legenda da cor em questão;
  • Fazer com que, ao passar o mouse sobre um elemento gráfico, seja exibida uma caixa flutuante (tooltip), que inclua a informação codificada por cores (por exemplo, em mapas coropléticos);

Você pode encontrar o mesmo efeito no gráfico de linhas na seção “Diferentes larguras de linha e traçados” acima – passe o mouse sobre uma linha e a outra desaparecerá.

Pergunte a pessoas daltônicas

Por último mas não menos importante: pergunte às pessoas para quem você está desenhando, se elas conseguem entender seu gráfico ou mapa.

Você não conhece ninguém que é daltônico? Pergunte a seus colegas de trabalho. Pergunte a seus amigos. Pergunte na sua rede social favorita se alguém que seja daltônico tem 5 minutos para lhe ajudar. Pergunte em um grupo de Facebook ou fórum para daltônicos. Ainda não teve sorte? Se não for algo urgente, envie um e-mail (em inglês) para lisa@datawrapper.de e encaminharei a sua pergunta para uma pessoa daltônica.

Como é ser uma pessoa daltônica?

Quando nós, designers de visualização de dados com visão normal, consideramos o daltonismo, é muitas vezes uma reflexão tardia ou um item não marcado na lista de verificação de acessibilidade que recebemos de um cliente.

Para pessoas daltônicas, é a vida delas. Uma vida que vem com problemas, surpresas e uma vista especial. "Mágico", “horrível", "frustração e irritação”, “revelação” são apenas algumas palavras que surgiram quando eu perguntei a 10 pessoas suas experiências como daltônicas. Este é o objetivo desta parte do texto: mostrar alguém em quem pensar quando você fizer o ✔️ na lista de verificação de acessibilidade.

Relatos de dez pessoas

Quando anunciei o primeiro artigo da série no Twitter, pedi para que pessoas daltônicas entrassem em contato comigo. E um bocado delas entraram! Estou muito agradecida de poder compartilhar suas experiências aqui.

  • Wesley Jones, cartógrafo, com DEFICIÊNCIA NA COR VERDE
  • Mark Harrower, designer e cartógrafo, com DEFICIÊNCIA NA COR VERDE
  • David Kokkelink, CEO da Datawrapper, com DEFICIÊNCIA NA COR VERDE
  • Mulher anônima, estudante, com DEFICIÊNCIA NA COR VERDE 
  • Graeme Grimes, bioinformático, com DEFICIÊNCIA NA COR VERDE 
  • Lee Durbin, analista de dados, com DEFICIÊNCIA NA COR VERDE 
  • Peter Cardwell-Gardner, desenvolvedor de software, com DEFICIÊNCIA NA COR VERDE E VERMELHO
  • Aaron Ghitelman, consultor de comunicação,com DEFICIÊNCIA NA COR VERDE E VERMELHO 
  • Rob Morton, funcionário do governo local, com DEFICIÊNCIA NA COR VERMELHA E DEFICIÊNCIA PARCIAL COM VERDE
  • Kevin Lee Elder, professor de sistemas de informação de gestão, que antes deu palestras sobre daltonismo na visualização de dados, tem ACROMATOPSIA

Os diferentes tipos de daltonismo combinam perfeitamente com as estatísticas: a maioria das pessoas que perguntei tem deficiência com o verde, que é o tipo mais comum de daltonismo. O daltonismo também é muito raro entre as mulheres, e de fato, apenas os homens responderam ao meu tweet. Felizmente, minha colega de trabalho Edurne apresentou-me à sua amiga com deficiência com verde e ela também concordou em responder às minhas perguntas - obrigada, Edurne!

Como é ser daltônico no dia a dia

A primeira pergunta que eu fiz a essas dez pessoas foi como seu daltonismo é inconveniente no seu dia a dia. As respostas diferem muito. Desde “o daltonismo não impacta no meu dia a dia” (Aaron), “é um inconveniente diário” (Graeme) até “ser daltônico é horrível” (Rob), as pessoas a quem perguntei parecem relacionar-se de formas diferentes com o seu problema (que provavelmente também são muito diferentes).

Quando é que é um fardo? Aqui estão algumas das respostas que ouvi:

  • Comprando roupas: “Eu gosto de acreditar que me visto bem, apesar disso.” (Aaron)
  • Aparelhos eletrônicos: quando um único LED muda de verde para vermelho, por exemplo. em LEDs de carregamento. “Isso pode ser impossível de distinguir.” (Peter)
  • Weblinks: se o link é de uma página que você não visitou, é azul, se você já visitou a página, é roxo. Também é difícil de distinguir.
  • Texto, na web e interfaces de aplicativos, por exemplo, vermelho sobre preto. Ou em livros: “Eu não consigo ler livros infantis quando o texto tem um fundo colorido.” (Rob)
  • Falar sobre cores e hobbies criativos: "O meu médico descobriu que sou daltônica perto do Natal, pouco antes de ter ajudado o meu tio a vender alguns itens de couro num mercado. Lembro de me sentir desconfortável vendendo couro colorido e de ter consciência sobre isso, quando pessoas se questionavam sobre qual cor escolher. O meu daltonismo também costumava incomodar quando eu pintava. Tinha medo de 'fazer algo de errado'. Mas já superei isso. E continuo a pintar". (Amiga de Edurne)
  • Esportes: “Em academias de escalada, eu posso ter que pedir para outro alpinista apontar os apoios codificados por cores.” (Peter)
  • Jogos: "No vídeogame, com o jogo esportivo FIFA, uma equipe terá que usar camisas brancas e a outra camisas com uma cor forte - ou então não posso dizer em que equipe está cada pessoa". (Aaron)
  • Cozinhar: “Quando minha comida está cozida?” (Rob)

Dito isto, a maioria das pessoas explicou que muitas vezes não sabe que e quando possuem um problema: “Talvez eu perceba as cores de formas diferentes mais frequentemente do que eu imagino, mas é difícil saber”, disse Lee. E a amiga de Edurne explica: “Presumo que percebo as cores de forma diferente do que penso. Eu geralmente percebia isso quando alguém chama o nome das cores que eu vejo. É como um momento estranho tipo 'a-ha'!”

Como é ser daltônico e ler uma visualização de dados

Então, o quão inconveniente é o daltonismo quando se trata da leitura de visualização de dados? Aqui as opiniões diferem de "quase toda visualização de dados têm cores pobres" (Kevin), "90% das visualizações de dados que dependem da cor são difíceis ou impossíveis de interpretar" (Graeme) e "1 a cada 3 visualizações de dados baseadas em cores provavelmente me causam problemas" (Aaron) até “designers profissionais de visualização de dados em organização com uma grande reputação, como o The New York Times, fazem muito bem” (Peter).

E assim as emoções diferem, quando pessoas daltônicas veem uma visualização de dados legível ou não legível: "Dou um pequeno salto de alegria quando vejo uma visualização com diferenças suficientes nas suas cores", disse Rob. E Aaron explica o que acontece se não for esse o caso: "A primeira reação é sempre frustração e irritação. É pior na quarentena, onde não tenho colegas de trabalho a quem posso pedir para me explicar os gráficos". "Quando olho para as visualizações, tendo a levar o meu tempo", disse a amiga de Edurne. "Quando o faço com outras pessoas e elas são muito mais rápidas em compreender o significado - isso pode ser frustrante".



Por isso, vamos ouvir os próprios designers. A seguir temos três entrevistas com pessoas deficientes para a cor verde: duas com cartógrafos - Wesley Jones e Mark Harrower - e uma com o CEO da Datawrapper, David Kokkelink, que também viu e criou muitos gráficos na sua vida.

Você verá que todos eles trazem diferentes experiências e perspectivas instigantes. Estou muito feliz por poder compartilhá-las com vocês.

Eu adicionei as cores como Wesley, Mark e David as vêem.

Perguntando a Wesley Jones

Após publicar a primeira parte da série, o cartógrafo John Nelson entrou em contato comigo. Ele perguntou se eu ficaria feliz, se fosse apresentada a dois dos seus colegas com deficiência com a cor verde da ESRI, Wesley Jones e Mark Harrower? Claro que podia!

Vamos começar com Wesley.

Wesley, como você descobriu que era daltônico?

Eu não sabia que era daltônico até o 11° ano [equivalente ao 2° do ensino médio brasileiro]. Eu gostava de fazer aqueles testes de Ishihara, mas eu pensava que eles eram inúteis porque em alguns eu não conseguia ver os números.

Teste de Ishihara, nomeado com o nome do seu designer Shinobu Ishihara, como as pessoas de visão normal o veem (esquerda) e como Wesley o vê (direita).


Eu contei isso ao meu amigo. Ele olhou para o livro e disse que tinha um número em todos! Eu lembro de olhar todos aqueles testes pelos dias seguintes, chocado que eu não conseguia ver os números. Eu penso que minha história é um tanto comum -
que muitas pessoas daltônicas não sabem que são daltônicas até ficarem mais velhas.

O quão inconveniente é ser deficiente para o verde no dia a dia?

Eu não vejo isso como um inconveniente, no geral. Eu vejo como um dom, porque eu posso ver o mundo de forma diferente. O mundo parece magicamente colorido para mim, eu não consigo imaginar como ele seria para alguém com uma visão normal.

Mas continua sendo um pouco problemático às vezes. Algumas luzes intermitentes na rua (com apenas uma lâmpada) meio que parecem que podem piscar como vermelho ou amarelo, então eu tenho que realmente me concentrar quando as vejo. Também acontece que gosto de jogos de tabuleiro e é notável a quantidade de cores que são difíceis de distinguir. Quanto mais importante a coisa, mais significativo é o inconveniente.

Contudo, isso não pode ser assim tão inconveniente, porque eu não sabia que era daltônico durante os primeiros 17 anos da minha vida. Em geral, os meus filhos e eu nos divertimos muito quando eu pinto algo um pouco estranho.

E o quão inconveniente você acha o seu daltonismo quando se trata de visualização de dados?

Isto tende a ser bastante frequente. Talvez porque a cor seja utilizada como um identificador na visualização, alguém se percebe como daltônico mais frequentemente quando olha para visualização de dados.

Isto é especialmente verdade se for utilizada uma legenda. Tenho muita dificuldade em olhar para esse pequeno item de legenda e em fazer a correspondência com o gráfico. Não tenho qualquer problema em pedir ajuda, mas muitas visualizações de dados são difíceis de interpretar sozinho. Geralmente, a dificuldade não está em toda a visualização, mas sim em um par de categorias.

A sua deficiência COM O verde também é um problema quando FAZ SUAS PRÓPRIAS VISUALIZAÇÕES DE dados?

Eu não tenho problemas criando mapas ou visualizações – porque eu só posso ver o que eu posso ver. Contudo, eu estou ciente que posso estar escolhendo cores indesejadas. Quanto mais próxima da realidade a cor precisa ser, mais eu me certifico de que alguém confira as cores que eu escolhi.

Círculo cromático HLS como as pessoas de visão normal a veem (esquerda) e como Wesley a vê (direita). "Confio fortemente em rodas de cor como esta – e gosto principalmente deste design, já que é o mais intuitivo e útil para mim".


Ocasionalmente, as pessoas me falam que certas cores são similares, e eu tenho que fazer ajustes – às vezes é difícil para mim acreditar, porque as cores que eles escolhem parecem muito diferentes para mim.

Alguém me disse uma vez que meus mapas tinham um aspecto ligeiramente diferente para eles, mas que isso ajuda a torná-los um pouco únicos. Eu realmente tento prestar atenção nas cores que estou escolhendo no círculo cromático.

Entretanto, descobri recentemente que quando estou criando designs (mapas ou desenhos) que meus azuis tendem a parecem arroxeados para ou outros. A minha água azul é muitas vezes uma água azul-púrpura.

Um mapa em aquarela feito por Wesley, como as pessoas de visão normal o veem (esquerda) e como Wesley o vê (direita). "Tive de mudar a água algumas vezes porque às vezes ela ficava roxa demais".

Além disso, o verde tende a ter frequentemente tons de pele quando eu desenho. Ainda não tenho certeza de como isso acontece tão frequentemente. [Nota de Lisa: verde claro e um tom de pele claro   se parecem com para Wesley.]

Qual o seu conselho para designers de visualização de dados com visão normal?

Eu quero que as pessoas continuem usando todas as cores disponíveis para elas (eu só consigo imaginar o quão fantástico o espectro de cores completo deve ser), mas meu conselho seria considerar a importância da sua mensagem. Se é importante ou você quer que todos a vejam, considere a parte da população que não poderá vê-la, se o gráfico não tiver sido testado para daltonismo

Perguntando a Mark Harrower

Como Wesley, Mark é um cartógrafo na ESRI. Ele tem projetado mapas e gráficos por décadas. Ele também tem deficiência com a cor verde – e tem muitas opiniões. Nessa entrevista, Mark explica quais esquemas de cores funcionam para mapas e quais não (“80% do Colorbrewer”), por que a visualização de dados ficou menos legível para daltônicos com o passar do tempo (“45 tons de pêssego), e como o óculos Enchroma tem mudado sua visão (“Eu entendo agora”):

Mark, você é um designer. Como se projeta de forma diferenciada por causa do daltonismo?

Eu acho que meu daltonismo afeta meu trabalho em quatro formas:

  1. Eu nunca projeto com cores pastéis ou sem saturação - elas são um fracasso completo para mim.
  2. Eu sou um grande fã de mapas em tons de cinza com uma ou duas cores óbvias com tons vivos. (como esse do Datawrapper, ou a estética dos livros da DK [Dorling Kindersley])
  3. Eu não sou muito confiante nas minhas escolhas estéticas quando eu tenho que usar cores para um cliente. Coisas que parecem ter uma boa combinação de cores para mim soam estranhas para os outros - toda hora eu acidentalmente uso roxo como hipertexto, já que para mim se parece com um azul sem sautração.

Cores têm menos efeito emocional em mim; eu sou menos seduzido por elas nos meus designs. Assim, para criar um “espírito” ou “sensação” para um design, eu vou me basear em texturas, fontes e motivos gráficos ["graphics motives"] (como o basemap do jornal do Esri, que é em tons de cinza). Estes são mais sugestivos do que usar apenas cores.

O basemap do Jornal Esri, visto por pessoas de visão normal (esquerda) e visto por Mark (direita).

E o que você faz de forma diferente especificamente quando está projetando mapas?

Eu uso apenas degradês de cores de um só tom (como vermelho claro a vermelho escuro ) já que eu posso facilmente ver a diferença de claridade e os outros também. A maioria dos degradês de cores com vários tons são muito sutis para mim, para serem utilizadas nos mapas coropléticos, incluindo cerca de 80% das que se encontram no Colorbrewer. Elas parecem idênticas para mim.

À esquerda: Multi-tons / Tom único | À direita: Multi-tons / Tom único |

A opinião de Mark sobre os esquemas de cores sequenciais de várias cores e de uma só cor no Colorbrewer

Se eu uso múltiplos degradês, vão ser degradês amarelos e azuis ou degradês viridis:

Esquemas de cor Viridis, como visto por pessoas de visão normal

Esquemas de cor Viridis, como visto por Mark

Você já tem visualizado dados por algumas décadas. Como está o cenário agora comparado a antes em relação ao daltonismo?

Eu diria que as coisas pioraram com as visualizações de dados. Temos agora o duplo golpe de

  1. Domínio supremo dos degradês sem classe: toda a filosofia "deixar os dados falarem por si", quando na realidade cinco cores fáceis de distinguir num mapa teriam comunicado o mesmo, sem os crescentes problemas de contraste simultâneos.
  2. Estamos vivendo numa era de design estético super sutil sendo abraçada por todas essas pessoas de 20 e poucos anos (que, como cinicamente penso alguns dias, estão desenhando para impressionar uns aos outros e para ganhar o prêmio "Information is beautiful" do próximo ano). O pêndulo tem oscilado muito longe dos desenhos de néon berrantes de 4 cores dos anos 80 para uma estética de "apenas diferenças notáveis" consideradas "bacaninhas". Essas fontes de 8 pt e 45 tons de pêssego não são um acerto.
Como o seu daltonismo ajuda quando está projetando?

Como designers, passamos muito mais tempo no design do nosso material do que o nosso público irá gastar lendo. Muitas vezes eles estão apenas marginalmente interessados no nosso trabalho; apenas olham de relance para ele (como o New York Times e outros descobriram com as suas métricas).

O daltonismo é um bom substituto para um público assim. Fazer com que os gráficos funcionem em 1 a 3 segundos - "de relance, enquanto eu rolo a tela do meu feed de notícias" - é análogo a fazê-lo funcionar para pessoas com má visão para cores ou pessoas que não conseguem ver detalhes finos e fontes pequenas. "Mantenha tudo simples e óbvio", funciona tanto para problemas de visão como para audiências semi-desinteressadas.

Por último, mas não menos importante: você tem algum conselho para designers de visualização de dados?

O meu conselho é sempre o mesmo: parem de favorecer tanto apenas uma das variáveis visuais de [Jacques] Bertin (tonalidade) para distinguir as diferenças em tipos. Melhor ainda, faça a dobradinha com outras variáveis visuais para fazer o trabalho pesado (combinar tanto a forma como a tonalidade, ou a tonalidade e o brilho, etc). Isso é simplesmente um design melhor, menos sujeito a erros – não apenas para nós, indivíduos daltônicos. Eu digo sempre aos meus alunos: imprimiu em escala de cinzas? Ainda é compreensível? É à "prova de bala".

O meu pensamento sobre isso tem sido influenciado por ter óculos Enchroma, tanto de interior como de exterior, nos últimos 3 anos. Eles não são uma correção, ainda não consigo passar nos testes de Ishihara, mas OH MEU DEUS, QUE REVELAÇÃO. Literalmente muda a sua vida ver roxo, rosa e pêssego pela primeira vez. E o verde nos semáforos! O mais inesperado foi o quanto os tons mais luminosos e intensos são... Como o laranja do colete de segurança. É ridículo. Agora eu entendo.

Perguntando a David Kokkelink

David é o CEO da Datawrapper, empresa na qual eu trabalho. Que ele também seja parte do 1% de homens que têm deficiência verde (deuteranopia) é algo que eu não soube por um longo tempo, e quase ninguém do nosso time nunca notou. Eu estava curiosa se/como isso afetava ele no seu dia a dia e quando via visualizações de dados.

David, como e quando você descobriu que tinha deficiência para a cor verde?

A primeira vez que eu percebi eu tinha algo em torno de 3-4 anos de idade, quando eu perguntei aos meus pais o motivo de todos dizerem que a grama era verde quando eu claramente via vermelho . O próximo momento que lembro foi identificar a cor verde do semáforo como branco .

Esquerda: O que pessoas com visão normal veem. Direita: O que David vê. Foto feita por Jos van Ourwerkerk, Pexels.


Eu tive um diagnóstico formal de um oftalmologista que tinha deficiência para verde quando eu tinha por volta de 12-13 anos.

O quão inconveniente é ser deficiente para a cor verde no dia a dia?

Não é um problema muito grande. Isso me faz ser conservador com escolhas de cores para coisas como roupas e móveis (meu guarda-roupa é cheio de roupas pretas , brancas , cinzas , e talvez azul escuro ⬤).

Um efeito colateral do daltonismo é que eu nunca consigo lembrar de que cor as coisas são, mesmo para cores que eu deveria conseguir distinguir. Eu acho que como minha visão de cores não é confiável, eu meio que inconscientemente me treinei a não prestar atenção nenhuma nas cores. Um exemplo prático: eu estou sentado na sala de estar agora. Do meu lado está o meu quarto. Eu não conseguiria dizer qual é a cor do meu quarto usando só a memória. Provavelmente cinza ou azul escuro ou algo do tipo. Eu sei que é bastante escuro, mas eu não faço ideia de que cor é especificamente, mesmo que eu o veja diariamente. Isso é ocasionalmente um problema quando as pessoas pensam que eu simplesmente não me importo, como esquecer a cor dos olhos da namorada, etc.

O quão inconveniente você acha o seu daltonismo quando se trata de visualização de dados?

Eu vejo visualizações de dados, eu só não consigo lê-la às vezes, por exemplo nesse tweet que mostra um mapa feito pelo Serviço Meteorológico Alemão:

Esquerda: O que pessoas com visão normal veem. Direita: O que David vê. Mapa feito pelo Serviço Meteorológico Alemão.


Eu diria que 90% das instâncias problemáticas ocorrem quando as pessoas tendem para um espécie de sinalização de "semáforo", de vermelho
/ amarelo / verde .

Eu acho que os praticantes de visualização de dados “modernos” acertam na maior parte do tempo. Os exemplos terríveis geralmente são encontrados em livros de escola ou em publicações governamentais, geralmente, eles parecem ter sido feitos com o Excel 95.

Qual foi sua primeira reação quando encontrou visualizações de dados que teve problemas para ler por causa do seu daltonismo?

A maior parte das vezes não me dou ao trabalho de lê-las, não há maneira de decifrá-las, mesmo que eu encare por uma hora, eu vou continuar sem ver nada. Durante quanto tempo você olharia para uma impressão em preto e branco de um gráfico para decifrar sua cor?

Uma coisa que as pessoas não entendem é que realmente não importa qual tipo de daltonismo você tem. Eu sou deficiente para a cor verde, por isso eu deveria ser capaz de ver, por exemplo, laranja , roxo e cinza , mas isso não ajuda muito quando não se sabe se o que lhe parece roxo é realmente roxo , ou algum tom de turquesa . Você não sabe quando você não está vendo do jeito que deveria, então você deve desconfiar da sinalização como um todo.


¹ A meta-análise de Jennifer Birch em 2011, "Worldwide prevalence of red-green color deficiency”, “confirma que a prevalência de deficiência em homens europeus caucasianos é em torno de 8% e que a prevalência na população asiática é entre 4% e 5%.” 

² Não consegui encontrar números consistentes para os diferentes tipos de deficiência (até mesmo esse artigo na Wikipedia se contradiz), então não confie muito nos números que menciono neste artigo.

*Agradeço a Peter Cardwell-Gardner, Lee Durbin, Aaron Ghitelman, Kevin Lee Elder, e Rob Morton, que me escreveram após a publicação da primeira parte do texto e que me aconselharam diretamente neste artigo. Vocês leram mais coisas deles e outros na parte 3: “Como é ser daltônico.”

*Um grande obrigada ao David, Wesley, Mark, amigo da Edurne, Graeme, Lee, Peter, Aaron, Rob e Kevin por partilharem conosco as suas experiências! Isso me permitiu pensar de forma diferente sobre o daltonismo – posso imaginá-lo melhor agora – e espero que ajude você também, caro leitor. Se quiser saber mais sobre a vida como pessoa daltônica, posso recomendar o wearecolorblind.com