A transformação de territórios e maretórios pela geração cidadã de dados
SOBRE O WORKSHOP
Texto por Jenifer Pereira
Revisado pela Escola de Dados
De que forma a geração cidadã de dados impacta a sociedade atual? Rodrigo Firmino, PhD e professor da PUC Paraná, introduz e media as apresentações com essa pergunta. Em resposta, ele afirma que a geração cidadã de dados é, para além de uma pesquisa produzida dentro dos territórios periféricos, uma forma de politização e luta de comunidade frente ao avanço de políticas que impactam negativamente seus territórios.
Dados de pesquisas oficiais, como o IBGE, por exemplo, são sempre os mais relevantes quando se fala em questões sociais, climáticas, geográficas nacionais ou de determinada região. Atualmente não há espaços para dados sem embasamento acadêmico ou sem o respaldo de grandes centros de pesquisa, uma vez que essas características são sempre levadas em consideração quando falamos de dados oficiais. Entretanto, uma parte da sociedade sempre sinalizou problemas como “o censo não foi na minha casa” ou “isso está fora da minha realidade; aqui não tem isso”. Pesquisas que levam em consideração tanto a pessoa pesquisadora quanto quem é pesquisada/entrevistada não costumam acontecer com frequência.
Pensando nessa situação, os pesquisadores e ativistas Matheus Adams (Coletivo Cuíra), Dr. Marcos Roniely (UFPA) e Bianca Barbosa (Observatório do Marajó) se empenham junto de sua equipe e comunidade em promover uma melhor inserção dos povos ribeirinhos e quilombolas da Ilha do Marajó nos dados de pesquisas, como do IBGE. Bianca e Matheus, através de seus projetos, atuam em comunidades adjacentes para produzir dados sobre saúde, clima, territórios e população. Os projetos, coordenados pelo Observatório do Marajó, rendem às comunidades manuais, campanhas, cartilhas e agendas, como “Campanha de comunicação ribeirinha ‘Éguas do Corona”, “Marajó Melhor”, “Caderno do Marajó: uso e ocupação do solo” e “Recomendações de boas práticas para o enfrentamento de emergências climáticas no Marajó”. Além disso, promovem o engajamento e o protagonismo dos jovens que moram na comunidade, como Matheus Adams, que atua em conjunto com outros jovens para melhorar a chegada de informações nas comunidades e a publicação audiovisual dos movimentos feitos pelo coletivo.
Nessa mesma linha, Dr. Roniely fala sobre a necessidade de pesquisas acadêmicas atreladas fortemente às comunidades ribeirinhas, uma vez que, ao promover a comunicação direta entre a academia e sociedade, as pesquisas podem ter mais informações e serem mais fiéis ao priorizar as informações dadas pelas pessoas moradoras. Além disso, facilitar a comunicação entre pesquisadoras e ribeirinhas é essencial para que essa colaboração seja bem aproveitada. Nesse caso, não se prender aos termos técnicos no momento de colaboração é o ideal.
Pessoas pesquisadoras e ativistas como eles estão cada vez mais presentes em suas comunidades, trabalhando e produzindo de forma colaborativa e consciente – o que, como bem falou Bianca, “resulta na inclusão de moradores da Ilha do Marajó no Censo, algo que os ribeirinhos relatam que não acontecia anteriormente.”
LOCAL
Sala E206
NÍVEL
Básico.
REFERÊNCIAS
Bianca Barbosa
Quilombola do Salvaterra, Marajó-PA. Gestora de projetos do Observatório do Marajó, integrante do grupo de juventude negra quilombola de Salvaterra, “Abayomi”, Graduada em licenciaturas plena em ciências biológicas pela Universidade Federal do Pará/campus Soure, e especialista em gestão de sistemas agroextrativistas para territórios de uso comum na Amazônia, pelo instituto amazônico de agriculturas familiares da UFPA.
Marcos Ronielly
Professor na área de Engenharia Sanitária e Ambiental. Pós-doutor em Geografia Regional. Doutor e Mestre em Ciências Ambientais. Especialista em Docência no Ensino Superior e Engenharia de Segurança do Trabalho. Bacharel em Engenharia Ambiental. Graduado em Gestão Ambiental.
Matheus Adams
Marajoara. Tecnólogo em Alimentos. Articulador do Coletivo Cuíra e morador da Vila de Pesqueiro.
Rodrigo Firmino
Professor titular em gestão urbana na PUCPR, coordenador do Jararaca, Laboratório de Tecnopolíticas Urbanas, e membro-fundador da Rede Latino-Americana de Estudos sobre Vigilância, Tecnologia e Sociedade
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