Conectividade e segurança digital no contexto da Amazônia Marajoara

SOBRE O WORKSHOP

Texto por Jenifer Pereira
Revisado pela Escola de Dados

 

Por que a Ilha do Marajó, maior arquipélago flúvio-marítimo do mundo, precisa discutir segurança digital? Esta área da Amazônia, rica em biodiversidade, madeira e petróleo, assim como as suas comunidades, sofre com a exposição de notícias sensacionalistas e com disputas políticas pelo controle dos recursos da região, sinaliza Luis Barbosa, historiador pela UFPA e gestor de mídias no Observatório do Marajó, ao introduzir esta roda de conversa às pessoas participantes. 

 

 

Nesse sentido, Mayara Abreu, integrante do coletivo de Comunicação da Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (CONAQ) e coordenadora de comunicação da Coordenação das Associações Quilombolas do Estado do Pará (MALUNGU), fala sobre as descobertas da tecnologia nas comunidades e como elas têm sido recebidas pelas pessoas que nelas vivem. A palestrante aponta para as vulnerabilidades da internet e o uso da rede Starlink, de Elon Musk, que não prepara as comunidades para essa recepção e os seus riscos. Assim, as lideranças comunitárias levam, inconscientemente, sua comunidade à exposição de informações, que consequentemente acaba virando alvo da produção e propagação de informações falsas (fake news) em relação aos povos marajoaras – fato que aconteceu principalmente em 2023. 

Pensando nisso, as comunidades têm seguido protocolos para a proteção de dados, como cuidados no contato direto, precauções quanto aos dados compartilhados pela internet e atenção à publicação de matérias jornalísticas com exposição de dados das comunidades, como localização e nomes reais. Mayara conclui que, para se manter a proteção de dados e a segurança digital das comunidades marajoaras, a comunicação deve ocorrer fora dos moldes tradicionais do jornalismo brasileiro. 

 

 

Seguindo a discussão, Augusto Frazão, membro da Comissão Pastoral da Terra (CPT) na prelazia do Marajó, chama atenção para os conflitos de terra nos municípios do Marajó, o agronegócio, os madeireiros e como as comunidades tentam enfrentar esses perigos através da internet. A CPT, além de promover a bioagricultura, também busca produzir cursos com as comunidades mais afetadas no sentido de mitigar os abusos de fazendeiros e madeireiras, já que, em alguns casos, essas pessoas impedem o livre acesso das comunidades a rios ou partes de alguns territórios.  Augusto relatou uma situação onde um casal de ribeirinhos foi atingido por agrotóxicos jogados por um avião a mando de um fazendeiro da região. Ele aponta que, muitas vezes, é difícil lidar com a situação, pois os conflitos entre fazendeiros e ribeirinhos é agressivo ao extremo, podendo resultar em mortes.

LOCAL

Sala E 206

NÍVEL

Básico.

REFERÊNCIAS

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Augusto Frazão

Membro da Comissão Pastoral da Terra (CPT) na prelazia do Marajó. Atua nas regiões onde há conflito por território, na luta pelo direito à terra dos povos tradicionais ribeirinhos, na formação política, agroecologia e assessoramento jurídico. É natural do município de Anajás, na região central da ilha de Marajó ocidental, ribeirinho de nascimento.

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Luis Barbosa

Marajoara ribeirinho residindo em Belém, é graduado em História pela Universidade Federal do Pará, é comunicador independente e criador de conteúdo audiovisual no canal Marajoando, atualmente também é gestor de mídias e conteúdos do Observatório do Marajó.

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Mayara Abreu

Habilitação em Jornalismo na faculdade de Comunicação Social (Facom) da Universidade Federal do Pará (Ufpa). Atua na área jornalística como repórter, produtora e Assessoria desde 2019, tanto na mídia comercial, como em projetos de jornalismo independente, tais como a Casa Ninja Amazônia, o Projeto Live no Meu Quilombo, o Programa Viva Jovem Belém (da Rádio Boas Novas). Atualmente, integra o coletivo de Comunicação da Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos – CONAQ e está como coordenadora de comunicação da Coordenação das Associações Quilombolas do Estado do Pará – MALUNGU.

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