Soluções climáticas locais: o uso de dados na amplificação dos debates
SOBRE O WORKSHOP
Texto por Ludemilla Diniz
Revisado pela Escola de Dados
A diretora executiva da Open Knowledge Brasil, Haydée Svab, conduziu a roda de conversa apresentando as pessoas representantes das instituições que participaram desse debate sobre combate às mudanças climáticas.
A palestrante Paula Moreira iniciou a conversa traçando o contexto de participação do Programa Vozes pela Ação Climática Justa (VAC), coordenado no Brasil pela Fundación Avina, Hivos, Instituto Internacional de Educação no Brasil (IEB) e WWF – Brasil. O Programa apoia 74 organizações, movimentos e coletivos, articulados em 14 coalizões, sendo financiado pelo Ministério das Relações Exteriores da Holanda. Ele compartilha uma visão na qual a sociedade civil é ouvida, respeitada e co-criadora de soluções climáticas locais pertinentes, inclusivas e financiáveis, além de assumir o papel de agente de mudança. Dessa forma, ela influencia nas políticas, proporcionando benefícios reais às pessoas e à natureza como parte das respostas locais e globais à crise climática.
Em seguida, a historiadora Alícia Miranda apresentou a Casa Preta Amazônia, um coletivo iniciado em 2008 e formado por jovens negros e negras das periferias do Brasil que se reuniram em Belém (PA), promovendo atividades culturais e sociais e estabelecendo uma relação harmoniosa com a comunidade. O coletivo possui programas de atuação abrangentes e impactantes. Seus projetos incluem ações de inclusão digital, educação artística e cultural, fortalecimento da identidade negra e promoção da igualdade social. Assim, a Casa Preta contribui para o empoderamento da juventude negra e periférica, oferecendo oportunidades de desenvolvimento e transformação.
Continuando as apresentações, a mediadora Haydée Svab falou um pouco sobre a Open Knowledge Brasil (OKBR), uma organização da sociedade civil que atua em diversas frentes para promover o conhecimento livre e seus benefícios sociais. A OKBR busca empoderar a sociedade e estreitar a relação entre governo e pessoas cidadãs por meio da realização de análises de políticas públicas, do desenvolvimento de ferramentas que facilitam a participação cidadã, de formação sobre jornalismo de dados, e da promoção do debate público sobre temas relevantes à sociedade.
Por último, Stefano Wrobleski, diretor executivo da InfoAmazonia, apontou a organização como um veículo sem fins lucrativos que utiliza dados, mapas e reportagens geolocalizadas para informar sobre questões sociais e ambientais da Amazônia. Com uma visão sem fronteiras, a InfoAmazonia colabora com jornalistas e veículos locais e internacionais para produzir conteúdo inovador e engajador. Através do monitoramento de indicadores de saúde da floresta, geojornalismo, transparência, multidisciplinaridade e aprofundamento do contexto, a InfoAmazonia se destaca como uma fonte confiável de informação sobre a maior floresta tropical do planeta.
Após as apresentações, a mediadora desafiou o público da roda de conversa a individualmente propor três soluções para a pergunta: “Se você tivesse algum recurso, como o empregaria para combater as mudanças climáticas?”. As pessoas participantes contribuíram com as mais variadas respostas, dando início a um debate que teve como principais pontos:
– O Norte do Brasil como uma região em transformação
A região Norte do Brasil, com sua rica biodiversidade e comunidades vibrantes, enfrenta os desafios das mudanças climáticas de forma direta e intensa. No entanto, essa região também é palco de um movimento crescente de resistência e inovação, onde comunidades, organizações e indivíduos estão se unindo para construir um futuro mais sustentável. As iniciativas inovadoras que surgem na região integram cultura, apoio comunitário e alfabetização em dados para promover ações climáticas eficazes.
– A potência de projetos culturais e de apoio à comunidade
Projetos culturais desempenham um papel fundamental na sensibilização sobre as mudanças climáticas e na mobilização de ações locais. Através da expressão cultural e atuação direta, esses projetos amplificam as vozes das comunidades, celebram os conhecimentos tradicionais e inspiram a busca por soluções inovadoras.
O apoio à comunidade é essencial para garantir que as ações climáticas sejam justas e equitativas. O fortalecimento das comunidades locais ocorre por meio de treinamentos, workshops e outras iniciativas de capacitação e projetos nessa área, para que possam compreender, defender e agir sobre as mudanças climáticas.
– A alfabetização em dados para transformar informação em ação
A alfabetização em dados é fundamental para que as comunidades possam tomar decisões informadas sobre o clima. Através de workshops, cursos e outras atividades educacionais, projetos nessa área democratizam o acesso à informação e capacitam as pessoas para analisar dados climáticos e utilizá-los para o desenvolvimento de soluções locais.
Também foi apontado que as iniciativas inovadoras na região Norte do Brasil não se limitam ao âmbito local. As experiências e aprendizados desses projetos estão influenciando o debate climático global, inspirando novas políticas públicas e promovendo a colaboração entre diferentes setores da sociedade.
LOCAL
Sala E 206
NÍVEL
Básico.
REFERÊNCIAS
Alícia Miranda
Mulher negra e amapaense. Graduanda em Licenciatura em História pela UNIFAP, pesquisadora de gênero e história social do trabalho na Amazônia. Atua como ativista no Coletivo Utopia Negra Amapaense, onde desenvolve projetos voltados para questões raciais e climáticas. Foi bolsista do Movimento Plantaformas 2023-2024 e agora integra a equipe da Plantaformas e Casa Preta Amazônia desenvolvendo atividades voltadas para discussões tecnopolítica, de participação social, ancestralidade e tecnologias livres.
Haydée Svab
Acredita fortemente que informação é poder e que a partilha de informações nos leva a construir sociedades e cidades mais democráticas, éticas, transparentes, inovadoras e criativas. Atua profissionalmente há mais de 10 anos nesse lugar onde técnica e política se encontram, onde dados conduzem a decisões mais assertivas. Atualmente é diretora-executiva da Open Knowledge Brasil.
Atua voluntariamente como coordenadora do capítulo RLadies-São Paulo e também como secretária da Subcomissão de Mobilidade e Transportes Sustentávei) da ABNT/CEE-268 – Comissão de Estudo Especial de Cidades e Comunidades Sustentáveis, no qual contribui com a elaboração e nacionalização de normas sobre cidades inteligentes.
Paula Moreira
Gerente do Programa Vozes pela Ação Climática Justa (VAC) pela Hivos, onde articula uma rede de aproximadamente 40 organizações da sociedade civil pela justiça climática no Brasil. Anteriormente, co-criou o programa Municípios Paulistas Resilientes e coordenou projetos de equidade de gênero e direitos humanos em Santos, pela Cooperação Alemã pelo Desenvolvimento Sustentável. Suas áreas de atuação incluem justiça climática, políticas socioambientais globais, direitos humanos e democracia digital. Concluiu doutorado na UnB, focando em redes transnacionais do Sul Global pela justiça energética e disputas de recursos naturais na Bacia Amazônica.
Stefano Wrobleski
Diretor Executivo da InfoAmazonia, onde cuida da captação de recursos, tecnologia e temas administrativos. Anteriormente, trabalhou na Internews como coordenador de geojornalismo da Earth Journalism Network e fez parte de projetos para a Amazônia na equipe de Américas. Também já cobriu temas sociais e trabalhistas na Repórter Brasil, foi trainee do Estadão e bolsista do International Center for Journalists no programa de empreendedorismo no jornalismo digital. Em 2015, fez o Master em Jornalismo Digital do ISE Business School.
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