Texto por Eduardo Costa
Revisado pela Escola de Dados
Carolina Dantas, editora no veículo InfoAmazonia, demonstra como abordar a temática de desmatamento e mudanças climáticas no jornalismo. Para iniciar, Carol propôs uma pergunta norteadora: qual a reportagem dos seus sonhos?
Para a jornalista, é preciso que a cobertura seja compreensível para as pessoas. Ela alerta o público a não se apegar somente aos números, mas também às histórias da realidade das pessoas que são mais afetadas pelas mudanças climáticas.
Antes de explicar as ferramentas, a instrutora ensinou sobre os Gases de Efeito Estufa, que começaram a se intensificar com a revolução industrial. Dos gases que conhecemos, os principais são:
- Dióxido de carbono (CO²): desenvolvido a partir da queima de combustíveis fósseis, como carvão, gás natural, petróleo e desmatamento;
- Metano (CH⁴): originado principalmente em processos biológicos, como o tratamento de efluentes líquidos e em aterros sanitários, e na agricultura;
- Óxido Nitroso (NO²): muito ligado ao uso de fertilizantes e também pela indústria.
Basicamente, o ciclo do efeito estufa se dá em 4 etapas:
- a luz solar atravessa a Terra e a aquece;
- a radiação infravermelha é refletida pela Terra;
- boa parte escapa para o espaço exterior, permitindo que a Terra resfrie;
- parte do infravermelho é absorvido pelos gases de efeito estufa presentes na atmosfera (incluindo o CO²), mantendo a Terra aquecida o suficiente para sustentar as formas de vida.
Diante disso, a instrutora sugere que “olhar para o lado ajuda a entender”. O que ela quis dizer com essa expressão é que em Vênus, com 96,5% de dióxido de carbono e 3,5% de hidrogênio, a temperatura chega a 462ºC. Enquanto isso, na Terra, temos menos de 1% de dióxido de carbono, por enquanto.
A nível de Brasil, o principal gás é o CO² e 49% das emissões de gases vêm do desmatamento. O Pará é líder em emissões de gases e 100 das cidades que mais emitem estão no território da Amazônia Legal, com Altamira sendo o município líder em emissões. O setor de agropecuária também é responsável por 25% das emissões.
Após as explicações, Carol sugeriu dar uma olhada nas ferramentas. Dentre as diferentes bases de dados existentes sobre as emissões de poluentes, ela apresentou a plataforma SEEG, que pode ser utilizada como fonte de pesquisas e produção de conteúdo jornalístico.
É uma plataforma de fácil utilização, onde as buscas podem ser feitas por localização (estado, município, país), setores que mais emitem gases de efeito estufa (agropecuária, energia, mudanças de uso da terra, processos industriais, resíduos) e atividade econômica. Os dados são apresentados por meio de mapas, gráficos e infográficos em formato aberto, possibilitando o download.
A utilização da plataforma MapBiomas também foi sugerida para visualizar bem a trasição dos dados, que nada mais é que mostrar como uma região era e como ela ficou depois de um período de tempo. Carol estimulou os participantes a acessar a parte de usos do solo da plataforma e identificar o que antes era floresta e virou agricultura e o que antes era agricultura e virou floresta. A plataforma possui dados que vão de 1985 a 2021 (até o momento desta oficina), que podem ser visualizados tanto em gráficos quanto em tabelas.
Dentre os tópicos abordados, Carolina chama atenção para a necessidade de regulamentação do mercado de crédito de carbono, que tem avançado na região amazônica nos últimos anos. Empresas responsáveis pelas atividades pela gerência dos créditos, muitas vezes, acabam por coagir as comunidades tradicionais ou apresentam contratos desproporcionais, que prejudicam o direito de paridade e o direito à própria consulta prévia das populações.
Apesar dos desafios que o jornalismo enfrenta, como financiamento e acúmulo de funções dos profissionais, os jornalistas devem “aproximar as pessoas do assunto e colocar a Amazônia no centro dos debates”, pontua Carolina.
Além disso, na cobertura sobre desmatamento e mudanças climáticas, os números não falam por si, é preciso contexto: “antes de procurar o dado, você tem que entender que história vai se contar. O dado nada mais é do que a confirmação dessa história”, pondera a palestrante.