Conexões de conhecimento: a sinergia entre pesquisas científicas e o jornalismo de dados ambientais

SOBRE O painel

O painel abordou as convergências entre pesquisas científicas e o jornalismo de dados ambientais. Jornalistas e pesquisadores refletiram sobre como profissionais destas duas áreas podem trabalhar conjuntamente na produção de reportagens baseadas em evidências, criando novas narrativas de combate à desinformação ambiental.

Sob mediação de Jader Gama, da Fundação Centro de Referência em Educação Ambiental Escola Bosque “Professor Eidorfe Moreira” (Funbosque), marcaram presença no debate Marcela Vecchione, do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA) da UFPA, Thiago Medaglia, da Ambiental Media, Maria Rosa Darrigo, do Pulitzer Center.

Thiago abriu os trabalhos do painel com a apresentação do Índice de Impacto nas Águas da Amazônia, desenvolvido pela Ambiental Media com apoio do Instituto Serrapilheira.

“Por que falar de água na Amazônia? Existe um certo vício na cobertura jornalística ao olhar para a Amazônia, que é muito voltado à terra firme: água, fogo. E trata-se da maior bacia hidrográfica do planeta, um tema que, pensando em alterações climáticas, talvez seja o mais importante com o qual temos que lidar. E essa inquietação nos levou a olhar para as bases de dados existentes sobre ecossistemas aquáticos na Amazônia”, explicou.

O Índice é composto por um gradiente que vai de ‘extremo’ a ‘muito baixo’. As ações humanas que impactam os ecossistemas mapeadas passam por degradação florestal, cruzamento de estradas e rios, mudanças climáticas, garimpo ilegal, mineração industrial, área urbana, agricultura e pecuária, hidrelétricas e hidrovias.

“Vinte por cento das águas da Amazônia brasileira estão altamente impactadas. Esse é o principal resultado, mas ele traz outros. Um dos mais importantes é que as terras indígenas são fundamentais, em tempos de debate de marco temporal, para proteger o futuro das águas na Amazônia, que é o futuro do planeta habitável, do consumo humano, da conservação, da produção de alimentos. Estamos falando de tudo isso quando falamos de água”, ressaltou.

Thiago enfatizou ainda que o Índice também aponta histórias. “A terra indígena Tubarão/Latundê tem um índice de impacto altíssimo quando se fala de água, o que demonstra que alguma coisa está acontecendo ali, ou seja, tem uma história para cobrir ali. E é isso que nós queremos: que as histórias sejam verificadas. É jornalismo de dados, então temos que combinar o trabalho de dados com o trabalho jornalístico.”

Marcela Vecchione, por sua vez, abordou o desafio de comunicar a ciência. “Na academia, falamos tecnicamente em divulgação científica e mais recentemente começamos a ter um diálogo com os comunicadores sobre comunicação da ciência, que são coisas diferentes. Hoje, na produção científica sobre e na Amazônia, esse desafio de comunicar a ciência é cada vez mais importante e relevante politicamente. A Amazônia, mais do que nunca, está em disputa, mas o que vemos hoje também é uma disputa sobre os sentidos e os significados, em que os significantes são cada vez mais importantes”, pontuou.

A professora compartilhou a necessidade de evitar que o jornalismo de dados sobre a região amazônica não tome a forma de neoextrativismo do conhecimento.

“A gente fala em neoextrativismo dos recursos, mas também temos o neoextrativismo do conhecimento e isso é a realidade da produção da ciência na Amazônia e sobre a Amazônia. Eu sou bastante entusiasta do jornalismo de dados e tenho receio de que no volume da divulgação e combinação desses dados, nós nos esqueçamos de continuar fazendo a discussão sobre o que é dado e por que se começou a fazer jornalismo de dados: para combater a desinformação e não ficar restrito a apenas um meio científico ou um tipo de dado, já que ciência também é democracia.”

Maria Rosa Darrigo traçou as diferenças entre ciência e jornalismo. Alguns exemplos são: 1) a necessidade da ciência de achar padrões versus a tendência do jornalismo à individualização das histórias; 2) os pares como público interlocutor dos cientistas versus a massa como audiência do jornalismo; 3) os tempos, sendo muito maior na academia e cada vez mais veloz no jornalismo; 4) a especialidade na ciência e o generalismo no jornalismo.

“Onde as coisas se conectam é nos dados. Eu entendia que a ciência traz os dados e o jornalismo consome esses dados. Mas a gente está em um momento em que o jornalismo cria dados e isso é um ponto de mudança na dinâmica entre ciência e jornalismo. E uma questão é: como será o futuro dessa relação?”, provocou.

Para a pesquisadora, a atual crise tanto da ciência quanto do jornalismo pode ser uma oportunidade para pensar como transformar ambos de maneira mais humana, regional e trazendo a diversidade de vozes e dados para combater a desinformação.

REFERÊNCIAS

Sem referências.

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Marcela Vecchione

É PhD em Ciência Política/Relações Internacionais pela McMaster University. Suas principais áreas de pesquisa são a questão indígena nas Relações Internacionais, colonialismo e pós-colonialismo, Panamazônia e suas fronteiras, teoria do desenvolvimento, meio ambiente e questão da terra na América Latina.

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Maria Rosa Darrigo

Graduada em Ciências Biológicas pela Universidade de São Paulo (1999), mestre em Ecologia pela Universidade de São Paulo (2002) e doutora em Ecologia pela Universidade Estadual de Campinas (2012). Realizou seu estágio de pós-doutorado na Universidade da Florida, em 2013. Atua na interface entre a área acadêmica e trabalhos mais aplicados, com foco na conservação de recursos naturais e políticas públicas.

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Thiago Medaglia

Fundador da Ambiental Media, startup brasileira que se dedica a investigações jornalísticas baseadas em ciência e dados. Mestre em História da Ciência pela Universidade de Harvard; fellow no Programa Knight de Jornalismo Científico do MIT; pós-graduado em Jornalismo Empreendedor pela City University de Nova York.

Jader Gama

Jader Gama

Doutor em Desenvolvimento Socioambiental pelo Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Sustentável do Trópico Úmido (PPGDSTU) e Mestre em Planejamento do Desenvolvimento (PPGDSTU) pelo Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA) na Universidade Federal do Pará. Especialista em Tecnologias em Educação pela PUC – RJ. Graduado em Processamento de Dados pela Universidade Federal do Pará.

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