Números vs. palavras: como incluir dados em uma narrativa atraente no jornalismo ambiental
SOBRE O WORKSHOP
Texto por Anicely Santos
Revisado pela Escola de Dados
A jornalista e editora do InfoAmazonia, Carolina Dantas, iniciou sua atividade com um questionamento relacionado aos primeiros passos para lidar com dados:
“Quais são os dados que você considera mais importantes para a sua reportagem? Por quê?”
A palestrante deixou cada participante explanar suas perspectivas e então apontou alguns pontos importantes que devem ser levados em consideração ao utilizar dados:
• Saber quem os coletou: A origem dos dados pode influenciar significativamente a percepção de sua confiabilidade. Dados coletados por fontes respeitadas tendem a ser mais confiáveis do que dados coletados por fontes desconhecidas ou duvidosas;
• Entender como eles foram extraídos: Isso é crucial para avaliar sua precisão, confiabilidade, ética e aplicabilidade, além de fornecer o contexto necessário para uma interpretação adequada e crítica dos resultados;
• Observar quais são as lacunas desses dados – o que eles não contam: Dessa forma, é possível identificar as limitações e os aspectos que os dados disponíveis não conseguem capturar ou representar;
• Compreender o que eles de fato contam: Quais informações exatamente os dados disponíveis estão transmitindo?
Diante de tudo o que foi posto, vem um outro questionamento: “O que vem primeiro: os dados ou a pauta?”. De acordo com Carolina, a resposta é: tanto faz. O importante é ter uma história e, para contá-la com profundidade, é importante ter contexto e uma análise da realidade.
Como fazer isso?
Para responder esta pergunta, a palestrante deu dicas sobre como construir uma história que seja interessante para quem está lendo.
- Reflita sobre qual caso investigar
É importante focar em um evento, indivíduo, grupo, organização ou situação específica para explorar e relatar suas complexidades e particularidades. Se a escolha for falar sobre queimadas no Pantanal, por exemplo, podemos pensar neste tema como a pauta e ir em busca de dados que a embasam. Agora, se a ideia é investigar desmatamentos ou emissões, esses seriam os dados e ainda seria preciso encontrar a pauta dentro deles. - Defina o que é mais importante
A narrativa importa, portanto valorize o básico do básico: o dado pode ser o lide, mas também pode ser o contexto. A pessoa jornalista precisa definir o que é mais importante para a própria pauta. Uma lista de base de dados pode ser útil para conseguir fazer isso.
- Atente-se aos requisitos do texto
Todos os textos, independentemente dos dados, precisam:- Citar a fonte dos dados.
Ex: Segundo pesquisa da jornalista Carolina Dantas, do InfoAmazonia…; - Citar o período dos dados.
Ex: O desmatamento da Amazônia em 2024 foi de XXXX; - Em caso de comparação de períodos, usar a mesma base de dados com a mesma metodologia.
Ex: Prodes com Prodes, Deter com Deter; - Comparar SEMPRE o período atual com o mesmo período anterior, para que a comparação seja justa.
Ex: março de 2023 com março de 2024, inverno amazônico com inverno amazônico, década atual com década anterior, 4 anos de governo de um presidente com 4 anos de governo de outro presidente; - Ao comparar um período com outro, traduzir a informação em porcentagem.
Ex: o desmatamento na Amazônia foi de XXX km² em 2024 contra XXX km² em 2023, uma alta de XXX%.
- Citar a fonte dos dados.
- Foque na análise de dados
Faça sua análise de dados e reserve alguns minutos para entender quais são os dados mais importantes. Muitos deles podem ser apenas parte da história, mas não necessariamente precisam entrar no texto. - Escolha o melhor
Escolha o melhor para o seu leitor e evite fazer um relatório no lugar de uma reportagem. - Decida como apresentar os dados
Visual importa. É importante quantificar, mas, se possível, também mostrar. Por isso, pare para pensar se uma parte dos dados precisa estar em um formato de visualização além do texto, como gráficos e mapas. Isso deve ser pensado antes de escrever porque direciona a composição da página a ser montada no seu jornal ou portal. E não esquecer nunca que o texto precisa ser sempre claro e preciso. - Escreva na ordem direta
Prefira frases na ordem direta. - Use o ponto final
Está truncado? Use o ponto final.
- Escolha suas palavras
Na hora de escrever uma frase, pense. Escolha o melhor verbo. Defina com o seu editor. Na dúvida, opte por palavras mais simples. Caso não seja possível, em caso de jornalismo científico, use um aposto.
Ex: Queimadas vs incendios
- Lembre-se que menos é mais
Nem sempre usar uma frase longa é a melhor saída.
Ex: Ela estava fazendo uma nova caminhada matinal ou Ela fazia uma caminhada pela manhã - Conheça seu público
Saiba para quem você escreve. Isso é essencial para garantir que a matéria seja relevante, compreensível e impactante, maximizando o seu alcance e sua eficácia. - Tenha prioridades
Organize tudo numa ordem de prioridade, do mais importante para o menos importante. Siga a mesma ordem na hora de montar o texto. - Selecione dados e citações
Separe os dados e escolha aspas na decupagem da entrevista que conversem com o que está dito nos dados. Uma das formas mais interessantes de usar o dado em reportagens é intercalar o que encontramos em campo com o que coletamos em números.
Ex: “Eu não sei mais o que fazer. Eu saio de casa e a sensação de insegurança é extrema. Antes, era o medo de assalto, de roubo. Agora, é a chuva. Perdi minha casa, perdi tudo, e ainda sou refém dos ladrões da cidade”, diz Fulaninha da Silva, moradora de Porto Alegre. Nesta semana, XXX milímetros de chuva atingiram a capital gaúcha, o maior índice desde 1999, com uma alta de XX%. Além disso, o número de furtos aumentou de XXX, em junho de 2023, para XXX, em junho deste ano (+XX%).
Feito todos os passos anteriores, releia todo o texto em voz alta.
“Seguindo estes passos básicos, com certeza você terá resultados primorosos em matérias guiadas por dados”, finalizou a palestrante.
LOCAL
Laboratório 101
NÍVEL
Básico.
REFERÊNCIAS
Carolina Dantas
Editora da InfoAmazonia e jornalista especializada em meio ambiente desde 2015. Antes, trabalhou na Folha de S.Paulo, na Globo e no Grupo RBS. Em 2022, recebeu o título de alumni do governo do Departamento de Estado dos Estados Unidos na área de mudanças do clima.
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