O Brasil está diante de um novo cenário racial. No século passado, pessoas negras tendiam a se autodeclarar brancas, mulheres negras de cabelo crespo costumavam alisar o cabelo e os homens negros não deixavam o cabelo crescer. Depois, isso começou a mudar de forma significativa, com uma nova tendência das pessoas de se autodeclararem pardas ou pretas e com a valorização da identidade negra. Em resumo, a mudança na identificação racial, a ampliação do acesso ao ensino superior, o surgimento de novas lideranças e o crescimento do movimento negro foram os pilares para a construção desse novo contexto.
Em cima disso, a pandemia adicionou mais uma camada, já que durante o período houve uma amplificação do debate racial. Segundo o pesquisador do Insper Michael França, que ministrou este workshop, desse momento surgiram dois desafios principais: o de evitar a polarização racial no país e o de promover um debate construtivo a respeito do tema.
Com a questão racial em alta, França, Sergio Firpo (Insper) e Lucas C. Rodrigues (USP) desenvolveram o Índice de Equilíbrio Racial (IER). O IER foi criado com o objetivo de monitorar a desigualdade racial no mercado de trabalho ao longo do tempo. Sendo assim, o índice mede o quanto a distribuição ocupacional por raça de determinado núcleo (firma, setor, região) diverge da distribuição ocupacional por raça em uma população de referência.
Durante a atividade, França explicou como o IER pode gerar uma mudança de comportamento: a partir do monitoramento das empresas, o índice informa se as instituições estão gerando maior equidade racial ou não. Identificando quais empresas avançaram e quais não, é possível contatá-las diretamente para saber que ações estão realizando para promover tal mudança de cenário. E dessa forma, assimilar as iniciativas que estão dando certo e difundi-las para todo o território brasileiro.
Inspirado no IER, França, Firpo e Alysson Portella (Insper) desenvolveram para a Folha de S. Paulo o Índice Folha de Equilíbrio Racial (IFER). Sua proposta é medir a distância entre, de um lado, a realidade de desigualdade racial nos estados e nas regiões do país e, do outro, um cenário hipotético de equilíbrio, em que a presença dos negros em estratos de elite refletisse seu peso na população de 30 anos ou mais. Diferentemente do IER, o IFER surge em quatro categorias diferentes: Renda, Educação, Sobrevida e IFER Total, calculado a partir de uma média simples dos outros três.