Prêmio de jornalismo de dados estreia no Brasil em grande estilo
O primeiro prêmio de jornalismo de dados do Brasil estreou em grande estilo. A cerimônia contou com apresentação de todos os 12 projetos finalistas, o anúncio dos vencedores e um discurso emocionante de Cristina Penz, companheira de Cláudio Weber Abramo, jornalista e matemático pioneiro na área no Brasil, que deu nome à premiação.
O Prêmio Cláudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados é uma iniciativa da Escola de Dados em parceria com a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (ABRAJI) e apoio da Hei-Da, que organiza o prêmio internacional Data Journalism Awards. Membro do Conselho da ABRAJI e editor do site da Piauí, José Roberto de Toledo foi o responsável pela apresentação da cerimônia de entrega da premiação durante o Coda.Br. Na ocasião, Cristina Penz fez também a leitura de um texto inédito de Cláudio Weber Abramo, publicado pela ABRAJI e reproduzido abaixo.
É possível ver mais informações sobre as apresentações dos finalistas e vencedores nesta postagem, que reúne todos materiais apresentados no Coda.Br. Nela, também é possível conferir os materiais de Helena Wittlich (Tagesspiegel Innovation Lab) e Momi Peralta (La Nación Data), ganhadoras da premiação internacional Data Journalism Awards em 2019 que abriram a noite apresentando seus projetos.
No final da cerimônia, também foi lançado o fórum jornalismodedados.org, um espaço virtual para troca de informações e apoio técnico entre interessados na área. A iniciativa é da Escola de Dados em parceria com a ABRAJI e está aberta à participação de qualquer pessoa.
Confira abaixo os vencedores das quatro categorias da premiação em 2019 e a justificativa do júri para a escolha de cada projeto.
Dados Abertos
Don’t LAI to me, newsletter da Agência Fiquem Sabendo
“O ganhador da categoria de Inovação em Jornalismo de Dados destaca-se pela experimentação de novas tecnologias ou formatos. Um dos problemas identificados por pesquisadores sobre desinformação é que mentiras se espalham muito mais rápido do que as correções ou as respostas a essas mentiras. O projeto vencedor dessa categoria em 2019 tenta mudar essa dinâmica com uma solução que consegue escalar de acordo com a quantidade de conteúdo enganoso que é compartilhado nas redes. Ele utiliza tecnologias já existentes para, de um jeito automatizado, mostrar um contraponto à disseminação de desinformação. O projeto também merece ser reconhecido por conseguir ter um papel relevante na distribuição de informação de qualidade num ambiente altamente polarizado”
Visualização de Dados
30 anos: o quanto a Constituição preserva de seu texto original, matéria do Nexo
“O ganhador da categoria Visualização de Dados destaca-se pela originalidade do trabalho, capacidade de síntese e apresentação dos dados. Além disso, conciliando forma e conteúdo, trata de um tema extremamente dinâmico e essencial para a manutenção de um sistema político democrático. Apesar do impacto cotidiano em nossas vidas, há ainda um desconhecimento da estrutura e importância desse instrumento fundamental do jogo político, que é a Constituição Federal. A forma dos gráficos alude ao próprio texto constitucional, cujas alterações históricas ao longo de 30 anos são apresentadas de modo a embasar discussões e fortalecer o debate público.”
Investigação
Monitor da Violência – Um ano depois, projeto do G1
“Um esforço hercúleo de coleta de dados com poucos paralelos no mundo. O trabalho vencedor desta categoria jogou luz em diversos problemas, e tem ajudado inclusive na formulação de políticas públicas. Virou uma base viva, com desdobramentos e novas pautas constantes, como toda excelente investigação guiada por dados deve ser. Por tamanho impacto e por todo este esforço coletivo, que também merece ser premiado em tempos de jornalismo ‘blogueiros de crachá’, e que de alguma maneira diferencia o jornalismo profissional do opinionismo, este projeto foi escolhido pelo júri”
Inovação
Fátima, a robô do Aos Fatos
“O ganhador da categoria de Inovação em Jornalismo de Dados destaca-se pela experimentação de novas tecnologias ou formatos. Um dos problemas identificados por pesquisadores sobre desinformação é que mentiras se espalham muito mais rápido do que as correções ou as respostas a essas mentiras. O projeto vencedor dessa categoria em 2019 tenta mudar essa dinâmica com uma solução que consegue escalar de acordo com a quantidade de conteúdo enganoso que é compartilhado nas redes. Ele utiliza tecnologias já existentes para, de um jeito automatizado, mostrar um contraponto à disseminação de desinformação. O projeto também merece ser reconhecido por conseguir ter um papel relevante na distribuição de informação de qualidade num ambiente altamente polarizado”
Texto de Cláudio Weber Abramo
Fiz o ginásio no Colégio Nova Friburgo, da Fundação Getúlio Vargas entre 1957 e 60. Era um internato. O ensino era excelente, tendo me beneficiado a vida inteira. Uma das matérias era o canto orfeônico. O professor – infelizmente, não me recordo de seu nome – tinha de seguir o currículo oficial que incluía solfejo, escalas e outros assuntos tradicionais da matéria. Aos onze anos de idade, aquilo era de doer.
Acontece que o professor bem sabia disso: ele lidava com esses assuntos bem depressa e depois se dedicava a nos ensinar a ouvir música. Tocava discos de música clássica em um toca-discos e nos chamava a atenção para as passagens, a dinâmica, os instrumentos, as massas sonoras.
A vasta maioria das pessoas ouve música em bloco. O som da execução entra misturado pelos ouvidos e não é processado pelo cérebro além de uma impressão geral. Quando se pede a alguém: “ouça o fraseado do saxofone”, usualmente não há resposta. O ouvinte não consegue separar instrumentos individuais ou mesmo distinguir entre a flauta e o violino, entre a guitarra e o trompete.
O que nosso professor nos ensinou foi ouvir música analiticamente, como os profissionais. Ou seja, fazendo o cérebro funcionar como uma mesa de som de múltiplos canais. Esse foi um dos mais importantes ensinamentos de minha vida, pois ouvir música assim se traduz em grande riqueza de percepções. Consegue-se prestar atenção no jogo entre os timbres dos instrumentos, nas entradas e saídas, nos desenhos traçados pelos integrantes individuais do conjunto.