Com mais de 320 participantes, a terceira edição da Conferência Brasileira de Jornalismo de Dados e Métodos Digitais (Coda.Br 2018) aconteceu nos dias 10 e 11 de novembro na ESPM em São Paulo. Ao todo, foram mais de 60 horas de atividades que reuniram um público diverso, indo de jornalistas de veículos de todos os tamanhos a professores e pesquisadores de humanidades digitais, além de estudantes, comunicadores populares e ativistas.

Este ano, o evento foi palco para o anúncio do Prêmio Cláudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados, que vai reconhecer a qualidade dos trabalhos nesta área publicados no Brasil, e tem o apoio da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji). As inscrições começam apenas em junho do ano que vem, mas é melhor se preparar desde já. Serão quatro categorias: investigação guiada por dados, visualização, dados abertos e inovação. Os interessados podem acompanhar as novidades pelo site jornalismodedados.org ou pelas redes sociais da Escola de Dados.

Assim como o público, os workshops foram diversos. Foram abordados temas como exploração de bases de dados gigantes com SQL, investigações jornalísticas com Open Source Intelligence, técnicas para trabalhar com dados econômicos, passando por produção de mapas com QGis, estatística e análise de textos com IramuteQ, entre muitos outros. Todas as apresentações estão disponíveis no site da Escola de Dados.

No final da tarde do primeiro dia, o evento experimentou um formato inovador: um fórum a la StackOverflow presencial. Nas sessões “Meu problema com”, diversos mentores voluntários se dispuseram a conversar e tirar dúvidas reais dos participantes sobre pedidos de Lei de Acesso à Informação, R, Python e Dados Geográficos e SQL.

A maioria das atividades levou os participantes a colocar a mão na massa pra aprender fazendo, mas houve também espaços para reflexão no Coda.Br 2018, durante as três mesas de debate. Os temas abordados foram: visualização de dados, ausência de dados durante as investigações jornalísticas e, como não poderia deixar de ser este ano, eleições.

O Coda.Br é realizado pela Escola de Dados, programa da Open Knowledge Brasil, em parceria com o Google News Initiative. A conferência contou com o apoio do Centro Knight para o Jornalismo nas Américas, da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo, da agência Volt Data, do Instituto Serrapilheira, da Python Foundation e do Nic.Br.

Acesse os recursos compartilhados pelos instrutores em workshops e bootcamps.

Dataviz para todos

A visualização de dados (dataviz) foi tratada a fundo já na abertura por três convidados de peso, considerados referências internacionais no campo onde atuam: Alberto Cairo da Universidade de Miami, Fernanda Viegas e Daniel Waisberg do Google. Viegas abriu o CODA.Br 2018 compartilhando um pouco de seu trabalho no Google, explorando aplicações de visualizações de dados na área de inteligência artificial e aprendizado de máquina (machine learning), focadas nas necessidades de pessoas comuns. Fernanda apresentou, por exemplo, como grafos e visualizações de redes ajudam os cientistas do Google a desenvolverem melhores algoritmos para tradução de textos.

Ainda na abertura, Alberto Cairo compartilhou seu desejo de democratizar o campo de visualização de dados e estimular uma espécie de “alfabetização visual”. “Minha obsessão é tornar a visualização de dados uma linguagem universal”, afirmou. Cairo apresentou algumas iniciativas que vêm sendo desenvolvidas nesse sentido, como o Flourish e o iNZight, e defendeu a existência de mais ferramentas que tornem possível que pessoas leigas consigam produzir visualizações de dados de qualidade. A mediação da mesa de abertura ficou por conta de Daniel Waisberg.

Faltaram dados, e agora?

O debate que encerrou o primeiro dia tratou de um tema familiar a todos os jornalistas de dados: às vezes, faltam… dados! A partir de suas experiências concretas, Sarah Cohen, ex-editora de dados do New York Times e ganhadora do Pulitzer, o alemão Steffen Kühne (BR Data) e Jeremy Merrill (ProPublica) falaram sobre como agir quando a matéria-prima do trabalho com dados está ausente.

Enquanto Steffen mostrou os bastidores da investigação Hanna and Ismail, que produziu evidências sobre a discriminação racial no mercado imobiliário na Alemanha, Jeremy apresentou projetos como o plugin que desenvolveu para coletar dados sobre os anúncios personalizados do Facebook, a partir da colaboração dos leitores de diversos veículos de mídia, que instalaram o software. Por sua vez, Sarah Cohen apresentou seus esforços para compreender a situação da violência de gênero cometida por policiais nos EUA. Além da apresentação, todos os debates tiveram espaço para perguntas e interação com a plateia.

Eleições: erros e acertos

Por fim, o encontro no domingo, dia 11, começou com um debate sobre os erros e acertos da atuação dos institutos de pesquisas eleitorais durante as eleições. Moderada por Guilherme Jardim, editor de dados do Jota, a mesa teve a participação da cientista política Lara Mesquita e Neale El-Dash, criador do site Polling Data, que agrega pesquisas eleitorais nacionais.

Lara Mesquita apresentou dados sobre as eleições deste ano e levantou algumas questões para os institutos de pesquisa, por exemplo, sobre como as suas metodologias foram aperfeiçoadas ao longo dos últimos anos ou sobre as particularidades das pesquisas via amostragem versus aquelas feitas por cotas. Já Neale El-Dash aprofundou as discussões sobre as metodologias, ressaltando também o abismo que separa o Brasil de países como os Estados Unidos. Enquanto aqui foram feitas 138 pesquisas este ano, a corrida eleitoral dos EUA teve mais de 12 mil pesquisas.