Por Maria Zelada*

“Jornalismo de Dados”, “Data Journalism”, “Periodismo de Datos”, “DDJ”, “Jornalismo Visual”… Algumas vezes por semana dava um Google e procurava qualquer coisa relacionada ao tema, que até agora tenho dificuldade em definir em algumas palavras. Só com essas tentativas já havia uma coleção de abas abertas com páginas de universidades, instituições, jornais, blogueiros… Uma de cada parte do mundo.

“Data Journalism MA”, “Data Journalism Course”, “Master in Journalism”: opções sensacionais que exigem investimento bem pensado. “Curso Jornalismo de Dados em São Paulo”. Enter. Curioso não ter tantas opções nesta cidade tão grande e diversa. Acabei caindo no link do curso Doing Journalism with Data: First Steps, Skills and Tools, ministrado na plataforma Canvas. Mesmo que (para mim) cursos online, por melhores que sejam e por mais interações multiculturais que proporcionem, raramente estimulem tanto quanto as aulas presenciais, decidi ingressar. Em seguida comemorei: a Escola de Dados havia organizado grupos de estudos presenciais para reunir os alunos do curso. Inscrita!

Não conhecia a Escola, e como de costume, entrei no site e fui direto ao menu quem somos, para ver as caras dos membros e quem sabe, achar algum conhecido. Lendo as descrições e mini biografias, encontrei pessoas que poderiam ajudar de alguma forma a otimizar as buscas no Google. Fazia tempo que não entrava em contato com completos desconhecidos, mas, como muitas vezes é só mais um e-mail na caixa de entrada deles, resolvi arriscar e pedir umas dicas. Enviado.

Em alguns dias tive um retorno incentivador. Marcamos uma conversa entre o pessoal da Open Knowledge Brasil, Escola de Dados e eu. Possivelmente a internet daria conta de esclarecer minhas dúvidas, sugerir artigos, produtos, infinitos cursos… Mas durante a conversa lembrei-me de como a experiência real é importante e enriquecedora.

Há um tempo não encontrava pessoas tão vibrantes e apaixonadas pelo que fazem. Na breve troca de ideias, entendi que o Jornalismo de Dados não está restrito à coleta, organização e publicação de um conteúdo. A linha se desenrola passando pelo acesso livre à informações e compartilhamento delas. Que diferença faz quando uma matéria de Jornalismo de Dados fornece suas fontes, seus códigos e ainda, o caminho que seguiu para ser construída. É como se um trabalho proporcionasse espaço e informações para que dele, outros sejam desenvolvidos, aprofundados, compartilhados, construídos em conjunto. A ideia de trabalho coletivo, mesmo que seja com cada um em seu computador e país, foi reforçada quando percebi que estava na mesa com um físico, uma economista e um engenheiro e jornalista. Que empolgante existir uma área que abrigue tantas profissões, cabeças, trabalhos, formas de expressão e por que não dizer, ideologias.

A impressão de alguém recém-formada em jornalismo trabalhando com produção cultural pode ser extremamente alienada. Mas fico pensando que talvez existam mais pessoas por aí nesse meio limbo. Talvez minha percepção possa se parecer com a de outras pessoas. O mundo dos dados e do acesso livre à informação é um caminho gigantesco, em constante mutação e construção, que nenhuma busca no Google ou conversa será capaz de resumir ou explicar. Essa talvez seja a maior graça. Algo novo está se formando. Algo extremamente receptivo e que exige muita, muita, disciplina. Estamos no comecinho disso que, de uma forma ou de outra, será surpreendente.

(*) Maria Zelada é formada em Jornalismo na Faculdade Cásper Líbero. Trabalha com Produção de Exposições, mas lê, explora, experimenta e se maravilha com o jornalismo de dados.

Papo com dados é uma coluna sobre como membros da Escola de Dados estão buscando entendimento e utilizando dados em suas rotinas, trabalhos e colaborações. O espaço é aberto e você também pode publicar suas histórias entrando em contato com a gente no email [email protected].

Imagem: Computer Data Output por JoshuaDavisPhotograhy