Por Edilaine Santos e Adriano Belisario

O Brasil possui diversas instituições responsáveis pelas políticas ambientais, como a fiscalização do uso de recursos naturais e aspectos relacionados à Política Nacional do Meio Ambiente. Entidades públicas, fundações, institutos e inclusive o setor privado estão envolvidos e disponibilizam online diversas bases de dados sobre meio ambiente no Brasil.

Porém, apesar da atenção global, devido à importância da biodiversidade do país, de forma geral, os dados produzidos por estes órgãos ainda são pouco organizados. Especialmente para quem está começando, pode ser difícil navegar neste oceano de possibilidades.

Para facilitar a busca e obtenção de dados sobre o assunto, fizemos uma catalogação colaborativa das principais bases de dados ambientais do país.

O material pode ser acessado por meio do link: bit.ly/dados-ambientais

Neste tutorial, destacamos 10 fontes de dados do catálogo, trazendo mais informações e dicas de como utilizá-las. Ele é o terceiro da série sobre jornalismo, dados e meio ambiente.

Se você quiser se aprofundar, confira os nossos tutoriais passados: ‘Caixa de ferramentas para jornalistas de dados ambientais e ‘Cruzando dados de desmatamento e agropecuária com a Base dos Dados e Python‘. Também recomendamos o primeiro módulo do curso “Jornalismo de dados ambientais”, onde o jornalista Thiago Medaglia (Ambiental Media) apresenta diversas possibilidades de trabalhos jornalísticos baseados em dados ambientais.

O que é esse catálogo? Como contribuir?

A planilha ‘Catálogo de bases de dados ambientais no Brasil’ reúne os links de dados públicos nos níveis municipais, estaduais e nacionais, além de dados de organizações da sociedade civil, entidades internacionais e outros. Os registros estão classificados em categorias como: desmatamento, fiscalização, licenciamento, atividade econômica, aspectos sociais, territoriais e geográficos.

O levantamento foi realizado graças ao apoio da Earth Journalism Network e as contribuições iniciais de Adriano Belisario, André Campos, Anicely Santos, Angélica Resende, Edilaine Santos, Juliana Mori, Piero Locatelli, Stefano Wrobleski e Thiago Medaglia, além de dezenas de pessoas participantes da primeira edição do curso ‘Jornalismo de dados ambientais’. 

Você pode sugerir novas contribuições criando comentários na planilha online. As instruções básicas para realização de novos preenchimentos estão disponíveis na aba “Metadados”.

DESTAQUES

MapBiomas

Programa Queimadas

INDE

Portal de Mapas do IBGE

TerraBrasilis

Cadastro Ambiental Rural

SINTEGRA

TRASE.EARTH

BNDES

Ibama

MapBiomas

O Projeto de Mapeamento Anual do Uso e Cobertura da Terra no Brasil (MapBiomas), realizado pelo Observatório do Clima (SEEG/OC) e colaboradores, disponibiliza mapeamentos da cobertura e uso do solo no Brasil em regiões tropicais, de 1985 a 2019. É possível cruzar e visualizar informações de desmatamento, regeneração, atividades realizadas na região, além de imagens de satélite de áreas protegidas, delimitações de municípios, estados, bacias hidrográficas e biomas.

O MapBiomas também traz plugins e ferramentas complementares, que facilitam o acesso em programas como o QGIS e do Google Earth Engine.

Interface da plataforma interativa MapBiomas de visualização de informações geográficas.

Programa Queimadas

O Programa Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) monitora a ocorrência de fogo na vegetação, realizando a classificação de risco e extensão dos incêndios de todas as regiões do Brasil.

No portal, você encontrará informações sobre a área da vegetação queimada, série histórica das ocorrências, previsões meteorológica de risco de fogo, a situação atualizada sobre os focos de fogo nos dois últimos dias, o boletim mensal de monitoramento e o painel interativo do Banco de Dados de Queimada (BDQueimadas), que é uma plataforma de monitoramento de focos de queimadas na vegetação da América Latina.

Interface do painel interativo BDQueimadas de visualização de focos de fogo na América Latina.

INDE

O portal da Infraestrutura Nacional de Dados Espaciais (INDE) organiza os dados geoespaciais de municípios, estados e de todo o território federal. As informações são geradas por 46 instituições governamentais ao todo.

Nele, você encontrará a catalogação dos metadados sobre as bases armazenadas, além da possibilidade de visualizar os mapas online, fazer o download de arquivos em formatos variados e acessar os dados facilmente por meio de APIs de dados geográficos, mais conhecidas como geoserviços. 

Vale muito a pena conferir o Catálogo de GeoServiços do INDE e adicionar os links dos serviços WMS e WFS de temas de seu interesse no QGIS.

Visualização da camada de Rios de Preservação Permanente do Estado de Minas Gerais, da Universidade Federal do ABC, no portal da INDE.

Portal de Mapas do IBGE

No portal de mapas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) você encontrará mapas temáticos, bases cartográficas, imagens de satélite e fotografias do território nacional. Ele reúne todo o acervo de mapas do instituto e oferece acesso a extensões de arquivos variadas.

Acesso ao mapa de distribuição dos estabelecimentos rurais no portal de mapas do IBGE.

No segundo módulo do curso “Jornalismo de Dados Ambientais“, o instrutor Jorge Santos (InstrutorGIS) mostra como importar dados cartográficos para o QGIS.

TerraBrasilis

O Terra Brasilis é uma plataforma web que traz os dados geográficos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) sobre o monitoramento da vegetação nativa brasileira. No portal, é possível visualizar mapas e painéis interativos, além de fazer análises, baixar bases de dados e shapefiles. Estão disponíveis informações sobre a Amazônia Legal, Bioma Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pampa e Pantanal.

Painel interativo do portal TerraBrasilis com dados do PRODES sobre desmatamento na Amazônia Legal.

O PRODES e o DETER são as duas principais bases de dados disponibilizadas no TerraBrasilis. Enquanto o primeiro apresenta uma informação mais consolidada e apurada durante todo um ano, o segundo tem o objetivo de trazer informações quase em tempo real, por meio de monitoramentos diários que são encaminhados às autoridades.

O Programa de Monitoramento do Desmatamento da Floresta Amazônica Brasileira por Satélite (PRODES) contempla um monitoramento anual do desmatamento por corte raso da Amazônia Legal brasileira e uma série histórica do incremento de desmatamento, desde 1989. O programa mede a diferença entre a área de cobertura original e área desmatada durante o período de um ano, identificando novas aberturas na vegetação da região. Ele produz as taxas anuais de desmatamento, mostrando o quanto de floresta tropical nativa foi desmatada e onde o ecossistema de floresta foi extinto. Recentemente, o programa também passou a monitorar o desmatamento no Cerrado.

Visualização da série histórica do PRODES de desmatamento na Amazônia Legal, no portal TerraBrasilis.

Já o Sistema de Detecção do Desmatamento em Tempo Real (DETER) do INPE realiza o monitoramento diário de alteração da cobertura florestal da Amazônia Legal e do Cerrado desde 2004, para dar suporte às atividades de fiscalização do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) por meio de relatórios mensais de alerta sobre os estágios intermediários do processo de desmatamento. Com ele, é possível identificar alterações do padrão de cobertura vegetal em tempo quase real. Estas alterações podem ser resultados da degradação causada por atividades como desmatamento, mineração, incêndio e exploração madeireira.

Visualização da área de avisos de desmatamento da Amazônia Legal a partir de 2016, no portal TerraBrasilis.

A pesquisadora Lubia Vinhas, o tecnologista Luis Maurano (INPE) e a designer Laura Kurtzberg (Ambiental Media) explicam a metodologia adotada pelos programas de monitoramento do desmatamento, como interpretar e comunicar os dados do portal TerraBrasilis no terceiro módulo do curso “Jornalismo de dados ambientais“.

Cadastro Ambiental Rural (CAR)

O Cadastro Ambiental Rural é uma ferramenta de gestão ambiental do Serviço Florestal Brasileiro que integra o Sistema Nacional de Informação sobre Meio Ambiente – SINIMA, cujo registro público e eletrônico é obrigatório para todos os imóveis rurais, e reúne informações sobre o perfil de propriedades e de áreas de proteção ambiental nos municípios, estados e em nível nacional.

A partir dele, é possível consultar informações sobre regularização ambiental no Sistema Nacional de Cadastro Ambiental Rural (SICAR), como a posse dos imóveis, área, geolocalização, cruzamentos com regiões de interesse social, de utilidade pública, preservação permanente, reserva legal, uso restrito, remanescente de vegetação nativa e de embargo.

Visualização de imóveis rurais cadastrados no SICAR.

SINTEGRA

O Sistema Integrado de Informações sobre Operações Interestaduais com Mercadorias e Serviços (SINTEGRA) é um sistema para processamento de dados e documentos fiscais que integra secretarias de fazenda de todos os estados. Se tem interesse em informações de caráter econômico, com esse sistema é possível consultar a situação cadastral e resumo de informações sobre os contribuintes do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS).

Página inicial do SINTEGRA.
Saiba mais sobre os potenciais de uso jornalístico das bases do dados do SINTEGRA e do CAR na aula ‘4.2 Identificando os donos de empresas e fazendas’.

TRASE.EARTH

A plataforma Trase compila dados globais de mapeamento da cadeia de produção, permitindo associar mercados consumidores internacionais ao desmatamento e impactos ambientais em regiões bem específicas.

Por meio de interfaces gráficas bem acessíveis, a ferramenta permite explorar as conexões entre regiões produtoras, empresas internacionais e a dinâmica global de importação e exportação de mercadorias. Além disso, há também uma seção dedicada ao setor financeiro, que permite visualizar suas relações com o desmatamento e outras atividades de impacto ambiental.

Esta fonte de dados também é apresentada no curso, na aula ‘4.4 Quem compra o produto do crime ambiental?’.

BNDES

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) atua junto a diversos programas do Governo Federal de fomento a empreendimentos do setor agropecuário, e também oferece linhas de crédito para produtores rurais e financiamento para programas do setor público e privado com caráter de desenvolvimento sustentável e preservação ambiental. As negociações acontecem sob o marco das diretrizes de Política Socioambiental do banco.

No portal de transparência da instituição, é possível acessar painéis interativos e bases de dados com estatísticas gerais e informações sobre licitações, operações de financiamentos, desembolsos de apoio a empresas, apoio à exportação, comercialização de equipamentos nacionais e série histórica de indicadores financeiros.

Página do portal de transparência do BNDES.

Piero Locatelli (Repórter Brasil) dá exemplos sobre como encontrar empreendimentos que obtiveram financiamento do BNDES usando os dados abertos sobre as operações na aula ‘4.5 Quem financia o desmatamento?’ do curso “Jornalismo de dados ambientais“.

Ibama

O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) é um dos principais órgãos federais vinculados ao Ministério do Meio Ambiente, responsável pelo policiamento ambiental e de gestão das atividades de fiscalização, licenciamento e monitoramento do uso dos recursos naturais.

É possível acessar as autuações ambientais sobre áreas embargadas e autos de infração ambiental, processos de licenciamento ambiental, e o portal de dados abertos que reúne 66 bases de dados.

Portal de dados abertos do Ibama.

No quarto módulo do curso “Jornalismo de dados ambientais” os jornalistas Piero Locatelli e André Campos (Repórter Brasil) dão dicas sobre como navegar pelos dados do IBAMA e identificar as empresas que lucram com a exploração do meio ambiente.

GOSTOU?
Se você gostou desse tutorial, considere conferir o curso completo ‘Jornalismo de dados para coberturas ambientais‘, disponibilizado gratuitamente, ou se juntar ao nosso programa de membresia, que oferece diversos benefícios especiais.

One thought on “Fontes de dados para investigações sobre meio ambiente”

  1. FIGUEROA MEDEIROS MOREIRA disse:

    Muito bom, utilidade pública fundamental.

Os comentários estão desabilitados.