* Texto por Maria Fernanda Souza, da WIDS Recife
Março mês da mulher, diversos debates e eventos acontecendo na cidade do Recife, mas nenhum deles em um bar. Isso mesmo! Terceira edição do Cerveja com Dados Recife veio para quebrar os padrões – saímos do bairro do Recife Antigo e fomos descobrir a cidade – e deixar as pessoas com um gostinho de quero mais.
O encontro ocorreu em uma noite de quinta-feira, 12 de março, no bar A Caverna. Recebemos quase 30 pessoas, sendo o público em sua maioria feminino e de diversas áreas de atuação. Diferente das edições anteriores (#2 e #1), nessa edição tivemos um tema: O uso de dados no combate à violência contra a mulher. E para isso nós da organização – WIDS Recife – buscamos mulheres de/em Recife que estivessem trabalhando com a temática e que talvez não tivessem tanta visibilidade como deveriam ter, chegamos então em 4 palestrantes.
Como violência contra a mulher não ocorre apenas de uma forma e não possui uma única solução ou abordagem de discussão, montamos nossa programação com palestras sobre: feminicídio, população carcerária, violência doméstica, inteligência artificial.
Organizamos o bar de uma forma que as pessoas ficassem próximas, o que ajudou no entrosamento, além de deixar o ambiente ainda mais descontraído. Iniciamos as apresentações com Ciara Carvalho, diretora-executiva do Jornal do Commercio e coordenadora do projeto #UmaPorUma. Sua fala nos mostrou como hoje os casos de feminicídio são subnotificados e muitas vezes deixados de lado. O público também percebeu como é importante cobrarmos às autoridades para que sejam tomadas medidas reais, e principalmente, que não devemos esquecer dessas mulheres que hoje não estão mais conosco. Sua apresentação pode ser vista aqui.
Em seguida, fomos falar sobre abolicionismo penal, mulheres no cárcere e a inadimplência do estado que dificulta a ressocialização de mães e mulheres. Você sabia que o estado de Pernambuco não disponibiliza dados sobre a sua população carcerária? E você sabia que coletivos que tentam fazer ações com detentas ou detentos, são submetidos a novas barreiras todos os dias? E que mães encarceradas têm seus direitos negados diariamente? Descobrimos isso tudo durante a fala descontraída de Juliana Trevas, uma das fundadoras do Coletivo Liberta Elas.
Continuando nossa noite, entre algumas cervejas e petiscos, Renata Albertim, CEO da Startup Mete a Colher, trouxe em sua apresentação a importância do dinheiro público (e o privado também) em ações de combate à violência contra a mulher. Com os cortes no caixa do governo, diversos sistemas de monitoramento estão sendo fechados ou trabalhando com capacidade reduzida… sem falar na dificuldade de acesso à esses dados. Além disso, ausência de investimento em startups, como a de Renata, vem levando o descontinuamento de soluções de acolhimento de vítimas e de conscientização da sociedade. Caso você queira ver, uma parte da apresentação dela está nesse link.
Para encerrar nossa noite, após uma rodada de cerveja por conta da organização, Ana Paula professora do Departamento de Computação da UFRPE e coordenadora do projeto HEAR, continuou no tema de ações de combate à violência contra a mulher. E, em sua fala, nos contou um pouco mais sobre os desafios que vem passando no HEAR. O grupo de pesquisa está desenvolvendo um aplicativo para celular capaz de identificar atos de violência doméstica em tempo real através do áudio, utilizando inteligência artificial. E essa tecnologia inovadora enfrenta vários empecilhos para conseguir apoio financeiro e parcerias governamentais.
Encerramos as falas das palestrantes com um sentimento de que precisamos: de mais transparência nos dados relacionados à violência, apoio das instituições públicas e privadas, mostrar mais a realidade da situação em que muitas mulheres estão sendo submetidas.
Para surpresa da gente que estava na organização, todas as apresentações tiveram várias perguntas e levantaram bastante interesse no público. Limitamos o tempo das perguntas, mas isso não desmotivou as pessoas que logo após o fim das apresentações se juntaram para trocar uma ideia. No total foram mais de 2 horas de troca de conhecimento, em plena quinta-feira à noite.
Saímos com o sentimento de que são iniciativas como essas e encontrar tantas mulheres engajadas na luta pelo combate à violência contra mulher, que nos fortalece para seguir desenvolvendo trabalhos de inclusão de mulheres na área de TI, visibilizar atuação das que já estão na área e combater ao machismo cotidiano. Estamos muito animadas para uma próxima edição.