Desenvolver pautas regionais baseadas em dados é extremamente desafiador. Mas, quando o jornalista consegue, estas reportagens podem transformar realidades. É por isso que a Escola de Dados acaba de lançar o curso Jornalismo de Dados para Coberturas Locais.

Nele, os participantes irão aprender como desenvolver esses pontos. As atividades começam no dia 24 de setembro, com conteúdos gravados, aulas ao vivo e fóruns de discussão. O curso Jornalismo de Dados para Coberturas Locais tem atividades previstas por cinco semanas, mas todo o conteúdo ficará disponível para os inscritos durante três meses. O curso trabalhará diretamente com algumas das mais relevantes bases de dados públicas do Brasil, usando somente ferramentas livres e gratuitas.

Com cinco módulos temáticos, abordando temas como periferias, eleições, dados da Covid-19, educação e Lei de Acesso à Informação (LAI), o curso foi planejado para que, mesmo aqueles participantes sem muitos conhecimentos prévio de trabalho com dados, terminem as atividades com recursos técnicos e confiança para realizar, sozinhos, robustos trabalhos de jornalismo de dados voltados para realidades locais.

E por que esse curso é tão importante?

A ausência de veículos jornalísticos na cobertura local e regional formam os chamados desertos de notícias. Segundo o Atlas da Notícia, iniciativa que mapeia a presença da imprensa no Brasil, 62% dos 5.570 municípios brasileiros não possuem imprensa local. Os desertos de notícia geralmente são municípios de pequeno porte, com uma mediana de 7,1 mil habitantes. Em outras palavras, significa dizer que 18% da população nacional não tem acesso a essas iniciativas.

Esta ausência é percebida principalmente em anos de eleições municipais, como ocorre em 2020, em que determinada população tem acesso insuficiente ou nulo às demandas de sua localidade. A situação torna-se crítica também em casos de saúde pública, como na pandemia de Covid-19.

Além disso, existem diversas razões que levam o jornalismo de dados em âmbito local a ser especialmente desafiador. Entre elas estão a escassez de dados locais, a falta de treinamento dos profissionais e, em última instância, as dificuldades de empreender e desenvolver um modelo de negócios para uma iniciativa independente. O novo curso da Escola de Dados busca preencher essas lacunas.

Ao final das cinco semanas, haverá um debate chamado de Inspirações, que trará líderes de iniciativas locais independentes para compartilhar suas experiências. As iniciativas convidadas para o debate são Data_Labe, focada na cobertura de territórios populares do Rio; Painel Jornalismo, que cobre a região do Alto Tietê, em São Paulo; e Agência Tatu de Jornalismo de Dados, projeto baseado em Alagoas. O evento será mediado por Natália Mazotte, co-fundadora da Escola de Dados e JSK Stanford fellow.

 

JORNALISMO DE DADOS LOCAL FOI TEMA DO ÚLTIMO CODA.BR

Na última Conferência de Jornalismo de Dados e Métodos Digitais, evento anual organizado pela Escola de Dados, o jornalismo de dados local foi tema de debates e painéis. Em 2019, o IV Coda.Br recebeu a mesa Jornalismo de daos em nível local, que você pode conferir na íntegra em vídeo, e contou também o comum workshop sobre o tema.

O workshop foi realizado por Jamile Santana, criadora do Painel Jornalismo, que também participa do novo curso da Escola de Dados. O foco da sua iniciativa é a região de Mogi das Cruzes (SP), foi um dos temas do IV Coda.BR, que ocorreu em 2019 em São Paulo. Em uma oficina, Santana compartilhou os desafios em tocar um empreendimento local. Os principais, segundo ela, são a falta de pessoal na redação, as limitadas opções de fontes e a dificuldade de acesso aos dados.

Jamile Santana foi uma das palestrantes do Coda.Br 2019 e abordou o jornalismo de dados no contexto local e regional

Durante a atividade, ela deu três conselhos para jornalistas interessados em coberturas locais baseadas em dados: descobrir fontes, criar o próprio banco de dados e usar a Lei de Acesso à Informação (LAI).

  • Descobrir fontes – para obter dados em nível local e regional, é preciso ficar atento à produção de informações por parte de órgãos públicos dos municípios, como Vigilância Epidemiológica (ex: violência contra a mulher), Conselho Tutelar (ex: dados sobre trabalho infantil), Conselho Municipal de Segurança, Instituto Médico Legal (IML) entre outros.
  • Criar o próprio banco de dados – se os dados que você precisa ainda não existem, uma possibilidade é você organizar uma planilha e estruturar as informações. Para cobrir o resgate de animais silvestres, a equipe do Painel Jornalismo criou um banco de dados alimentado a partir de informações fornecidas pelo veterinário responsável pelos resgates em Mogi das Cruzes. 
  • Consultar a LAI – além da vertente ativa da Lei de Acesso à Informação (LAI), uma opção para obter dados exclusivos (e com recorte temporal e espacial, por exemplo) é a consulta via Serviço de Informação ao Cidadão (SIC). Em uma de suas reportagens, Santana recorreu à LAI para obter informações sobre multas associadas aos veículos da Câmara de Vereadores de Mogi das Cruzes. Também vale ficar de olho em iniciativas como o Fiquem Sabendo, que produz conteúdo a partir de solicitações via LAI. 

Gostou? Para aprender mais sobre jornalismo de dados local, inscreva-se em nosso curso!

* As anotações sobre o Coda.Br contaram com a colaboração de Luan Rodrigues, Marília Gehrke, Juliana Pinho dos Santos e Raphaela Ribeiro.